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Sanxenxo, Espanha – Torben Grael é um mito da vela. Possui mais medalhas olímpicas (cinco, sendo duas de ouro) do que qualquer outro nos mares. Sua presença à frente do Brasil 1 na Volvo Ocean Race é o trunfo do maior projeto náutico brasileiro. Ele é capaz de tirar um algo mais do barco e dos competidores e fazer a diferença na principal regata volta ao mundo. Mas todo esse talento pode não valer de nada se ele não souber aonde ir. E o rumo está nas mãos de Adrienne Calahan. A franzina australiana de 41 anos é a navegadora do barco que marca a estréia do país nas competições oceânicas.

Velejadora, advogada, meteorologista e pianista voluntária na renomada na Orquestra de Câmara na Austrália nas poucas horas vagas, Adrienne é a única representante feminina na regata e virou celebridade em Sanxexo. Enquanto se concentra para o início da competição – a largada para a Cidade do Cabo (África) será no sábado, em Vigo –, ela pacientemente se dedica às inúmeras solicitações da impressa mundial. Em especial, claro, da Austrália, que lhe rendem alguns plantões em frente às câmeras. O fuso horário na sua terra natal é nove horas à frente da Espanha.

"A atenção que estou recebendo por ser a única mulher inscrita na competição é enorme. A cada três dias dou entrevistas para veículos australianos, que têm de me ligar em horas nem sempre muito boas", conta ela, que deve escrever uma coluna para um jornal australiano durante a regata.

Adrienne começou a velejar na adolescência e aos 17 anos comprou o seu primeiro barco, um Laser, com o dinheiro ganho como garçonete após a escola. Ela até tentou outros caminhos, mas mesmo dentro dos escritórios de advocacia não conseguia abandonar o iatismo.

"Já estava tão envolvida com esse mundo da vela que me especializei em lei marítima. Cuidei de casos interessantes, como naufrágios ou passageiros clandestinos", disse.

A escolha de Adrienne para integrar o Brasil 1 foi indicação do meteorologista Roger Badham, ou Clouds (nuvens em inglês, como é conhecido entre os velejadores), um dos mais respeitados no mundo a função. "Ele conhecia o Torben e meu nome surgiu em uma das conversas. Fui ao Brasil para uma entrevista e em pouco tempo já estava no time", relembrou a mestre em meteorologia.

Sua função na embarcação será analisar as previsões do tempo e os dados de performance do barco, juntar tudo e traçar a estratégia da equipe, em conjunto com o Torben.

Estar num barco com outros nove homens nos próximos oito meses não preocupa. "Em 1993, fiz parte do Heineken, um barco feminino que disputou a Whitbread (antigo nome da Volvo). Além disso, disputei a Sydney Hobart e um desafio Julio Verne só com mulheres. A única diferença para tripulações com homens é a força. Todas as outras desvantagens que atribuem à diferença de sexos é, na verdade, falta de experiência. Para falar a verdade, homens e mulheres se comportam do mesmo jeito quando estão cansados do mar, encharcados, com frio e morrendo de fome e ainda assim precisam se esforçar para velejar", compara ela, que terá como ícone da vaidade um protetor solar e um hidratante.

A jornalista viaja a convite do Brasil 1 e do ABN AMRO.

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