Dirigente regionaliza trabalho no estado
Sai a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e entra em cena a Federação Paranaense da modalidade. Permanecem a estrutura, o escritório, o ginásio, os funcionários. Só o foco muda: de nacional para estadual. Vicélia Florenzano continua presidente, agora para fomentar a ginástica no Paraná. A posse será no dia 28 de fevereiro e ainda esse ano devem ser criados 20 núcleos de ginástica em várias cidades.
Vicélia Florenzano confessou ter atravessado várias fases no processo de adeus. Sofreu, chorou bastante e às vésperas de deixar a presidência da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) disse estar no estágio da euforia. Após 18 anos no comando, período revolucionário na modalidade, ela transferiu o posto para Maria Luciene Resende, na sexta-feira. "Crescemos, amadurecemos e nos tornamos indestrutíveis. Será impossível a ginástica regredir", garante a ex-presidente.
Seu último ato foi acompanhar a seletiva da nova seleção permanente feminina de ginástica artística, durante essa semana, em Curitiba. Recebeu as novas escolhidas para treinar até Londres-2012, parabenizou as remanescentes do último ciclo olímpico e homenageou a ginasta e amiga Daniele Hypólito.
"Ela será sempre a Pequena Notável, um exemplo, que soube cair, levantar e nunca reclamar", elogiou. E chorou mais uma vez.
Na posse de sua sucessora, entregou o relatório da sua gestão. A elaboração do documento foi como uma volta no tempo, até 1991, ao período de vacas magras.
Sem equipamentos, sem recursos, Vicélia e a ex-coordenadora Eliane Martins, seu braço direito durante todos esses anos, iam às escolas convidar as crianças para treinar ginástica. Mas antes de tudo precisavam explicar o que era a modalidade.
"Ninguém conhecia. Hoje discuto ginástica com o motorista do táxi. É um orgulho saber que ninguém fala mais cambota para os rolamentos e nem bambolê para o arco (usado na GR)", comemora.
Da posse à despedida, a Confederação partiu da penúria para um orçamento de R$ 7 milhões em 2009, organizou ou participou de 812 eventos, acumulou seis medalhas em Mundiais, 37 em Jogos Pan-Americanos e 69 em Copas do Mundo e saltou do 28º para o 5º lugar no ranking mundial por equipes em 2007.
Em visita ao Brasil mês passado para ministrar um curso de arbitragem, a ex-ginasta americana Nellie Kim, dona de cinco ouros e uma prata olímpica e contemporânea de Nadia Comaneci, afirmou: "Nunca em minha vida, nem como atleta nem como dirigente, vi um país crescer tanto em tão pouco tempo". A frase tornou-se um mantra para Vicélia e fez parte dos seus últimos pronunciamentos como presidente.
"Até os meus grandes inimigos reconhecem o êxito da ginástica", afirma ela. No topo dos desafetos aparece a ex-técnica da seleção permanente de ginástica rítmica, Bárbara Laffranchi.
"O episódio mais traumático e mais dramático de todos esses anos foi o problema envolvendo a Unopar (Londrina) e a Bárbara. Fui literalmente expulsa da Confederação, tirada daqui desse ginásio por um oficial de Justiça e fiquei afastava por 17 dias. Considerei uma violência", desabafa. Em 2005, Vicélia foi acusada de gestão temerária à frente da CBG e afastada cautelarmente da presidência. Nada foi comprovado.
O desgaste mais recente envolveu a Confederação e Jade Barbosa. O pai da atleta César Barbosa acusa a entidade de ter sido negligente com a contusão da filha ela sofre com lesão rara chamada necrose no capitato do punho direito.
"Tudo é muito incoerente. Se somos tão horríveis assim, como é que ele deixou a filha aqui por quatro anos? Nós a deixamos parada por dois meses antes da Olimpíada porque era um caso sério", afirma Vicélia. A família da atleta promete pleitear na Justiça o pagamento do tratamento. "Peguei todas essas coisas tristes e enterrei a sete palmos", brinca a dirigente.
Entre as coisas boas, o momento mais inesquecível está estampado em um banner no ginásio da CBG. Vicélia olha para as fotos de Daiane dos Santos e mostra o braço arrepiado ao lembrar da medalha de ouro no Mundial de Anaheim, nos Estados Unidos, em 2003.
"Parecia que eu ia ter um infarto. Foi a coisa mais linda, mais emocionante e mais forte de toda a minha vida. O público inteiro de pé aplaudindo uma ginasta brasileira, a nossa primeira campeã. Outros resultados depois vieram (como o bicampeonato de Diego Hipólito no solo, em 2005 e 2007), mas aquele momento foi incrível. E outras medalhas virão, tenho certeza", anuncia.
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