As construções, urbanização e as memórias bem conservadas ou em ruínas dispostas em cada pedaço de parede, paralelepípedo ou beiral oferecem, a quem se interessar por conhecê-las, a prova material do tipo de homens que ali viveram.
Curitiba, a 934 metros de altura, localizada entre a Serra do Mar e o Planalto de Ponta Grossa, não foi agraciada com uma vegetação exuberante. De abundante, apenas as araucárias e seus típicos e amados frutos: os pinhões, que se tornaram símbolo.
Para compensar a falta de mar em contraste com grandes montanhas, Curitiba atraiu, desde o início, homens naturalmente inclinados a construir uma cidade singular, como bem descreveu o botânico francês Augustin de Saint-Hilaire, em 1820, no livro Viagem a Curitiba e Província de Santa Catarina. “Ruas largas e quase regulares, com a praça pública quadrada, muito grande e coberta de grama.”
VEJO FLORES EM VOCÊ
Em Curitiba, a falta de beleza naturalmente cênica foi compensada pelas mãos de grandes arquitetos e urbanistas, entre eles, Jaime Lerner. No início da década de 1970, ao assumir como prefeito da capital, o urbanista incorporou à administração pública um grupo de arquitetos vinculados às primeiras turmas do curso na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Desse grupo partiram ações modernas e visionárias como as relacionadas à mobilidade urbana e o desenho de mobiliário urbano utilizando elementos que se consagrariam na memória afetiva de moradores e visitantes, como as calçadas incrustadas com desenhos de pinhões de João Turin e os domos roxinhos da Rua XV de Novembro, no Centro.
CIDADE MODELO E CASA COR
O arquiteto curitibano Christian Schönhofen, sócio do escritório Christian e Richard Schönhofen, há 24 anos participa da Casa Cor Paraná, evento local que integra a maior e mais completa mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo das Américas. Christian observa que a notoriedade da arquitetura da capital tem a ver com o atendimento às demandas de seus moradores, sempre muito exigentes. “Temos na cidade construções importantes em vários sentidos. Por exemplo, prédios que hoje são clássicos pelo emprego de técnicas construtivas da vanguarda de suas épocas. O mercado imobiliário também se destaca pela oferta de produtos inovadores”, exemplifica, lembrando que no setor imobiliário isso atende ao desejo desse tipo de consumidor.
Schönhofen salienta que grandes mostras como a Casa Cor têm, na edição de Curitiba, vários destaques nacionais. “Em mais de duas décadas de participação, posso dizer que cresci na profissão em um momento de troca de guarda e continuidade. Novos arquitetos estavam chegando e lidando com a mesma exigência que faz com que nossa cidade permaneça com o destaque que tem”, analisa.
ANTÁRTIDA, CHEGAMOS
Atualmente, não há como falar de Curitiba sem citar os inúmeros parques, a arborização, o transporte, a consciência seletiva ambiental – todos resultantes do planejamento de arquitetos e urbanistas. Desde Jaime Lerner e sua turma até os jovens escritórios de hoje, o que se vê na produção da cidade é uma arquitetura de vanguarda, que em nada deve ao que se produz em outras cidades de qualquer parte do mundo e que, inclusive, já extrapola o continente: o projeto da base brasileira na Antártida é assinado por um escritório curitibano, o Studio 41.
O Studio 41, formado por 25 arquitetos curitibanos, está localizado no centro de Curitiba, em um prédio projetado pelo arquiteto Rubens Meister. O escritório surgiu em 2011 por conta de um concurso. Para quem não é familiarizado com a área, os concursos de arquitetura são formas muito democráticas de fazer com que estudantes e profissionais tenham chance de realizar projetos de qualidade na esfera pública.
NA ILHA DO REI GEORGE, PENÍNSULA KELLER
Em 2012, a Base Brasileira Comandante Ferraz, localizada na Antártida, incendiou. Na ocasião, dois militares vieram a óbito. Em 2013, um edital público para escolher o novo projeto para a mesma base foi lançado. O orçamento de US$ 100 milhões recebeu 109 inscrições – sendo entregues 74 projetos.
Para a arquiteta e urbanista Caroline Afonso, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do UniCuritiba, a proeminência da cidade nessa área começou com a implementação do primeiro curso na UFPR, no início dos anos 1930. Segundo ela, Curitiba tem uma grande demanda de profissionais na área, nas mais diversas especialidades: projetos arquitetônicos (em seus diferentes programas), interiores, paisagismo, entre outras. “Basta olhar ao nosso redor, na janela de casa ou do trabalho, e ver a quantidade de edifícios sendo construídos, casas sendo reformadas, e construções antigas carecendo de manutenções”, observa.