O discurso argentino para a estréia de hoje contra a Costa do Marfim (às 16 horas, de Brasília) é um dos mais otimistas das últimas Copas. Dirigentes afirmam que nunca viram um grupo tão feliz. Os próprios jogadores se elogiam. Vale tudo para tentar quebrar o jejum de 20 anos.
Mas por trás da confiança, a Argentina não esconde o trauma da eliminação precoce na primeira fase do último Mundial, quando ficou em terceiro no grupo de Suécia, Inglaterra e Nigéria. O pesadelo incomoda tanto que a comissão técnica chegou a pedir para que o termo Grupo da Morte não fosse repetido dessa vez pela torcida e imprensa.
O temor veio à tona logo após o sorteio dos grupos, em dezembro, nas palavras do assistente Hugo Tocalli. "Vamos torcer para que as pessoas na Argentina não comecem a falar sobre um Grupo da Morte, como fizeram em 2001. Precisamos de otimismo", disse, logo após ver Pelé pegar a bolinha da Holanda do Grupo C, do qual a Argentina é cabeça-de-chave.
Pedido impossível. Afinal, Argentina, Holanda, Sérvia e Montenegro e Costa do Marfim formam o grupo mais difícil.
Assim, o martírio terá de ser encarado onde começou: dentro de campo. Esse é um dos motivos que levou o técnico Jose Pekerman a reformular a equipe.
Ao assumir o cargo há dois anos, no lugar de Marcelo "Loco" Bielsa, Pekerman trouxe seus pupilos das vencedoras categorias de base. Riquelme, Tevez, Cambiasso, Mascherano, Heinze... De 2002, restaram apenas Sorín, Ayala, Aimar e Crespo que, por mais que tentem, não conseguem esquecer o fracasso de 2002.
"Espero que o que aconteceu no Japão, o trabalho inacabado, nos sirva de estímulo", afirmou o ex-cruzeirense Sorín, na semana passada.
Mas no Grupo C não são apenas os hermanos que buscam acabar com os fantasmas. As outras seleções também estarão com uma pressão acima do normal.
No caso da Holanda, as seqüelas ainda vêm da ausência da Copa da Coréia e do Japão. Depois do tropeço, o time holandês seguiu o exemplo argentino e sofreu uma reformulação com a chegada de Marco Van Basten ao comando há dois anos. O objetivo: tentar, enfim, conquistar o título que escapou por duas vezes (74 e 78).
Já Sérvia e Montenegro e Costa do Marfim sofrem com as questões políticas. No primeiro caso, a equipe que um dia já foi um dos países que formavam a Iugoslávia, outra vez fará sua despedida. Em maio, um plebiscito decidiu pela separação da Sérvia de Montenegro, o que deve ocorrer até o fim do ano.
E Costa do Marfim, que enfrenta problemas com a guerra civil entre o sul e norte do país, busca a paz interna no desempenho da seleção na Copa.
Em Hambrugo
ArgentinaAbbondanzieri; Burdisso, Ayala, Heinze e Sorín; Mascherano, Cambiasso, Rodríguez e Riquelme; Saviola e Crespo. Técnico: José Pekerman.
Costa do MarfimTizié; Eboué, Meité, Kolo Touré e Boka; Zokora, Yaya Touré, Keita e Kalou; Akalé e Drogba. Técnico: Henri Michel.
Estádio: AOL Arena. Horário: 16 horas (Brasília). Árbitro: Frank de Bleeckere (BEL).
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