As famosas supertrees de Cingapura: cidade teve planejamento urbano refeito e reformulado várias vezes desde a década de 1970.| Foto: Roslan RahmanAFP

Pouca qualidade de vida – uma reclamação recorrente, sobretudo nas grandes cidades – pode ser consequência direta do planejamento urbano, que afeta desde o transporte até o saneamento básico, ocasionando prejuízos sociais e colapso nos sistemas, que não conseguem atender efetivamente a sua população.

“Uma cidade planejada facilita em tudo a vida de uma pessoa. Faz com que, por exemplo, não seja necessário se locomover tanto, porque você consegue atender todas as suas necessidades no seu bairro. Mas é necessário dinheiro para investir. O que é preciso entender é que, depois, tudo vai custar mais barato para a administração municipal por causa da organização, como a canalização de água e esgoto e o sistema de retirada de lixo”, explica a arquiteta Flávia Bonet. 

A vida não é perfeita, mas é facilitada, nessas 10 cidades planejadas do mundo – a icônica Brasília é uma delas. Conheça outros exemplos: 

Dubai 

 

Com relevo plano e desértico, a maior cidade dos Emirados Árabes Unidos investiu na grandiosidade arquitetônica, além de conseguir transformar áreas de mar em terra, construindo extensões artificiais da linha costeira, considerada a maior operação planetária de recuperação de terra ao mar. A arquitetura da cidade e os arranha-céus como o Burj Khalifa, considerado o mais alto do mundo (com 828 metros e 160 andares) são por si só uma atração turística, segmento em qual o governo tem investido fortemente. A arquiteta Flávia Bonet também lembra que a cidade conseguiu contornar até o calor (a sensação térmica, dependendo do período, pode chegar a 57ºC). Há um amplo sistema de climatização na cidade, inclusive no transporte coletivo. “Até nos pontos de ônibus tem ar-condicionado”, diz. 

Abu Dhabi 

A capital dos Emirados Árabes segue a mesma linha de Dubai, com investimentos grandiosos e alta tecnologia – junto aos edifícios futurísticos, foram preservados os mais antigos e pequenas mesquitas. A avenida costeira que margeia a cidade (Abu Dhabi Corniche) hospeda jardins, fontes e áreas verdes entre os modernos prédios. Extensos espaços culturais e quilômetros de ciclovia e ruas que permitem passeios de bicicleta ou a pé de forma segura são outra característica da cidade. 

Cingapura 

 

Apesar do território altamente urbanizado e de, na primeira impressão, parecer um lugar futurista, a cidade-estado do Sudeste Asiático tem mais da metade de seu território coberto por vegetação. “É um exemplo de reformulação recente que deu certo. Cingapura não foi uma cidade que nasceu planejada, como Brasília, mas teve o planejamento urbano refeito, com diversas revisões desde a década de 1970”, conta Flávia. Em 2014, o plano diretor passou por nova reformulação, focando em tópicos como habitação e espaços públicos. Os locais de convivência, como o parque Jardins da Baía, com suas supertrees (estruturas metálicas coloridas de 25 a 50 metros de altura, cujo formato é semelhante a uma árvore) auxiliam na recreação e na identificação do morador com a cidade. O sistema de transporte, feito por metrôs e ônibus, é invejável e cada vez mais ampliado para permitir que o morador se locomova para todos os pontos da cidade. 

Camberra 

A incorporação significativa de áreas de vegetação natural rendeu a Camberra, capital da Austrália, o apelido de bush capital (cidade-arbusto). A cidade, assim como Brasília, foi construída “do zero”: em 1908, o local para a construção foi escolhido. Tudo para acabar com a rivalidade entre Sydney e Melbourne, que queriam abrigar a capital federal. Embora seja o centro do poder do país, a cidade é cercada por eucaliptos e terrenos montanhosos e oferece aos moradores e turistas muitos parques e jardins. Esportes ao ar livre (como rapel, voo livre e parapente) são outra atração de Camberra. 

Washington D.C. 

 

A construção da capital e distrito federal dos Estados Unidos começou em 1792, logo após a independência do país. O presidente George Washington escolheu a área na margem do Rio Potomac (que ficava a poucos quilômetros da sua residência). Também sede do poder do país, a cidade é conhecida por ser um “museu a céu aberto”. Sua construção conseguiu refletir valores caros para os norte-americanos, como a democracia e a liberdade – o estilo neoclássico dos prédios reflete essa ideia. A cidade conta ainda com 150 parques, além de espaços culturais como museus e bibliotecas – a Folger Shakespeare, por exemplo, abriga a maior coleção de obras do escritor inglês. 

Brasília 

Ao pensar em cidade planejada no Brasil, a capital federal é a principal referência, com plano urbanístico de Lúcio Costa e arquitetônico de Oscar Niemeyer, que aproveitaram o relevo da região e o adequaram ao lago Paranoá. “O famoso plano diretor de Brasília consiste na divisão da cidade em eixos viários, setores, superquadras e quadras são mantidas até hoje. É um padrão perfeito, que funciona, mas que subestimou o crescimento da cidade” acredita Flávia Bonet. A cidade é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e é considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. 

Isalamabad 

Outra cidade de importância política construída do zero. A capital do Paquistão, planejada pelo arquiteto grego Constantinos Dioxadis, afastou o governo da costa (mais vulnerável a ataques) e foi pensada para que áreas urbanas pudessem ser replicadas como modelos de crescimento conforme a necessidade. “É mais um exemplo de cidade que foi construída com finalidade política”, ressalta Flávia. 

Bruxelas 

A adoção de um novo planejamento urbano no início dos anos 2000 fez com que a cidade se transformasse em uma metrópole internacional. O novo urbanismo não foi pensado apenas para que ela se tornasse um local cosmopolita e atraente aos turistas, mas também para a melhora da qualidade de vida do morador, com descentralização dos serviços públicos e revitalização das áreas centrais. 

Amsterdã 

Por estar localizada abaixo do nível do mar, a cidade foi construída atrás de grandes barreiras e canais, o que impede que o mar avance e permite um escoamento da água de maneira segura. A preocupação com essa infraestrutura (que evita que acidentes aconteçam) é constante dentro do planejamento urbano, que também se destaca por promover o uso da bicicleta: Amsterdã é o centro mundial do veículo, com via para ciclistas em quase todas as ruas principais e segurança para que sejam estacionadas em qualquer lugar. 

Tapiola 

Planejada para ser uma cidade-jardim, Tapiola, na Finlândia, foi planejada no pós-Segunda Guerra Mundial, quando valores como a preservação de áreas verdes, a sustentabilidade e o bem estar dos habitantes começaram a se difundir. “Princípios básicos para ser uma cidade perfeita, em que o número de empregos gerados fosse correspondente aos habitantes, e que a natureza predominasse”, diz Flávia Bonet.