O Brasil ocupa dois postos antagônicos quando o assunto é alimentação. Ao mesmo tempo em que está entre os cinco maiores produtores agrícolas do mundo – junto com China, Estados Unidos, Índia e Rússia –, é um dos países com o maior índice de desperdício de alimentos. Segundo dados do IBGE, aproximadamente 30% do que é produzido no país é jogado fora, o que equivale a cerca de 46 milhões de toneladas de alimentos por ano.
Uma parte significativa desse volume é resultado da indústria de alimentos. De acordo com levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apenas 1% das 37 milhões de toneladas de resíduos orgânicos produzidas anualmente pela indústria alimentícia é reaproveitada.
Essa estatística coloca o Brasil na 10.ª posição no ranking de países que mais desperdiçam comida, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma das formas de mudar esse cenário é trabalhando o consumo consciente com as novas gerações. O empresário Alexandre Nogueira Lopes vem desenvolvendo esse tipo de ação em seus empreendimentos, as redes de bares Sirène Fish & Chips, inaugurada em 2020, e Yabaiya, com pouco mais de um ano de funcionamento.
O público principal do Sirène e do Yabaiya é formado por jovens que, em geral, costumam ser mais abertos e engajados em relação aos conceitos de sustentabilidade em comparação com as gerações anteriores. “O Sirène tem uma pegada sustentável desde o início. São diversas ações que incluem a reutilização de copos, apoio à ONGs, separação de resíduos e algumas dessas ações acabaram se estendendo ao Yabaiya”, relata o empresário.
Nas unidades de Curitiba, Lopes conta que desde que desde o início das operações fazem o processo de separação dos resíduos, inclusive os orgânicos, que é realizado em parceria com a Composta +, startup que atua com serviços de coleta e compostagem de resíduos orgânicos para reduzir impactos ambientais e sociais junto a empresas de diversos segmentos, instituições e residências.
Das 11 unidades do Sirène, cinco estão em Curitiba – uma delas em fase de implantação – e os resultados ao longo de três anos chamam a atenção. Ao todo, 24,7 toneladas de resíduos orgânicos foram compostados, 39,19 toneladas de CO2 (gás carbônico) deixaram de ser lançados na atmosfera e, com o processo de compostagem, 2.646 sacos plásticos deixaram de ser utilizados – e descartados como lixo em aterros sanitários.
No Yabaiya, que conta com duas unidades em Curitiba e uma recém-inaugurada em São Paulo, em pouco mais de um ano de trabalho já foi possível fazer a compostagem de 3,8 toneladas de resíduos orgânicos, evitar o lançamento de 6 toneladas de CO2 (gás carbônico), além de economizar 414 sacos plásticos com a produção do lixo.
Igor Gonçalves Oliveira, diretor de marketing e co-fundador da Composta +, afirma que a gestão de resíduos é um desafio também para quem trabalha com o setor de alimentos, não apenas pelo volume produzido diariamente, mas também pelo trabalho dispendido. “É necessário mão-de-obra específica apenas para cuidar dos resíduos. Já no processo de compostagem, nós fazemos todo o processo, desde a instalação da bomba até a coleta e a transformação do resíduo em adubo”, explica.
Além disso, mensalmente a Composta + ainda entrega às empresas parceiras mudas de hortaliças e temperos para que sejam utilizadas na construção de uma horta.