Revista tratou com bom inteligência e bom humor a identidade e o jeito de ser curitibano| Foto: Leo Flores
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Prédios marcados por uma arquitetura que valoriza elementos locais, como a pinha e os pinheiros. As calçadas do centro da cidade com desenhos de rosáceas paranaenses. Azulejos com formatos geométricos de pinhões. Esses e outros detalhes são encontrados em vários cantos de Curitiba, e fazem parte de um movimento que chegou ao Paraná na primeira metade do século 20: o paranismo.

O paranismo é o ideal paranista que surgiu no período em que o Brasil estava se transformando em uma República. A época foi marcada pela busca de novos referenciais em vários estados, já que o símbolo centralizado do Império de Dom Pedro II não fazia mais sentido. No Paraná, a proposta era encontrar uma identidade regional que reunisse aspectos culturais, sociais e políticos.

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A historiadora, mestre em história e pesquisadora do movimento paranista, Barbara Fonseca, ressalta que, apesar de parecidos, os termos ‘paranismo’ e ‘movimento paranista’ não são sinônimos. O movimento paranista é uma onda identitária regional muito mais 'datada'.

Na década de 1920, houve um esforço de artistas, intelectuais e políticos de Curitiba para reforçar o que era ‘ser paranista’. “Essas pessoas estavam muito engajadas em constituir símbolos e em pensar na modernização do Paraná, para que, no futuro, esse Paraná pudesse ser grandioso.”, menciona a historiadora.

O arquiteto e urbanista, administrador do escritório Lona Group e idealizador do projeto 'Prédios de Curitiba', Guilherme de Macedo, comenta que os paranistas começaram a “espalhar” elementos locais como o pinheiro, o pinhão e a erva-mate, em diversas artes e, em algum momento, isso foi levado para a arquitetura. “Ocorreu de um jeito um pouco ‘bucólico’, no sentido de substituir algo que era feito, por um símbolo da pinha, por exemplo. Era um modo de trazer a valorização da cultura para a arquitetura.”

Responsável por criar obras e esculturas que refletiam os ideais da época, o artista João Turin tem um importante papel nesse cenário. Ele é o responsável pela construção da Casa Paranista, um imóvel nos moldes do paranismo que surgiu no final da década de 1920. O artista também criou o Homem-Pinheiro, que era exposto na capa da Revista Ilustração Paranaense – um importante veículo da época que expressava a manifestação do paranismo.

O Homem-Pinheiro, de João Turin, era a capa da Revista Ilustração Paranaense.| Foto: Divulgação/ Site João Turin

Outros nomes, como Romário Martins, Lange de Morretes, João Ghelfi e Didi Caillet (considerada a 'musa do paranismo') também marcaram a construção desse sentimento de pertença. Mas, de acordo com a historiadora Barbara Fonseca, “Não podemos pensar sobre isso de maneira inflexível, porque com certeza o movimento ajudou a criar símbolos do Paraná, mas o pinheiro já existia aqui. Então, de certa forma, os artistas estavam reproduzindo o que viam no dia a dia deles."

O arquiteto Guilherme de Macedo pontua, inclusive, a relação de apropriação desses símbolos. “Enraizamos o pinheiro como um elemento nosso, mesmo entendendo que ele é do sul. Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, também têm grandes áreas de pinheiros”.

Seria a capivara um símbolo atual do paranismo?

A capivara se transformou em um símbolo de Curitiba.

Alguns estudiosos consideram que o paranismo é uma espécie de movimento contínuo, que não ficou apenas no século 20. A historiadora Barbara Fonseca aponta, justamente, os altos e baixos dessa tendência. Ela menciona que a década de 1940, por exemplo, traz a constituição das calçadas de Curitiba, inspiradas nas rosáceas paranistas, criação do pintor Lange de Morretes. Depois, ocorre uma ‘alta’ na primeira gestão de Rafael Greca e, agora, acontece novamente uma retomada do conceito pela gestão Greca, com a criação do Memorial Paranista, em 2021.

O arquiteto Guilherme de Macedo entende que um dos aspectos mais relevantes do movimento é a forma com que seus ideais e símbolos conseguiram perdurar e se revelar ao longo do tempo. “Todos os movimentos, de certo modo, acabam buscando na identidade local uma forma de expressão. Temos o brutalismo paranaense, por exemplo, tentando exprimir formas geométricas que remetem ao pinhão (...). E projetos modernos e contemporâneos trazendo essa mesma ideia.”

Guilherme ressalta que, atualmente, é possível encontrar marcas do paranismo em todos os cantos. Nas lojinhas espalhadas pela cidade, os souvenirs de capivaras, por exemplo, fazem o maior sucesso, como se esse símbolo fosse, de alguma forma, uma continuidade do movimento que começou muitos anos atrás.

A atualização do paranismo caminha ao lado do desenvolvimento do estado em seus âmbitos sociais, culturais e econômicos. À medida que a população se renova, os ideais são repaginados, sem a perda do sentido. "Atualmente, a identidade paranaense está se pluralizando, e eu não vejo isso como uma oposição ao paranismo, mas sim uma reformulação.", comenta a historiadora Barbara Fonseca.

Barbara também pontua que o paranismo carregava a proposta de ser abrangente, incluindo imigrantes europeus e pessoas que não necessariamente tenham nascido no Paraná, mas que tivessem essa vontade de colaborar com o crescimento do estado. Contudo, a população negra, por exemplo, foi invisibilizada no movimento. Nesse sentido, pensar no conceito de ‘identidade paranista atual’ implica a diversificação e inclusão de agentes históricos anteriormente silenciados.

Onde encontrar as marcas do paranismo na arquitetura de Curitiba?

A arquitetura da capital paranaense leva uma riqueza de detalhes aos olhos dos moradores, turistas e visitantes. Marcas do paranismo podem ser encontradas em vários cantos da cidade. Por isso, com a ajuda da historiadora Barbara Fonseca e do arquiteto e urbanista Guilherme de Macedo, criamos o roteiro de uma ‘Curitiba paranista’ para você conhecer. Confira:

Memorial Paranista

| Foto: Daniel Castellano/SMCS

Inaugurado em 2021, o Memorial Paranista, localizado no Parque São Lourenço, consegue resgatar a cultura da época por meio de obras de arte e exposições. O espaço também abriga o Jardim de Esculturas João Turin, valorizando o legado do artista.

Rua XV de Novembro

| Foto: Ricardo Marajó/SMCS

A Rua XV de Novembro, uma das mais famosas da cidade, apresenta elementos da arquitetura paranista ainda hoje. Um exemplo são as calçadas de petit pavet com desenhos de rosáceas paranaenses. O bairro São Francisco também era recheado de símbolos de pinhas, pinhões e pinheiros em seus monumentos e casarões – alguns deles não existem mais.

Relógio da Praça Osório

| Foto: Cesar Brustolin/SMCS

A Praça Osório, que conecta diferentes caminhos pelo Centro de Curitiba, guarda um detalhe paranista em sua composição. O relógio, que fica no calçadão, traz decorações estilizadas de pinhões.

Paço da Liberdade

| Foto: Luiz Costa/SMCS

O edifício do Paço da Liberdade também pode ser uma referência. Internamente, suas portas talhadas em madeira remetem à símbolos paranistas.

Edifício Moreira Garcez

| Foto: Hugo Harada / Arquivo Gazeta do Povo

O Edifício Moreira Garcez, Localizado na esquina das ruas Luiz Xavier e Voluntários da Pátria, traz em sua fachada pinhas representadas por losangos.

Memorial de Curitiba

| Foto: Fundação Cultural de Curitiba

O Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem, é um outro grande exemplo da arquitetura paranista na cidade. A escada, os detalhes internos e externos remetem aos símbolos da época.

Murais de Poty Lazzarotto

| Foto: Leo Flores

Os murais do artista Poty Lazzarotto também representam aspectos do paranismo na cidade. O painel da Praça 19 de Dezembro, com desenhos de pinheiros, é um dos exemplos.

Painel Gralha Azul

| Foto: Leticia Akemi/ Arquivo Gazeta do Povo

O painel Gralha Azul, criado pela artista plástica Ida Hannemann, é responsável por trazer cor e elementos paranistas à lateral da praça do Asilo São Vicente de Paulo, no Juvevê. Os desenhos e diferentes formatos de pinhões e pinhas criam uma composição única.

Prefeitura de Curitiba

| Foto: Pedro Ribas/SMCS

A sede da Prefeitura de Curitiba, no Centro Cívico, também traz marcas do paranismo em sua fachada. Os desenhos de pinhões, pinheiros e rosáceas representam o período e o estado.

Algumas outras construções do Paraná no século XX foram: o antigo Gymnasio Paranaense, o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Palácio do Rio Branco – obras de arquitetura não necessariamente paranistas, mas que refletiam os ideais da época.

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