Apesar da imprudência ao volante ser uma das principais causas de óbitos — de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 1,3 milhões de pessoas morrem por causa do trânsito no mundo todos os anos – o número de vítimas fatais vêm diminuindo: no feriado de Corpus Christi deste ano, por exemplo, o porcentual de mortes nas estradas brasileiras foi 37% menor em relação ao mesmo feriado em 2016 (foram 74, 118 no ano passado). Muitos desses casos, que poderiam ter acabado em fatalidade, são evitados graças à resposta rápida das equipes que prestam Atendimento pré-hospitalar (APH), e da integração entre Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Corpo de Bombeiros e forças de segurança.
Os procedimentos corretos que o APH realiza em casos de acidentes na estrada (imobilização, técnicas adequadas de socorro, corte ou expansão para desencarcerar a vítima quando presa às ferragens, transporte apropriado e atendimento emergencial ainda em deslocamento em situações mais graves) permitem que a pessoa chegue em uma condição mais adequada ao hospital, facilitando o atendimento médico. Além disso, o tempo de internação e de uso de medicamentos costuma ser menor, o que gera menos sobrecarga e custos para o Sistema único de Saúde (SUS). “A importância do atendimento pré-hospitalar é enorme. Primeiro, porque ter uma equipe eficiente em abordar esse paciente no local do acidente faz com que o índice de complicações seja muito menor. Segundo, porque a ação é quase imediata”, define o médico Winston Bastos, ex-diretor-clínico da Santa Casa de Ponta Grossa.
Com anos de experiência na área, Bastos conta que a evolução e profissionalização do APH permitiu um índice maior de sobrevivência em casos graves. “Antes disso, os pacientes chegavam ao hospital em estado muito grave. Eram conduzidos por ‘curiosos’: pessoas que passavam no local do acidente e colocavam as vítimas nos brancos traseiros dos automóveis para socorrer. Só que, muitas vezes, os casos eram agravados porque não recebiam um atendimento profissional. Estado de choque, insuficiência respiratória e outros agravantes eram comuns antes disso”.
Fora os desafios diários das equipes de APH, que convivem com a pressão do tempo e precisam ter sangue frio para lidar com ocorrências que emocionam, os profissionais necessitam de uma boa estrutura e capacitação para trabalhar e oferecer a resposta rápida. Na CCR Rodonorte, por exemplo, a área, que têm 82 funcionários, se qualifica constantemente ao longo dos últimos 20 anos. Atualmente, são nove ambulâncias funcionando 24 horas por dia – cada uma acompanhada de um técnico de enfermagem e motorista – e mais duas viaturas médicas (veículos menores, que possuem mais agilidade). Só em 2016, foram feitos 4.637 atendimentos pré-hospitalares. Na média, há uma ocorrência a cada sete minutos e, a cada duas horas, uma ambulância é acionada para prestar atendimento.
A tecnologia é outra peça chave para permitir agilidade também na localização das ocorrências. Enquanto em décadas passadas a ferramenta eram os mapas tradicionais, hoje, um dos principais meios de detecção é o monitoramento das rodovias, por câmeras e agentes, o que facilita a identificação.
Do mesmo modo, profissionais altamente capacitados têm papel central na segurança dos usuários: o treinamento para operações de salvamento da APH inclui técnicas como salvamento em altura e terrestre e combate a incêndio. Além disso, os profissionais são preparados para atuar em situações como grandes ocorrências, por meio de simulações que incluem casos de batidas frontais e laterais, resgate de vítimas, salvamento em ribanceiras, entre outros tipos de ações.
Segundos preciosos
De acordo com dados da Associação Brasileira de Resgate e Salvamento (Abres), 50% das mortes que ocorrem no trânsito acontecem nos primeiros segundos ou minutos. Já 30% morrem nos primeiros minutos ou horas. “Nestes casos, a rapidez do resgate e do atendimento pré-hospitalar é que faz a diferença”, disse o médico Edison Teixeira, presidente da Abres, em entrevista à Gazeta do Povo.
Na avaliação do médico Miguel Martins, coordenador do Atendimento Pré-Hospitalar da CCR Rodonorte, os acidentes que mais exigem cuidados são os que envolvem maior número de vítimas. Geralmente, são os de ônibus. “Normalmente, temos o apoio do Corpo de Bombeiros e do Samu da região. Quando há uma ocorrência grande, eles mandam apoio para nós. Ou quando acontece na cidade, somos nós que oferecemos ajuda”, conta.
Trabalhar com a vida diariamente é tarefa que mexe com o emocional. Em casos envolvendo gestação, a concessionária acaba sendo mais que um serviço: faz parte das lembranças dos envolvidos pelo resto da vida. “Tem uma ambulância nossa que já fez oito partos”, relembra Martins, de um total de 16 casos que já aconteceram na rodovia. “Um caso que me marcou muito foi o de uma criança que nasceu ali e, 10 anos depois, voltou para conhecer quem fez o parto. A gente faz a diferença ali”, acredita.