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Vina posa para foto com a moto que o ajudou a investir na carreira de lutador | Antonio Costa/ Gazeta do Povo
Vina posa para foto com a moto que o ajudou a investir na carreira de lutador| Foto: Antonio Costa/ Gazeta do Povo

Marcos Vinícius Pancini Borges, 32 anos, reúne, com orgulho, quatro características que, segundo ele, provocam o sentimento de desprezo na sociedade. As duas primeiras – vir de família pobre (nasceu e foi criado em uma favela do bairro Parolin, em Curitiba) e ter pouco estudo (trabalhou como guardador de carros e vendedor de doces a partir dos dez anos de idade) – foram herdadas. As outras duas – ser lutador e trabalhar como motoboy –, escolhas próprias.

"Já escutei de muita gente que seria um nada, um ninguém", lembra o paranaense, que viu sua vida mudar radicalmente no último sábado, após derrotar o conterrâneo Wagner Galeto por nocaute técnico no UFC 147, em Belo Horizonte.

Somando a premiação pela vitória e o bônus de melhor nocaute da noite, Vina, como é conhecido, recebeu US$ 85 mil – cerca de R$ 183 mil. Algo impensável para quem quatro meses antes fazia entregas de moto para ajudar a pagar as contas da casa que divide com a esposa, Luciane Tavares, e com os sogros em Colombo.

Ele só largou a profissão de risco, definitivamente, há um mês. Mesmo depois de deixar a casa do reality show The Ultimate Fighter – as gravações terminaram em março – o lutador ainda percorreu Curitiba e região sob duas rodas tendo o relógio como inimigo por mais algumas vezes.

Nos bons tempos de motoboy, Vina fazia 25 entregas diárias. Levava de tudo, desde tábuas de madeira, espumas de colchão, até, certa vez, um cachorro. "Acho que pizza foi a única coisa que não carreguei", conta o lutador, que traz no corpo cicatrizes decorrentes das mais de dez quedas. Por sorte, nenhuma com grande gravidade, nem mesmo quando ficou prensado entre dois caminhões em um acidente.

Os perigos das ruas, apesar da paixão por motocicletas, ultrapassam seus limites. "Era lutar ou trabalhar de moto", argumenta Vina, cujo pai, Marcos Antonio, morreu justamente em um acidente de trânsito – sua moto foi atingida por um carro desgovernado.

A escolha pelos ringues também é, obviamente, financeira. Ao contrário do início da carreira, quando chegou a ganhar R$ 50 em um combate amador, R$ 200 na estreia profissional, e por volta de R$ 1.000 quando seu nome ficou conhecido no cenário nacional das lutas, a perspectiva agora é outra. O menino criado pela mãe, que superou as estatísticas de um bairro violento, hoje pode sonhar em comprar a casa própria, depois um carro.

Mesmo sem um patrocínio sequer – o máximo de apoio que conseguiu é almoçar de graça em um restaurante – Vina contribui com a mesma sociedade que o discriminava. Em sua simples academia, no Alto Boqueirão, ensina artes marciais a crianças e adolescentes carentes.

"Se Deus me deu a oportunidade da luta, vou tentar fazer o mesmo para os outros. Já tirei, literalmente, uns quatro das drogas. Foi uma bênção", conta ele, que se emociona ao lembrar dos "filhos".

"Ajudar quando se tem é fácil. Quero ver dar o pouco que se tem para quem não tem nada. Prefiro dar o meu pouco e ver o sorriso deles", fecha o lutador, que não tem contrato, mas espera ser chamado novamente para competir no UFC.

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