Cueca-virada é um dos clássicos que resgata a memória afetiva da população de Curitiba.
Cueca-virada é um dos clássicos que resgata a memória afetiva da população de Curitiba.| Foto: Shutterstock

Delícias da capital paranaense. As de raiz, permanecem. Fortes e cientes de que sempre terão um lugar garantido na memória da população de Curitiba. Outras, sucumbem aos modismos - às vezes desnecessários. A exemplo do pinhão, fruto tão característico da cidade, mesmo em sua forma bruta – cozido ou sapecado – e que  dispensa gourmetização.

O circuito gastronômico de Curitiba, rico e acolhedor, permite criar livremente. Há público para tudo, pois existem apetites que não cessam nem mesmo com o passar do tempo. Quem, por exemplo, não sente falta da avó polonesa e das mesas de café da tarde, fartamente cobertas com doces caseiros, compotas preparadas pelas tias, pães e bolos? Será que eram realmente saborosos ou continham o ingrediente mágico do afeto que deixa tudo melhor? Se a avó já não está mais presente e você, descuidado, furtou-se de pegar a receita daquela cuca de domingo, é possível aquecer um pouco o coração com as cucas da Casa Poland.

E a polêmica “calça-virada”? Há quem chame de “cueca-virada”, outros, “orelha-de-gato”, “grostoli” e até “cavaquinho”. Tradicional em países de origem europeia, é comum encontrar a iguaria nas mesas do Sul do Brasil, região amplamente colonizada por imigrantes europeus de diversas nacionalidades, como é o caso de Curitiba.

As apresentações contemporâneas divergem de opiniões. Enquanto uns garantem que a original era sequinha, feita com pinga, frita e passada no açúcar e canela, outros dizem que a calça-virada, de verdade, era fofinha e polvilhada apenas com açúcar. Impossível saber quem tem razão.

E se mais uma vez, supondo que certas pessoas são imortais (e de fato são, quem há de duvidar?) você se descuidou e não anotou a receita de família, mas ainda guarda aquela vontade. Quem sabe a cueca-virada feita na Kaminski não seja um tiquinho parecida com a de sua avó? Pelo sim, pelo não, tem o mérito de ser receita premiada.

GOURMETIZAÇÃO DA VÁRZEA

Nos campinhos de várzea da cidade, como o Combate Barreirinha, os finais de tarde de domingo só terminavam quando o pai oferecia o tradicional pão com bife. Fim de jogo. Não precisava ser partida de time de primeira divisão - Curitiba sempre foi terra de craque e cada bairro tinha o seu. Por isso, nenhum resultado era capaz de tirar o brilho do pãozinho com bife (com um delicioso gosto de chapa) ou pão com bolinho de carne.

Hoje, os estádios gourmetizaram os serviços. Até mesmo os campinhos mudaram seu cardápio. Há tantas opções que não sobra espaço para o injustiçado sanduíche. Para quem tem saudades - não dos jogos, mas do pão -, o Jackson Assados serve, uma vez por mês, pão com bolinho de carne “com gosto de infância”. O pão com bolinho também aparece no cardápio da tradicional Aquarius Panificadora, no bairro Bacacheri.

CHEIRO DO MAR

A distância de Curitiba ao litoral não mudou, mas descer a Serra do Mar era ato reservado às férias escolares. No resto do ano, matava-se a vontade de comer peixe quando o peixeiro, montado em sua bicicleta, circulava pelos bairros anunciando a chegada de carga fresca diretamente de Paranaguá.

Para outras ocasiões, existia a “rua da praia”, como era chamada a Rua Mateus Leme, em função dos vários endereços em que se podia comer frutos do mar. Em especial, o Bar do Victor, fundado em 1969 por Victor Shiochet.

<a href="https://clube.gazetadopovo.com.br/" target="_blank" rel="noreferrer noopener" aria-label="As diversas tribos que presenteiam Curitiba em seus 329 anos. (abre numa nova aba)">As diversas tribos que presenteiam Curitiba em seus 329 anos.</a>
As diversas tribos que presenteiam Curitiba em seus 329 anos.

Hoje, o Victor conta com três unidades e tem à frente sua filha, Janice. O cardápio cresceu e oferece pratos campeões, mas para uma simples voltinha ao passado, peça o espetinho de camarão.

Enfim, as delícias de Curitiba são muitas. Do Pierogui do Tadeu, vendido nas feiras de gastronomia ao ar livre, ao capeletti do Madalosso, tortura seria descrevê-las ao leitor.

E para você, qual é o sabor de Curitiba?