Juntos, os 18 atletas das nove menores delegações da Olimpíada de 2012 equivaleriam a uma única seleção do torneio de futebol. Butão, Dominica, Gâmbia, Guiné Equatorial, Mauritânia, Nauru, São Tomé e Príncipe, Somália e Timor Leste conseguiram enviar, cada um, apenas dois atletas a Londres. Uma quantidade quase 30 vezes menor do que a da equipe americana, a maior da competição, com 539 esportistas.
Com exceção do Butão, país asiático que enviou uma atleta do tiro esportivo e uma no tiro com arco, e de Nauru, ilhota na Oceania que enviou um atleta no levantamento de peso e um no judô, nenhum desses países alcançou índice olímpico. Aproveitaram a brecha de que no atletismo todos os países têm o direito de enviar ao menos um representante masculino e um feminino. Regra que também vale para a natação, mas que não pode ser cumprida por essas nações por causa da precariedade.
"Somos duas ilhas, estamos rodeados de água, mas não temos uma piscina olímpica que nos permita trazer um nadador à Olimpíada. É um contraste", exemplifica o tamanho da dificuldade o chefe da missão olímpica de São Tomé e Princípe, Laureano Lima Ferreira, que em Londres lidera uma equipe de dois atletas: Lecabela Quaresma (100 m com barreira) e Christopher dos Santos Vaz (100 m rasos). "Nossa presença aqui é uma grande vitória, porque o governo não nos ajuda em nada", reforça Ferreira, explicando que a ex-colônia portuguesa, que se tornou independente em 1975, conta desde 1996 com o auxílio do Comitê Olímpico Internacional (COI) para ir aos Jogos.
No atletismo, apesar da existência de um estádio olímpico na capital, São Tomé, a dificuldade não é pouca. Vaz, que nasceu no Gabão, filho de são-tomeses que não conseguiram imigrar a Portugal, treina há dois anos no país em uma pista de barro de uma escola. "Não é o ideal, porque é difícil manter o equilíbrio no barro. Você pode escorregar na largada, o que aumenta o risco de lesão", explica o atleta de 24 anos, alfabetizado em francês e que ainda tem um pouco de dificuldade de se expressar em português.
Ano passado, Vaz sofreu uma lesão no joelho, decorrente das más condições da pista, que o deixou fora dos treinos por seis meses. Para piorar, as condições de recuperação também não eram adequadas. "Não temos fisioterapia de qualidade e nem alguns medicamentos. Se eu tivesse tratado a lesão na Europa, teria me curado muito mais rápido", avalia o rapaz, que, além da ajuda paterna que vem do Gabão, vive de biscates como pedreiro, recebendo o equivalente a R$ 50 por semana.
Lecabela, 22 anos, que mora em Portugal desde os cinco anos e só costuma ir a São Tomé para visitar parentes, treina em condições melhores. Mas nada que chegue perto da elite do esporte. No ano passado, ela deixou Lisboa com uma bolsa do Comitê Olímpico de São Tomé para treinar na cidade de Rouen, na França, recebendo 150 euros por mês (perto de R$ 375), mais casa e alimentação. "Cento e cinquenta euros na França não é nada. Você entra no supermercado e o dinheiro já acabou", frisa a atleta, que foi a porta-bandeira do país na cerimônia de abertura dos Jogos.
Apesar das dificuldades, ambos se dizem muito orgulhosos em representar São Tomé e Princípe na Olimpíada. A dupla sabe que não está em Londres para ganhar o objetivo é baixar as marcas pessoais. Mas, para o Rio-2016, Lecabela diz acreditar na vaga por mérito próprio. "Minha meta na carreira é ir aos Jogos classificada, para eu representar o país mais motivada", confia. Já Vaz prefere ser pragmático. "Treinando em São Tomé, não vou ter condições de me classificar", admite.
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