Curitiba tem cerca de 90 salas de exibição de filmes, de acordo com dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), ocupando o 5.º lugar no ranking Brasil entre os municípios com a melhor relação de habitantes por sala de exibição - considerando os municípios com mais de 500 mil habitantes. Isso significa que a cidade tem um cinema para cada grupo de cerca de 21 mil habitantes, atrás apenas de Londrina (PR), Cuiabá (MT), Ribeirão Preto (SP) e Campinas (SP).
Ainda que esse número pareça significativo, é pequeno quando comparado a outros. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma sala de cinema para cada 8 mil habitantes. Na Austrália, França e na Itália, para 11 mil pessoas. Os dados são do anuário da Ancine de 2019.
ERA DOURADA
E basta um rápido olhar ao passado para se surpreender com o número de salas de cinemas que já fizeram parte da cena da cidade. De 1910 a 2009 - quando ocorreu o fechamento do histórico Cine Luz, no Calçadão da Rua XV de Novembro – o último cinema de rua na cidade, muitas gerações passaram pelas salas de exibição da capital, misturando episódios inesquecíveis de suas histórias pessoais às histórias das salas.
Na pequena Avenida Luiz Xavier, numa configuração bem diferente da atual, o Cine Avenida, localizado no então Palácio de mesmo nome, era inaugurado. Era 1929. Anteriormente, porém, a cidade já contava com salas de exibição: Cine Broadway, Éden, Smart, Mignon, entre tantas outras. Primeira sede do Cine Luz, de 1939, na Praça Zacarias.
O Cine Ópera, em 1941, também se juntava ao reduto de salas de exibição da região central, assim como o Cine Palácio, no Edifício Moreira Garcez, criado em meados dos anos 1950. Pouco antes, em 1948, tinha sido inaugurado o Cine Ritz, que posteriormente foi reaberto ao lado da C&A - no mesmo Calçadão da XV.
Onde funcionava o Cine Rivoli (1960 a 1982), na Rua Emiliano Perneta, hoje funciona uma unidade do Procon-PR.
A poucos metros dali, próximo à Praça Rui Barbosa, os mais exigentes espectadores podiam assistir à sessão de filme nos áureos tempos do Cine São João. Também faz parte da memória afetiva da cidade o enorme Cine Plaza, na Praça Osório, com capacidade para 800 pessoas sentadas.
E, por falar em grandiosidade, em 1963 era inaugurado o Cine Vitória, na Rua Barão do Rio Branco. O espaço contava com 1,8 mil lugares. Astor, Cine Curitiba, Condor e tantos outros oferecem a justa medida de uma cidade que teve uma vida cultural urbana muito intensa.
DECADÊNCIA
Em 1996, quando o Shopping Curitiba foi inaugurado no local do antigo Quartel do 5.º Batalhão do Exército, o empreendimento comportava seis salas no estilo multiplex. A partir dessa data, os cinemas do Centro começaram a notar a queda no número de frequentadores.
Pouco tempo depois, surge o Shopping Crystal e cinco salas exibidoras. Como golpe de misericórdia, o então Estação Plaza Show inaugura com dez salas de cinema.
De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), atualmente Curitiba conta com cerca de 80 salas de exibição e ocupa o 5.º lugar no ranking Brasil. O Paraná, com 200 salas, está em 4.º lugar. Ainda que esse número pareça grande, a cidade está aquém do número ideal de salas/habitante.
DAVI E GOLIAS
Mesmo que exista espaço para a chegada de mais salas de exibição em Curitiba, há quem insista em dizer que o cinema morreu. Para o jornalista Flávio Jayme, crítico de cinema e editor do site Pausa Dramática, que há dez anos participa de um bate-papo sobre o Oscar em Curitiba, o debate cinema versus televisão é interminável. “Parece um ciclo sem fim (como diria o número de abertura de O Rei Leão): de quando em quando surge uma ameaça para as salas de cinema. Mas, ainda assim, elas permanecem firmes e fortes atraindo o público. Assistir a um filme numa sala de cinema é uma experiência completamente diferente de assisti-lo em casa na tela da tevê, do computador ou, pior ainda, do celular”, analisa.
Segundo Jayme, seja pelo ambiente escuro, pela imersão, pelo tamanho da tela e volume do som – referindo-se às salas de alta qualidade –, ele destaca que tudo contribui para que o espectador mergulhe no filme de uma forma inviável em qualquer outro ambiente. “A experiência é única e acredito que esta magia ainda seja a responsável pela sobrevivência das salas de cinema”, enfatiza.
DONOS DO NEGÓCIO
Quando se discute o cinema como produto, negócio, o espectador esbarra em gostos e hábitos pessoais. Porém, para os donos das salas, o investimento é coisa séria, não tem nada de diversão.
A indústria do entretenimento mundial é uma das mais fortes e não dá um passo sem saber exatamente o que irá encontrar. Para dirimir algumas dessa dúvidas, a ODEON encomendou uma pesquisa ao Laboratório Thrill Engineer, do professor Brendan Walker, considerado um engenheiro de emoção – na tradução literal do significado do nome do laboratório.
Para quem não está familiarizado, a ODEON é uma enorme rede de cinemas que opera no Reino Unido, Irlanda e Noruega. Em conjunto com a UCI Cinemas e Nordic Cinema Group, integra o grupo Odeon Cinemas (que pertence ao grupo AMC Theatres).
Em 2021, durante a pandemia, os executivos da ODEON queriam saber se, depois de tantos meses de confinamento, o público teria se acostumado à experiência de assistir a filmes em casa e resistiriam à ideia de retornar às salas de cinema.
O experimento em si foi relativamente simples: uma amostra de participantes foi convidada a assistir ao mesmo clipe de filme (um clipe de alta “octanagem” de Velozes e Furiosos 8). Uma segunda parte assistiria ao filme em um cinema. E a terceira em um ambiente doméstico confortável, de frente a uma TV de boa qualidade com som surround.
A atividade cerebral dos participantes foi monitorada em 14 canais EEG (eletroencefalograma). Os dados foram normalizados, agregados, analisados e finalmente visualizados para acompanhar um pequeno relatório para editorial – todos produzidos internamente. Os resultados das manchetes apareceram no Mirror Express e online no Yahoo Movies.
A pesquisa mostrou que o cinema pode ser até 23% mais emocionante do que a televisão ao assistir ao mesmo filme. “Por mais que os streamings tenham facilitado o acesso e até mesmo estimulado a produção de cinema, filmes recentes como Duna ou Amor, Sublime Amor (que não são filmes de super-heróis) foram feitos para serem vistos numa tela grande. São filmes completamente diferentes se vistos em casa. E essa magia, essa emoção só o cinema pode trazer”, reforça Flávio Jayme.