Típico engarrafamento de fim de tarde curitibana na Avenida Visconde de Guarapuava| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Aeroporto sob suspense

O Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, vive um impasse quanto à preparação para a Copa do Mundo de 2014. Apesar de algumas obras já terem sido feitas – como o recapeamento da pista e a criação de mais vagas de estacionamento – e outras estarem próximas da conclusão, a principal intervenção ainda não saiu do papel: a ampliação do terminal de pas­sageiros.

A necessidade de aumentar a capacidade do aeroporto é visível, tanto nas estatísticas de movimentação quanto pelo cenário observado pelos próprios usuários. Nos últimos dez anos, o movimento de passageiros no Afonso Pena aumentou 106% e está prestes a atingir a marca de 7 milhões de viajantes ao ano – a capacidade máxima é de 7,8 milhões.

No ano passado, o aeroporto recebeu uma média de 580,7 mil passageiros por mês. A previsão do governo estadual é de que cerca de 160 mil turistas estrangeiros cheguem em Curitiba durante os dez dias da Copa – contingente que deve viajar prioritariamente de avião. Além deles, estão previstos outros 500 mil brasileiros.

O número crescente de viagens ano a ano e a expectativa de visitantes para a Copa faz com que a ampliação do terminal seja uma necessidade urgente. A obra, que estava prevista para começar este mês, ainda precisará passar por licitação para elaboração do projeto. As intervenções devem começar somente no final do primeiro semestre do ano que vem, segundo a Infraero. A intenção é dobrar a capacidade de passageiros movimentados por ano, aumentando o espaço da área disponível (de 45 mil m² para 62,4 mil m²) e o número de balcões de check-in (dos atuais 30 para 64).

Para especialistas e entidades da área ouvidos pela Gazeta do Povo, o cenário atual coloca em xeque a previsão apontada pela Infraero para a inauguração do "novo" terminal, em dezembro de 2013. E, para o doutor em Administração e diretor da Metamidia Pesquisas Romeu Rössler Telma, mesmo a ampliação não deve evitar, por si só, aglomerações e demora no atendimento dentro do aeroporto – problemas comuns hoje em dia, principalmente em feriados.

"Primeiro, são necessárias soluções operacionais, como a automação da descarga de bagagens. As aglomerações já começam aí, com as pessoas esperando as malas", avalia Telma.

Segundo o professor da Universidade Federal do Pa­raná (UFPR), outra questão a ser levada em consideração é o transporte dos turistas para os hotéis e o Centro de Curitiba. Mais ônibus executivos e informação clara e visível sobre essa opção de transporte são essenciais, defende Telma. "Hoje, o viajante tem de perguntar para três, quatro, pessoas para conseguir descobrir como chegar até os ônibus", lembra.

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Obras de ampliação do pátio de aeronaves no Afonso Pena
Fila para check-in no saguão do aeroporto
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Não será preciso esperar até 2014 para escutar as reclamações quanto ao trânsito engarrafado da capital paranaense. Hoje o problema já aflige milhares de motoristas, que enfrentam um tráfego cada vez mais lento nos horários de pico. Cortesia de uma frota que, em agosto, chegou a 1,35 milhão de veículos, entre automóveis, motos, caminhões e outros. A proporção é de 0,7 veículo por habitante, a mais alta entre as 12 cidades-sede da Copa (veja gráfico abaixo).

Não há estudos consolidados sobre quais serão os principais meios de locomoção utilizados pelos visitantes durante os dez dias do evento na capital. A própria estimativa de turistas é incerta – as previsões apontam mais de 600 mil.

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Seja quais forem os números exatos, espera-se que a movimentação de tal contingente não fique restrita à rota hotéis-Arena da Baixada. A possibilidade de o governo federal decretar feriados nos dias de jogos, prevista na Lei Geral da Copa, aliviaria um pouco as ruas. Mas, para o mestre em transportes e coordenador-adjunto do curso de Engenharia Civil da PUCPR, Ricardo Bertin, é preciso prever medidas para organizar o trânsito desde já. O engenheiro defende, por exemplo, a formação e capacitação de mais agentes de trânsito, capazes de agir in loco nas ruas e gerir o fluxo com rapidez.

"Curitiba já está implantando um sistema de monitoramento, mas só com semáforos não se organiza o trânsito. Em caso de acidentes, por exemplo, é preciso deslocar uma equipe rapidamente, para que o tráfego volte a fluir. E esse reforço extra de pessoal tem de ser previsto desde já, para poder ser treinado a tempo da Copa", avalia.

A necessidade de ampliação da frota de táxis também é um dos pontos em que há consenso entre urbanistas e entidades da área – até porque espera-se que boa parte dos turistas, em vez de usar o transporte público, opte por este modal. Desde a década de 1970, a cidade permanece com o mesmo número de carros: 2.252.

"Estamos pedindo mil novos táxis em Curitiba. Não é para o taxista, mas para a população da cidade, que vem pedindo a muito tempo", cobra o presidente do Sindicato dos Taxistas do Estado do Pa­raná (Sinditaxi), Abimael Mardegan. Além disso, a instituição cobra a liberação de todos os pontos e o não aumento das tarifas até a Copa.

Como medida alternativa aos táxis, Bertin propõe a organização de serviços de vans partindo direto dos hotéis – demanda que também precisa ser avaliada com antecedência junto ao setor hoteleiro.

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Além das obras de mobilidade urbana que fazem parte do PAC da Copa – muitas atrasadas ou nem iniciadas –, a prefeitura aposta na consolidação do Sistema Inte­grado de Mobilidade (Sim), que já está sendo colocado em prática e prevê ações como o uso de câmeras de circuito fechado de televisão para monitoramento do transporte coletivo e do trânsito em tempo real. Além ­disso, o município receberá R$ 1,6 milhão do Ministério do Turismo para melhorar a acessibilidade nas estações-tubo próximas a pontos turísticos. A requalificação da Rodoferroviária, em andamento desde junho deste ano, também é apontada como essencial para agilizar o fluxo dos ônibus que chegarão à cidade durante o evento. As prioridades, no entanto, podem mudar com o início da gestão do novo prefeito em janeiro.