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É o índice de moradores dos seis bairros no entorno do estádio de Fortaleza que vivem em extrema pobreza, segundo estudos do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica (Ipece) com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As localidades de Passaré, Barroso, Dias Macedo, Cajazeiras, Boa Vista e Castelão concentram 88.231 moradores e o número de domicílios ligados à rede de esgoto não chega a 20%.
No acesso ao novo Castelão, o contraste salta aos olhos. Lá na frente, o imponente estádio que receberá três jogos da Copa das Confederações de 2013 e seis da Copa do Mundo de 2014. Na margem da Avenida Alberto Craveiro, construções pobres emendadas umas às outras, um comércio humilde e moradores completamente distantes dos eventos da Fifa tanto na falta de esperança de ter condições financeiras para comprar um ingresso como na falta de perspectivas de ganhar algo com o evento apesar de tudo acontecer ali tão perto.
"Para a gente, acho que vai continuar tudo a mesma coisa. Vai ter só uma revolução temporária, depois a vida segue igual", diz Claubenir Silva, que acabou de transformar seu bar a poucos metros do estádio em um restaurante. Nada a ver com a Copa. O plano é vender refeições para quem mora ou trabalha por perto, como deixa claro o preço do almoço: R$ 4,90.
"Nosso dia a dia não depende do estádio. Estão fazendo obras, como o alargamento das ruas, mas com o passar do tempo vai ficar tudo igual", concorda Maria Solange de Araújo, que na mesma construção onde mora com a família toca um bar meio escondido, sem letreiro nem nada, o último comércio antes da esquina do Castelão.
Os dois não abriram as portas no dia 16 de dezembro, data da inauguração da nova arena. "Já trabalho a semana inteira. Abrir no domingo também não dá...", justifica Claubenir. Também não perceberam a passagem da comitiva da presidente Dilma Rousseff. Ele estava no estádio, esperando a cerimônia de abertura e o show do cantor Fagner incomodado com a falta de conforto nas imediações do palco montado de lado de fora, não teve paciência para esperar e foi embora. Ela nem com a festa gratuita se motivou. "Fiquei descansando em casa", conta.
Vivendo e trabalhando de forma simples, os dois não se preocupam com a informação de que a Lei Geral da Copa, a pedido da Fifa, cria uma área de restrição que abrange seus estabelecimentos. Não poderão, por exemplo, fazer propaganda de empresas concorrentes de patrocinadores da Copa das Confederações e da Copa do Mundo. "Nem tenho isso mesmo. A única coisa que coloquei aqui foi essa faixa", fala Claubenir, apontando para a inscrição "Promoção de inauguração: almoço a R$ 4,90".
O comerciante só ficou preocupado com o rumor de que não poderia abrir nos dias de jogos. Com o esclarecimento de que poderá trabalhar normalmente, ficou mais tranquilo. "Aí tudo bem, senão teriam de nos compensar".
Tanto ele como Maria Solange não planejam ver jogos das seleções que passarão pelo Castelão. "Vai ser muito caro", refutam de imediato.
A conversa com o pessoal da região só muda quando o assunto são os times locais, algo bem mais próximo da rotina deles. Então o discurso inflama. Como na entrada do Castelão no dia da abertura. "Ficou bonito é pro meu Vozão dar uma coça no Fortaleza", falava alto um senhor vestido com a camisa 10 alvinegra no meio da aglomeração. "É nada, isso aqui foi feito é pro Tricolor surrar o Ceará", respondia um rapaz de azul, vermelho e branco alguns metros ao lado.