O comerciante Rui Reginaldo Gonçalves da Silva, de 36 anos, dono de um pequeno mercado no bairro Vila Lindóia, em Curitiba, viveu um pesadelo na sexta-feira à noite. O que era para ser um dia de festa, com a comemoração do título antecipado da Série B pelo Coritiba, time do coração dos Silva, quase terminou em tragédia. Rui narra a história sem esconder a indignação.
Quando deixava o Couto Pereira após a derrota por 3 a 2 para o Marília, ele se perdeu do sobrinho José Egas Henrique da Silva. Só se reencontraram seis horas e meia depois, no 8.º Distrito Policial.
Entre a saída do Alto da Glória e o reencontro emocionado, Henrique conta que apanhou muito da Polícia Militar. Chegou até a ficar desacordado por alguns instantes no Centro de Triagem da PM, localizado no estacionamento de fundos do estádio. Os vários hematomas nas costas, a marca das algemas nos pulsos, bastante inchados, e os 12 pontos na cabeça dão veracidade à versão do garoto de 23 anos.
"Vi que estava acontecendo um tumulto lá embaixo (na Rua Mauá) e preferi ficar no estádio. Mas a polícia não deixou. Do nada eles deram um tapa no meu copo de cerveja e me empurraram. Fui rolando pelos degraus da arquibancada", relembra ele, que chegou cedo ao Couto justamente para ficar na reta da Mauá, tradição dos Silva.
Ali a noite de Henrique começou a mudar. Enquanto rodava o estádio, algemado e acompanhado por PMs, o tio rezava para a história não ter o mesmo desfecho da tragédia que vitimou o estudante Bruno Strobel Coelho Santos, no mês passado. Filho do jornalista esportivo Vinícius Coelho, Bruno foi assassinado por vigias da empresa Centronic Segurança e Vigilância após um jogo do Coxa. "Era a única coisa que vinha à minha cabeça. Procurei desesperadamente o Henrique", conta.
No mesmo instante em que Rui perambulava de um lado para o outro em busca de informação do paradeiro do sobrinho, Henrique diz que perdeu a conta do número de cassetadas e chutes que levou. "Eles (policiais) me chamavam de vagabundo. Diziam que eu tinha mais é que apanhar mesmo", revela. "Me levaram para o 8.º Distrito, mas o delegado não me aceitou. Disse que eu estava muito ensangüentado. Para resolver o problema, eles me encaminharam para o Hospital do Trabalhador. Depois dos curativos e da limpeza, aí sim me aceitaram no 8.º Distrito. Logo em seguida meu tio me achou", narra ele.
Ontem, a reportagem entrou em contato com o 8.º Distrito. Mas os policiais que estavam de plantão na sexta-feira, únicos que poderiam dar informações sobre a passagem de Henrique por lá, já haviam deixado a delegacia.
O drama de Henrique é emblemático por causa da violência, mas não é o único caso. Vários coxas-brancas relataram à Gazeta do Povo supostas arbitrariedades cometidas pelos policiais militares que trabalharam na partida entre Coritiba e Marília.
O estudante Thiago Rodrigues Camilo, de 17 anos, foi atropelado por um carro da PM. "Eles passaram com tudo por cima da minha perna", diz, mostrando os machucados.
O técnico em informática Ricardo Alves de Lima, 28 anos, ganhou de presente lesões na perna e um ferimento na cabeça. "A cavalaria partiu com tudo para cima de nós."
Já a atendente de caixa Caroline Maia Corrêa, de 20 anos, terá de andar por alguns dias com um curativo no rosto. Atingida por um cassetete, ela levou cinco pontos na testa. "Eles avançaram com tudo", afirma ela, que pretende ingressar ainda nesta semana com uma ação contra o estado.
Trump barra novos projetos de energia eólica nos EUA e pode favorecer o Brasil
Brasileiro que venceu guerra no Congo se diz frustrado por soldados que morreram acreditando na ONU
Não há descanso para a censura imposta pelo STF
Tarcísio ganha influência em Brasília com Hugo Motta na presidência da Câmara
Deixe sua opinião