Boatos
Tumulto fomentou inverdades
Se não bastasse a confusão real, já de grande proporção, uma série de boatos acabou marcando o jogo do Coritiba. A morte de um policial, shoppings fechando as portas mais cedo, apedrejamento da Arena e da casa do Cuca, etc. Ouviu-se tudo isso, mas nada foi verdade.
A imagem forte do policial Luiz Ricardo Gomide sendo carregado pelos colegas, sangrando e desacordado, no gramado do Couto Pereira, pode ter motivado a mais grave das inverdades. No entanto, ainda não há registro de morte na confusão após a partida, e Gomide passa bem.
"Não aconteceu nada. Foi tudo tranquilo", afirma Regiane Stival, esposa do treinador do Fluminense, que é nascido e reside em Curitiba. Até ontem , o falso apedrejamento era alimentado por dirigentes do clube carioca. No estádio do rival Atlético, também não foi verificado nenhum prejuízo.
Quanto aos shoppings, todos funcionaram em seus horários normais. A reportagem ouviu seguranças e as assessorias de imprensa de Estação, Mueller e Polloshop. Ninguém relatou qualquer tipo de problema. O único incidente foi uma confusão no tubo do Ligeirinho em frente ao Mueller, contida pela polícia militar.
Entrevista ao Paraná TV, enfermeira relata o drama de ter perdido três dedos por causa de uma bomba caseira
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"Não saiam de casa. Não saiam de casa. E quem estiver na rua, muito cuidado". Esse aviso aterrorizante ecoou por toda a Curitiba, domingo à noite, pelas ondas do rádio. O motivo foi a confusão depois do jogo entre Coritiba e Fluminense.
Tumulto generalizado que rendeu a internação de 20 feridos, sendo 7 policiais militares. O único caso de risco de morte é o de Anderson Moura, de 19 anos. Ele está em estado gravíssimo na UTI do Hospital Evangélico, em virtude de um tiro no crânio (não foi encontrado vestígios de metal no ferimento, o que indica a possibilidade de um disparo de bala de borracha).
Também no Evangélico, que recebeu nove pessoas, permanece em observação Tânia Regina da Silva, 43. Ela voltava para casa quando o ônibus em que estava foi atingido por uma bomba caseira. O artefato caiu em seu colo e provocou a amputação de três dedos da mão esquerda. "São monstros. Não sabem torcer nem se divertir. Só sabem acabar com a vida das pessoas. O que eu tenho com isso? Nem torcedora eu sou", desabafou em entrevista à RPC TV.
No Hospital Cajuru, 11 foram internados, 7 já receberam alta. Prosseguem sob cuidados médicos Ivan Roberson Wolanski (30), que levou um tiro de bala de borracha na clavícula direita, Murilo Rocha (18) e Napoleão Teixeira (32), os dois foram agredidos, e o policial militar Luiz Ricardo Gomide, vítima de uma pedrada no rosto.
Foram registrados incidentes nos terminais do Cabral, Boqueirão, Pinheirinho, Santa Cândida e Fazendinha. Acabaram danificados 34 ônibus, número superior ao registrado no último Atletiba (28). janelas laterais, parabrisas, vidros de portas, espelhos, balaústres e braçadeiras foram quebrados.
Em um primeiro momento, quem mais sofreu foram os próprios torcedores do Coxa e as pessoas que estavam próximas ao Couto Pereira. Para se ter uma ideia do caos que tomou conta da região, a Igreja Perpétuo Socorro, vizinha à praça esportiva, virou abrigo para "refugiados de guerra".
"Fomos acolhendo as pessoas, principalmente idosos e crianças. Mas depois tivemos de fechar tudo para conter uma invasão. Ouvíamos os gritos, tiros, uma tensão muito grande. Eu nem sabia mais o que estava falando na missa. Foi lamentável", relembra o padre Primo Aparecido Hipólito.
Um comércio nas proximidades também virou refúgio. "Nosso espaço é pequeno e ficou lotado. Um desespero total. Gente chorando, gritando, barulho de tiros, bombas, foi o terror. Tivemos de ficar por muito tempo presos até as coisas acalmarem um pouco", diz a proprietária Eliane Gimenes.
Sem ter absolutamente nenhuma relação com o jogo, o empresário Dionísio Wniarski teve o carro parcialmente destruído. "Quebraram todos os vidros, os espelhos, pisaram no capô, amassaram outras partes da lataria. Um prejuízo muito grande", afirma.
Partindo do Alto da Glória, o pesadelo se alastrou por diversos pontos de Curitiba. E como há muito tempo virou uma triste rotina, o transporte coletivo foi o que mais sofreu nas mãos dos marginais.
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