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Rio – Desde 1.º de janeiro de 2001 até 11 de setembro passado, a CBF contabilizou 6.518 jogadores brasileiros transferidos para clubes dos cinco continentes. Nestes seis anos em que o Estatuto de Transferências da Fifa está em vigor para resguardar clubes e atletas, o futebol se tornou negócio mais atrativo para agentes e dirigentes do que para quem deveria estar protegido.

Em 2001, o francês Zinedine Zidane trocou o italiano Juventus pelo espanhol Real Madrid por inacreditáveis 67,1 milhões de euros. Foi também o ano em que uma das 736 transferências de jogadores brasileiros para o estrangeiro transformou um ex-dono de boate de Búzios (RJ) em novo rico, com a conivência de dirigentes.

O agente franco-argelino Logbi Henouda, mais conhecido no futebol como Franck He 0nouda, foi responsável pela operação em que o Girondins de Bordeaux, da Primeira Divisão francesa, pagou US$ 3,94 milhões a mais do que o Vasco declarou receber pela venda do apoiador Paulo Miranda.

O clube francês fez uma saída de caixa de US$ 5,94 milhões. Somente US$ 2 milhões entraram na conta corrente do brasileiro. A diferença de US$ 3,94 milhões passou por bancos da Suíça, dos Estados Unidos e do Uruguai, sem jamais ter sido registrada no Banco Central do Brasil ou na Receita Federal.

O negócio, que deixou de recolher o equivalente, em 2001, a US$ 709,2 mil (18%) em impostos no país, contrariou também o Código de Agentes e o Estatuto de Transferências da Fifa. A entidade máxima do futebol proíbe a participação de empresas e depósitos do clube comprador diretamente na conta de empresários.

A violação das regras começou quando o Vasco deu procuração para a venda de Paulo Miranda à empresa holandesa WFC, da qual os agentes Reinaldo Pitta e Alexandre Martins eram administradores.

Na França, os dirigentes que assinaram o pagamento do Bordeaux à WFC, através do banco suíço Dexabank, foram o presidente Jean-Louis Triaud e o então diretor esportivo Charles Camporo. Este último deixou, em fevereiro de 2006, o cargo que ocupou por 17 anos por causa deste e de outros negócios. Um mês depois, começou a ser investigado, com outras 13 pessoas, no dossiê de transações francesas suspeitas. Casado com uma brasileira, abriu um escritório de consultoria no Rio. Tem como contador Sérgio Rosmarinho, o mesmo de Henouda.

Henouda, em 2001 membro do Conselho da WFC, transita pelo Brasil desde 1996. Morou em Búzios, onde começou a vida como sócio de uma boate. Abriu escritório de representação no Rio e, desde 2006, reside em Porto Alegre. Jamais pagou imposto de renda como pessoa física no país. Em 2001, o franco-argelino recebeu comissões do Bordeaux, do Vasco e até 32% do que Paulo Miranda tinha direito.

Aos 33 anos, Paulo Miranda mantém a forma em Curitiba. Aguarda transferência para o exterior. Seu último clube foi o modesto Itumbiara (GO), no primeiro semestre, quando disputou o Campeonato Goiano.

"Um amigo comentou comigo [sobre o problema]. Foi surpresa. Franck foi a pessoa que me levou para a França. Fiquei amigo dele, que me deu toda a atenção. Uns falaram em US$ 3 milhões pelo negócio. Recebi, direto do Bordeaux, 15% em cima de US$ 3 milhões", disse o jogador, por telefone, sem entretanto esclarecer como assinou um recibo de US$ 940 mil, repassando US$ 300 mil ao agente.

Procurados pela reportagem, o Bordeaux e a Divisão Nacional de Controle e Gestão da França se recusaram a divulgar valores. Camporo e o presidente do Vasco não retornaram pedidos de esclarecimento.

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