Natural de Ijuí, no Rio Grande do Sul, no início da carreira ele era lateral-direito e conhecido por Paulo César. Hoje é Paulo Baier, meia e artilheiro do Furacão no Brasileiro, com oito gols. Jogador mais experiente do elenco atleticano, com 36 anos, ele contou em entrevista à Gazeta do Povo como cobra dos mais novos e o que espera do futuro, além de como será enfrentar no sábado o Grêmio, time da família e concorrente direto pela vaga na Libertadores.
Gazeta do Povo: Você começou a carreira em 1995 no São Luiz, na sua cidade natal. É verdade que às vezes você não tinha nem como chegar ao clube?
Paulo Baier:É verdade, sofri muito porque eu morava a 28 quilômetros do clube, no interior. As vezes o meu pai não tinha dinheiro para o ônibus, eu pegava carona. Tem uma cidade chamada Juícaba do lado, que eu acho que metade da cidade eu já peguei carona. Por isso que é bacana quando eu volto para lá, tem este carinho, saber do sacrifício que foi, da dificuldade que foi. Só eles sabem disso e a gente valoriza também.
As suas filhas nunca passarão por estas dificuldades. Você procura orientá-las para que valorizem o que tem?
Isto é fundamental. Tanto eu como a minha esposa procuramos orientar para elas a dificuldade que é você querer as coisas e não conseguir. Hoje graças a Deus, tanto elas não tem dificuldades, nem meus pais, por causa do futebol. Mas procuro orientar da melhor maneira possível para não se envolver em qualquer coisa errada.
Como você virou lateral-direito no início da carreira?
Na realidade quando eu jogava nas categorias de base eu era meia direita. Mas no profissional só tinha um lateral, para jogar nos coletivos,e eu comecei a jogar de lateral. Depois, quando eu voltei para o Goiás, na segunda vez, já voltei como meia.
Você arrepende-se de não ter seguido a carreira desde o começo como meia? Não poderia ter ganho mais?
"Não sei, de repente podia nem ter vingado no futebol. Acho que não me arrependo de nada, procurei sempre fazer aquilo que era o melhor. Eu sempre fui um cara correto. Então é o destino. Acho que foi o destino mesmo.
E Como você passou de Paulo César para Paulo Baier?
Quando eu cheguei no Criciúma, eu me lembro muito bem que tinha outro Paulo César, um meia. E aí botaram Paulo César Baier, mas ficou muito comprido. Nisto ficou Paulo Baier e pegou. Desandei a começar a fazer gols, as coisas começaram a se destacar e foi ao natural.
É verdade que você chegou apensa em largar o futebol em 2002?
É verdade, mas eu tive uma oportunidade no Pelotas, na Sul-Minas, e resgatei de novo todo um trabalho. Eu tinha jogado no Atlético Mineiro, Botafogo, Vasco, todos times grandes. Depois do Atlético Mineiro, eu fiquei seis meses parado, briguei com empresário. Então, eu estava lá no auge, no topo, e depois cai lá embaixo, não desprezando o Pelotas. Logicamente eu tenho que agradecer o Pelotas pela oportunidade que me deu e comecei de novo, Pelotas, Criciúma, Goiás, Palmeiras até chegar aqui, onde hoje eu estou muito satisfeito.
Mas foi em Santa Catarina que você apareceu nacionalmente?
Com o Criciúma eu fui campeão pela Série B. Se lembrarem bem, eu fiz três gols na final contra o Fortaleza, nós ganhamos de 4 a 1. Foi uma coisa bacana. De Paulo César, jogador mais ou menos, virou Paulo Baier, jogador um pouquinho melhor.
E a passagem pelo Palmeiras? É verdade que você saiu por falta de pagamento?
No Palmeiras muita gente não entende a minha saída. Mas na realidade foram quatro meses de salário atrasado. E eu tinha luvas para receber ainda. Então eram quase seis meses sem receber dinheiro. Imagina como era a dificuldade. Fui tentar fazer um acordo e eles falaram que não tinha. Então eu junto com o Neco, nós sentamos com o presidente, conversamos e procuramos sair. O jogador tem as suas contas para pagar, tem as suas necessidades, de repente conta com aquele dinheiro para pagar uma prestação, alguma coisa assim e as vezes não tem. Esta dificuldade é grande para o atleta.
Outro incidente ocorrido com você foi no Sport, com uma briga com o treinador da época. Se você é tranquilo como aparenta, como isso ocorreu?
Isto é passado, já foi. Provavelmente a única coisa que eu tive problema foi com ele. Mas já foi, faz parte do passado, não vale a pena a gente comentar.
Existe preconceito no futebol no que diz respeito à idade do jogador?
"Eu acho que tinha. Agora as coisas até mudaram em relação a estes últimos anos.Pegar aí o Pet, o Ramon, eu, Harley do Goiás, Rogério, Marcão. São jogadores que de repente dão equilíbrio dentro da equipe. Isso melhorou bastante em relação aos últimos anos porque os clubes precisam de jogadores que se identificam, que tenham identidade dentro do clube. Isso é importante para o clube, para a torcida e para os próprios jogadores Acho que isso é fundamental.
Os mais novos no Atlético tiram sarro com a tua idade?
Sim, chamam de "vovô garoto",mas é coisa de carinho, de brincadeira. Uma coisa que é bacana e a gente compreende. Até mesmo os comentaristas , os radialistasfalam: o experiente, o veterano. Não posso ligar para isso. Enquanto você está dando resultado para o clube, eu acho que este negócio de idade não interfere em nada. Importante mesmo é você estar bem, fazendo aquilo que você gosta, motivado e dando retorno ao clube.
Como você conseguiu superar a barreira do rendimento físico?
Graças a Deus eu tenho uma genética bacana em relação a parte física. A única coisa que a gente trabalha, principalmente aqui com o Riva [Carli, preparador físico], é em relação a força. É muita musculação, muito trabalho de velocidade. Em relação a gás, vamos falar assim, eu sou bem. Não tenho problema nenhum. Jogo os 90 minutos sem problemas. Mas logicamente é a força que a gente vem trabalhando e está dando certo.
Você vê a mesma dedicação que você tem nos treinos nos mais jovens?
Depende. Às vezes eu cobro muitoporque em relação a um menino de 18, 20 anos, que não tem esta bagagem, para ficar um pouquinho mais treinando finalização, cruzamento, que precisa se aperfeiçoar.Eu vejo muitos meninos que, acabou o treino, vão embora. E é isso que falta para muitos jogadores que estão começando agora: querer ficar mais um pouco e aperfeiçoar aquele trabalho. Eu cobro principalmente de alguns que tem condições de fazer isso, de ficar um pouco mais de tempo depois do treino, porque chega na hora do jogo ele vai se aperfeiçoar. Acho que fica mais fácil.
As vezes a gente cobra um pouquinho disso Você acredita que alguns jovens são mais displicentes?
"Bem mais displicentes. Acho que precisa ter mais profissionalismo em relação à isso e estas cobranças tem que existir. No meu tempo sempre existiu isso.Lógico, eu estou com 36, não posso me desgastar muito. Mas eu sempre fui um cara que gosta de treinar. Dificilmente eu fico fora de um treino. Tanto que os caras falaram: "po Paulo, você fez dois gols no último jogo. Bota o chinelo e faz só quinta-feira". Não, eu estava lá treinando físico na terça-feira de manhã. Isto é questão de ser profissional.
Como você descobriu o talento para cobrar faltas? Sempre treinou isso?
"No início não foi tanto. Mas eu sempre passei pelos clubes que sempre tinham um batedor na minha frente. Então logicamente não aparecia tanto, porque tem o cara que era o batedor. Mas fui treinando junto, aperfeiçoando e foi isso. Só o treinamento que foi aperfeiçoando. Hoje tenho a bola parada, em relação a escanteio e faltas, que são perigosas para os adversários.
Como está a sua renovação com o Atlético para 2011?
Não sei. O presidente que tem que resolver isso aí, se vou ficar ou não. Já tivemos uma conversa sim. Aí agora o Neco, que é o meu procurador, deve entrar em contato. Mas eu estou bem focado nos jogos. Então nem me envolvo com isso, nem procuro me envolver. Daqui para frente fica a cargo do presidente, da diretoria, junto com o Neco, que possam resolver. Logicamente eu quero continuar, isto até porque não tem necessidade nenhuma de sair. Hoje eu tenho uma identidade aqui no clube, em termos de torcida. Então seria muito bacana continuar.
Você pretende ser treinador quando encerrar a carreira?
Não. Eu não quero virar empresário nem treinador. Eu quero, depois que eu parar, cuidar das minhas coisas. Chegar no final de semana, pegar a minha família e ir para a praia, viajar. Na realidade todo mundo acha que jogador vive bem. Mas em relação à família a gente não vive. O nosso domingo é sempre segunda-feira. É bem complicado, bem difícil. Eu pretendo, quando eu parar, viver um pouco mais junto com as minhas filhas, com a minha esposa, minha família em geral, para curtir um pouco.
Você tem duas filhas, a Paola, de 8 anos, e a Júlia, de 3. Elas ficam orgulhosas de ter um pai jogador?
A mais velha, no caso a Paola, ela fica grandiosa. Todas as amigas descobriram que o pai dela joga no Atlético. Mas tranquilo, bacana. Eu sempre fui um cara de tratar bem. Eu tenho uma intimidade em relação às crianças, todo mundo parece que me vê como um ídolo. A gente tem que estar sempre atento a isso e tem que dar um carinho especial.
Você é casado há 14 anos. Qual é a importância da sua esposa na sua carreira?
A Fernanda foi sempre uma pessoa que me ajudou porque começamos juntos desde a época do São Luíz de Juí. Nunca nos separamos, sempre dividíamos as coisas juntos. E logicamente, tanto no momento ruim como no momento bom, sempre ela esteve junto.
O que você gosta de fazer quando está de folga?
Eu gosto de pescar, tomar uma cervejinha bem tranquilo, fazer meu churrasquinho. Quer me ver de bom humor é levantar cedo, ir para uma fazenda, curtir, sem stress.
Qual seu ritmo musical preferido?
Eu gosto de sertanejo, curto bastante. Até por ter morado muito tempo em Goiânia e logicamente ter amizade com vários cantores sertanejos. Realmente eu curto música sertaneja.
Estilo de filmes prediletos?
Eu gosto mais de suspense, ação. Eu não sou muito de ver filme, mas às vezes eu estou na concentração, para passar o tempo, eu alugo alguns e vejo. Mas eu não curto muito. Eu gosto mais de uma novela, eu sou meio noveleiro. Acho que eu aprendi muito com o Edmundo, ele é deste jeito.Na época de Ijuí, você gostava de salame, cuca e melado.
São seus pratos prediletos ainda?
Isto era no tempo das vacas magras. Agora já vamos para uma picanha, uma costela. Sabe que na verdade eu sou um cara que não ligo muito para comida. O que fizer para mim está ótimo. Se fizer um arroz com feijão, ovo, já era também, sem problemas.
Qual é a importância do seu avô, Alberto Baier?
Meu avô tem 88 anos, realmente é uma figuraça. Um cara que me ajudou bastante.Eu tenho uma consideração muito grande por ele porque nos momentos mais difíceis, quando eu comecei, ele sempre esteve lá. As vezes eu precisava de um dinheirinho para dar uma saída, ele me dava a chave do fuscão e botava cinco reais na minha mão, escondido da minha vó. Então tem vários fatores que a gente lembra.
Ele é um exemplo de longevidade para você? Espera chegar aos 88 também?
Eu espero, mas não é fácil. 88 anos, trabalhando ainda. Ele pega a enxadinha dele, para passar o tempo. A gente vê a dificuldade que ele tem, hoje não tem mais aquela força, a gente está ajudando. Mas é um exemplo vivo para mim. É um dos melhores exemplos.
>Toda a sua família mora na fazenda em Ijuí?
O meu irmão mora agora em um apartamento que eu dei para ele, o Éder. Ele quis sair e agora está morando na cidade. O meu pai e a minha mãe moram na fazenda junto com o meu vô e o Lucas, que é um menino que é adotado por nós, que é o irmão da minha esposa. Ele foi há dois anos lá e viu galinha, pato, cavalo, gostou de lá. A mãe dele tem que visitar ele. Agora virou nosso.
A sua família inteira é gremista?
Exceto meu irmão. Só o Éder que virou colorado, não sei como, acho que foi por influência dos primos, que enfrentavam a gente no futebol quando criança. Culpa do meu primo Gilmar.
Como é enfrentar o time da família?
É que tem este negócio, então eu evito falar porque teve um caso em Goiás, em 2008, quando o São Paulo ia ser campeão. Falaram um monte de coisa, que o Paulo vai dar a vitória para o Grêmio, vai dar para o pai. Nada disso. Tanto que eu liguei para o meu pai e evitei dar entrevista porque é uma coisa que não tem nada a ver. Como é que eu vou dar a vitória para o Grêmio? Não tenho nada a ver com o Grêmio, o Grêmio nunca fez uma proposta para mim, nunca me valorizou quando eu estava disponível.
Mas você era gremista?
Eu sempre fui gremista quando era criança. Mas com passar do tempo você vira profissional, esquece o negócio de Grêmio, Inter, torcedor. Hoje eu sou torcedor do Atlético Paranaense, tanto que eu tenho cadeira na Arena, sou associado no Atlético. As pessoas mudam muito em relação ao fato. Então eu procurei até evitar falar para não acontecer mais isso, principalmente neste jogo.
Para quem sua família irá torcer?
Vão torcer para o Atlético, sem dúvida nenhuma. Com certeza.
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