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O caso Bruxo – suposto esquema de corrupção com a participação de árbitros – completa amanhã um ano de conhecimento público. Um capítulo mal redigido na história do futebol paranaense. Escândalo que muito dificilmente terá um desfecho judicial.

Na esfera esportiva, o processo de 1.454 páginas determinou a eliminação de seis pessoas do futebol e o afastamento de outras quatro. Houve também uma radical reformulação no comando do apito estadual.

Já pela Justiça Comum – com os indícios de estelionato, extorsão, apropriação indébita e formação de quadrilha – pouco foi apurado até agora. A Promotoria de Investigação Criminal (PIC) recebeu a denúncia no final de outubro. Após dez meses, nenhuma conclusão veio à tona.

"Nos entregaram uma notícia, em tese, de crime, num monte de papel... E vire-se. Então posso assegurar que isso não é prioridade. Temos de fazer o controle externo da polícia e combater o crime organizado. Enquanto a população estiver à mercê de problemas desse gênero, esse caso ficará em segundo plano", diz Paulo José Kessler, coordenador da PIC.

"São três volumes envolvendo essa suspeita de fraude nos resultados. Já começamos o trabalho de auditoria. Mas vou encaminhar o assunto novamente à Procuradoria Geral de Justiça. Não podemos cuidar disso nesse momento. Tenho aqui, por exemplo, o relato de um PM que torturou e matou. Não vou deixar de lado fatos desse tipo para cuidar de algo com menor gravidade", segue.

Todo esse imbróglio – prestes a ser engavetado sem a abertura da ação penal – começou de fato no dia 28 de agosto de 2005. Em reportagem veiculada no programa "Histórias do Esporte", da ESPN Brasil, o diretor Silvio Gubert (do Operário) admitiu pagar propina para os juízes de futebol em troca de ajuda nas partidas.

O passo seguinte foi o inquérito liderado pelo auditor Otacílio Sacerdote Filho, no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR). Mesmo sem provas materiais, o processo envolveu 13 figuras do esporte no possível conluio. Hoje, mesmo decepcionado com o rumo atual das averigüações, ele vê como positivo o resultado prático para os torcedores.

"Houve uma limpeza na arbitragem. Não temos mais denúncias de manipulação dos resultados", confia.

"Apenas a PIC teria competência para ir mais fundo nisso tudo, pois pode quebrar sigilos e chegar perto de outras provas. Porém, que eu saiba, ela está lenta, parada...", reclama.

Já o árbitro Evandro Rogério Roman, principal testemunha de acusação e responsável pelo depoimento que concluiu quais nomes seriam levados a julgamento, assegura que está plenamente satisfeito com o resultado alcançado até aqui. "Não há sede de vingança. Os culpados pagaram na medida das suas culpas", avalia.

A possível falta de prosseguimento do processo também serve como argumento para os punidos contra-atacarem – pois foram apenados com base em suspeitas apenas, sem confirmação dos atos ilegais levantados.

É o caso, por exemplo, de Antônio Salazar Moreno. Com base no artigo 238 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva ("Receber ou solicitar, para si ou para outrem, vantagem indevida..."), o empresário pegou uma suspensão de dois anos. Agora, diante da falta de comprovações, espera retornar aos gramados – além de cogitar ressarcimento por danos morais aos detratores.

"Vou contratar um advogado para recuperar tudo que gastei na minha defesa, o tempo impedido de apitar, assim como pelo desgaste causado na minha imagem", antecipa Moreno.

O juiz afastado dos gramados vem tirando de letra o momento de instabilidade. "Vendo celulares. Nesse período longe do futebol, abri os olhos para os meus negócios e estou em evolução. Tenho uma loja que se chama CPI – sigla para Competência, Procedência e Idoneidade", comemora.

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