Há um mês Marquinhos Santos chegava ao Coritiba para seu primeiro trabalho como técnico de um time profissional. Neste período, trabalhou em seis jogos: com três vitórias, duas derrotas e um empate. Carrega a certeza de que terá muito trabalho nas dez últimas rodadas do Brasileiro para evitar o rebaixamento do Coritiba. O treinador já admitiu que, por ser o comandante mais jovem da Série A, teve de mostrar postura e pulso firme no vestiário do Coxa para manter o comando. Afinal, segundo ele mesmo, tem muito "macaco velho" entre os jogadores. Por iniciativa dele, o elenco, o mais inchado do campeonato, deve ser enxugado para que os treinamentos rendam mais. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Santos avaliou o trabalho e rebateu as críticas daqueles que pedem mais jovens no time titular: "Melhor do que eu ninguém conhece a base".
Qual a sua avaliação deste primeiro mês?
Já enxergamos uma evolução na questão de padrão de jogo sob o meu comando, do primeiro para o sexto jogo. Está começando a ter um padrão de jogo, uma evolução tática, está tendo mais a minha cara. É apenas um mês. Mas isso é gratificante. Eu sei que o futebol brasileiro quer resultados imediatos. Então esse primeiro momento de Coritiba, meu primeiro passo, é justamente trabalhar para manter o clube na Série A. A partir daí nós desenvolveremos um trabalho bem específico, gradativo, com uma evolução de jogo do time. Ter um futebol ofensivo, vistoso, mas também de resultado. É isso que eu quero.
Na sua opinião, o que mudou do time do Marcelo Oliveira para o seu?
Eu não estava acompanhando especificamente o Coritiba, eu via muito esporadicamente os jogos. Mas o professor Marcelo, como cada treinador, tem uma filosofia diferente de jogo. Eu sei que tem situações que melhoraram e outras que pioraram porque é natural nesta troca de comando, mas não posso nem mencionar quais foram. Na questão de mudanças de peças, teve o Lincoln, o Deivid e o Gil. Talvez tenha mudado a filosofia de jogo. Questão de marcar um pouco mais pressão no campo do adversário, procurar manter e ficar com a posse de bola. Agora nós passaremos a trabalhar melhor a jogada de bola parada.
Até pela sua trajetória, esperava-se que você aproveitasse mais os jovens da base. O Willian é o único titular que foi formado no clube (no último jogo, Thiago Primão e Denis também foram escalados). Por causa do momento não dá para aproveitar os meninos?
Tem de ter calma. Ninguém conhece a base do Coritiba melhor do que eu. É uma filosofia minha trabalhar com atletas novos, mas eu sei o momento de colocá-los também. Nós não podemos transferir uma pressão, uma responsabilidade de uma instituição como o Coritiba para eles. Quando fala-se em jovens, pensa-se logo em Neymar, em Lucas, o próprio Bernard, mas estes são atletas fora da realidade. Nós temos excelentes jogadores, mas não temos ninguém ainda fora de série.
Saindo um pouco do campo, como está sendo este primeiro mês como técnico?
Vou ser bem sincero: para mim é muito tranquilo. Claro que é muito mais prazeroso poder compartilhar este momento no time principal, tendo jogadores que entendem melhor, que tem uma melhor compreensão da filosofia de jogo, da parte tática, pela experiência, pela maturidade. Na base você tem de fazer inúmeras repetições de treinamentos. Então isso, profissionalmente, claro, é mais agradável. A pressão sim é maior. Mas eu sempre fui autocrítico. Eu me cobro muito mais do que a imprensa e a torcida me cobram.
Por que você preferiu que o seu pai, que trabalha como porteiro no Couto Pereira, não aparecesse neste momento?
Não é nem uma questão de blindagem. É a minha filosofia de vida, sou um pouco mais reservado mesmo. É uma situação que eu não vejo necessidade. Pode vir a interferir, nem para mim, mas para ele negativamente.
Pode haver uma cobrança nele que na verdade seria para você?
Exatamente. O meu pai é exemplo de vida, de caráter, eu o amo como amo a minha família, a minha esposa, minhas filhas. Sou o alvo das críticas e dos elogios e eles têm de estar blindados, têm de trabalhar tranquilamente para que possam dar sequência na vida. A função deles é completamente diferente da minha dentro do futebol.
Você chegou a fazer alguma simulação rodada a rodada para saber como o Coxa vai acabar o campeonato?
Não. Eu penso muito jogo a jogo. Eu juro que eu nunca entrei em um simulador desses. Tenho certeza de uma coisa: o trabalho firme traz resultados positivos e o trabalho intenso traz grande conquistas. E isso nós estamos fazendo no dia a dia. Não tenho dúvida de que vamos tirar o Coritiba desta situação.