O Brasil, como todo país industrializado, produz um volume muito grande de resíduos industriais. Pela legislação e normativas vigentes, eles são classificados conforme o estado (sólido, líquido, gasoso) e o grau de toxicidade (se são perigosos ou não). A gestão adequada desses resíduos é um elemento essencial para a competitividade, estabilidade financeira, integridade ambiental e para a construção de uma imagem positiva da empresa perante o mercado e os consumidores.
De acordo com o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos, documento que integra o Sistema Nacional de Informações (SINIR) sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente, em 2021 as indústrias brasileiras geraram 28,5 milhões de quilos de resíduos perigosos e 2,1 bilhões de quilos de resíduos não perigosos.
Em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, a Roca Brasil Cerâmica – multinacional pertencente ao grupo mexicano Lamosa, que está à frente das marcas de revestimentos cerâmicos Roca e Incepa – implementou uma série de iniciativas que inclui a compostagem de todos os resíduos orgânicos produzidos no refeitório da empresa. O trabalho, realizado em parceria com a Composta +, startup que atua com serviços de coleta e compostagem de resíduos orgânicos para reduzir impactos ambientais e sociais junto a empresas de diversos segmentos, instituições e residências, já trouxe resultados significativos para a empresa.
No refeitório da empresa são servidas 500 refeições por dia. Daniele Fátima Buba de Carvalho, gestora do setor de Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente, da Roca Brasil Cerámica, conta que em apenas dez meses de operação foram compostadas 35,7 toneladas de resíduos orgânicos. São materiais que deixaram de ser enviados aos aterros sanitários para se transformar em adubo.
Somado a isso, a gestora lembra que há outros fatores ambientais envolvidos, uma vez que, com o processamento dos resíduos, 56,7 toneladas de CO2 (gás carbônico) não foram lançados na atmosfera e 3.831 sacos plásticos deixaram de ser utilizados para fazer o ensacamento dos materiais. “Ano após ano estamos buscando importantes parcerias para a realização de nossas ações sustentáveis, assim como a modernização de nossos processos, com o objetivo de garantir um futuro melhor para todos. Com essas iniciativas também visamos dar o exemplo aos nossos colaboradores, de forma que cada um deles possa fazer a sua parte”, pontua Daniele.
Igor Gonçalves Oliveira, diretor de marketing e co-fundador da Composta +, explica que o processo para fazer a coleta dos resíduos orgânicos é bastante simples e mais econômico para as empresas que adotam esse modelo.
No caso da Roca, a Composta + leva, 15 tambores com capacidade de 60 litros (chamados de “bombonas”) para a coleta dos resíduos orgânicos. A coleta no local é feita duas vezes por semana e as bombas substituídas. “Há vários ganhos para quem adota a operação no dia a dia. Além de fazer a separação de maneira mais correta, excluindo a etapa dos sacos plásticos, há uma noção melhor do que é desperdiçado de alimentos e menor gasto com material de limpeza, devido ao processo de decomposição do lixo”, analisa Gonçalves.
Na Roca Brasil Cerámica, a compostagem é uma das ações dentro das iniciativas sustentáveis da fábrica de Campo Largo, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ao conceito de ESG, que diz respeito a um conjunto de critérios ambientais, sociais e de governança (Environmental, Social, and Governance, em inglês) que são considerados pelos investidores e empresas na avaliação do desempenho e impacto de uma organização. Esses critérios são usados para avaliar não apenas o retorno financeiro, mas também os aspectos relacionados à sustentabilidade, responsabilidade social e práticas de governança corporativa.
Desde 2010 o Brasil conta com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, porém apenas em 2022 o documento foi regulamentado. O texto estabelece que, até 2040, metade de todo o lixo produzido no Brasil deverá ser reaproveitado de alguma forma.