Curitiba se consolidou como um celeiro de atletas das artes marciais. Grandes nomes como Anderson Silva, Vanderlei Silva, Maurício Shogun e Cris Cyborg são alguns dos exemplos que saíram da terra das araucárias para conquistar o mundo. Mas o que pouca gente sabe é que o Muay Thai, uma das principais modalidades de luta, chegou ao Brasil a partir da capital paranaense.
O atleta Ariel Machado, 34 anos, da academia CWB Fight Club, conta que a luta que o tornou referência no mundo começou a ser difundida no Brasil graças ao mestre Nelio Naja, em 1979. “A modalidade foi bastante difundida. Eu tive o primeiro contato com a luta aos 14 anos e, depois disso, a luta passou a fazer parte da minha vida para sempre”, relata Machado.
Atualmente, ele é o quarto do ranking do Glory, maior evento da modalidade Kickboxing do mundo, que é considerada uma variação do Muay Thai. A modalidade é considerada um esporte, que varia da filosofia da arte marcial. “Quando eu comecei a treinar por aqui, existiam poucos eventos de Muay Thai na cidade, então passei a competir nos de Kickboxing. Conseguimos o aval da federação do esporte e logo em seguida disputei meu primeiro campeonato profissional, com 16 anos”, relembra. De lá pra cá, entre os títulos que o atleta conquistou, estão o de campeão brasileiro e panamericano, além de ter disputado o cinturão.
No cartel, Machado acumula 59 lutas, 35 delas vencidas por nocaute. Com essa experiência adquirida, o atleta passou a transferir seu conhecimento para os moradores da capital com a fundação da sua própria escola de lutas, a CWB Fight Club.
Para ele, Curitiba é bastante propícia para a prática da modalidade, que tem conquistado não só atletas, mas também pessoas que querem mudar seu estilo de vida.
“Hoje em dia, cada vez mais as pessoas têm buscado por isso. Curitiba é uma cidade que apoia o esporte, que proporciona essa qualidade de vida, que proporciona esse acesso. Aí, a gente vê, por exemplo, que as mulheres compõem um público, inclusive, que tem crescido bastante porque veem que a luta trabalha com todo o corpo”, reforça. Outra vantagem que o lutador destaca é a questão da defesa pessoal para a mulher, que, ao aprender as técnicas de luta, sente-se mais segura. “É uma forma de ajudar nesse empoderamento delas”, finalizou Ariel Machado.
LUTA PELA VIDA
Do outro lado, quem vê a cara fechada dela dentro do ringue não sabe tudo o que passou. Mas é só chamar pelo nome que ela abre um sorriso e com simpatia atende a todos. Nadini Furtado não é uma figura comum no meio da luta. Ela surgiu como quem não queria nada, apenas mudar seus hábitos de vida e ganhar mais saúde. Só que a loira não fazia ideia de que sua vida iria se transformar e que seriam justamente as artes marciais que a ajudariam a passar por um momento muito delicado.
“Sempre estive envolvida no universo da luta, pois meu pai lutava Kung Fu. Mas aos 27 anos, depois de passar por alguns problemas no trabalho, procurei ajuda médica e o doutor me disse que eu estava muito sedentária. Para aliviar o estresse, ele recomendou fazer algum esporte. Acabei indo até à academia e foi paixão à primeira vista”, contou a jovem.
Ela passou a treinar com frequência, adotou o Muay Thai e até outros tipos de luta como estilo de vida e seguiu nos tatames. Desde então, recebeu convite para disputar algumas competições e acabou tomando gosto e assumindo esse compromisso para se desafiar. Mas mal sabia ela que o maior desafio viria de dentro.
Quando descobriu o câncer, Nadini treinava três vezes por semana. O diagnóstico foi de que a doença, que atingiu o colo de útero, já estava em estágio avançado. “Foi um baque em mim. Mas a luta foi fundamental e crucial, até na maneira de pensar. Quando você entra nesse mundo, você começa a ter pensamento de vencedor e era o que eu pensava: eu vou vencer!”, relata Nadini, que encontrou na luta e nos amigos que fez no tatame um reforço para resistir à doença.
Ela precisou passar por uma cirurgia e também pelo tratamento, que envolveu quimioterapias e outros procedimentos médicos. “Por conta das minhas atividades físicas, com rotina, o médico mesmo me disse que isso ajudou a aguentar e lidar com o próprio tratamento, que é muito difícil. Sem contar o pessoal da academia, que me levava para a quimioterapia, fazia festa, cuidava de mim. Foi um conjunto de coisas que me possibilitou passar por essa situação e voltar mais forte”, detalha a lutadora.
Vencendo todo este processo, a jovem seguiu lutando, mas agora mergulhou ainda mais nesse mundo. Hoje, ela é árbitra, pratica luta e ajuda a promover o esporte como qualidade de vida e garante que Curitiba é um dos melhores lugares para encontrar uma modalidade que se encaixe com a sua proposta.
“Curitiba é um celeiro de luta, é muito tradicional. Temos excelentes equipes, academias. Esse ambiente é muito democrático, pois ele aceita mulheres, pessoas mais velhas, gordinhas, com deficiência, e te enquadra de acordo com as possibilidades. Não necessariamente quem quer fazer uma arte marcial precisa sair na mão, ela pode te dar vários benefícios e qualidade de vida”, finalizou.