Espetáculo “Carmen”, de 2016, coreografado por Luiz Fernando Bongiovanni. Foto: Cayo Vieira/Arquivo BTG
Espetáculo “Carmen”, de 2016, coreografado por Luiz Fernando Bongiovanni. Foto: Cayo Vieira/Arquivo BTG| Foto: Cayo Vieira

Com 52 anos de história e sendo a terceira companhia de dança mais antiga do Brasil, o Balé Teatro Guaíra (BTG) conseguiu registrar e guardar os momentos mágicos do palco em forma de livro. Os mais de 50 anos de trajetória da companhia, além de um recorte da chegada do ballet ao Brasil, podem, agora, ser conhecidos por todos no livro “Balé Teatro Guaíra – 52 anos de uma história da dança paranaense”.

“Pude contar com a extensa documentação que o BTG fez com muito cuidado em todas as suas gestões, tanto em fotos inéditas, quanto entrevistas, atas de processos de seleção, críticas de profissionais de todo o Brasil”, conta a autora, Cristiane Wosniak, historiadora e professora de história da dança na Unespar – e aluna da escola do Teatro Guaíra em sua adolescência. O BTG completou 52 anos em 2021, quando o livro foi finalizado.

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A obra levou 8 anos para vir a público e foi lançada em formato digital durante a temporada de abertura de espetáculos do Balé Teatro Guaíra em parceria com a Orquestra Sinfônica do Paraná, de 3 a 5 de março, com o espetáculo “Terra Brasilis”, criação de 2022 com assinatura de Jorge Garcia e Alex Soares. Além da consulta à versão digital pelo site do projeto, o leitor também poderá requerer o livro impresso pelo site. “É muito feliz poder ver uma obra como a deste livro, celebrando a história da companhia, refletindo sobre os grandes momentos. Esta publicação é um presente para a memória da dança, não apenas paranaense, como de todo o Brasil”, destaca o diretor-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra, Cleverson Cavalheiro.

Capa do livro. Foto: Divulgação
Capa do livro. Foto: Divulgação

Em seu texto, Cristiane destaca o processo de amadurecimento do BTG, que surpreendeu o público a cada virada artística, num caminho que ainda percorre. “Estamos falando de uma companhia que conquistou uma identidade nacional e um amplo reconhecimento além das fronteiras, não apenas do estado, mas do país. Tornou-se um personagem, um organismo vivo e dinâmico a trilhar um caminho cuja identidade móvel tem permitido constantes diálogos com o ambiente em que está inserido.”

A autora destaca ainda a “incansável busca de uma linguagem própria, uma referência forjada na ideia de uma interpretação paranaense de pensar e fazer dança”.

Trajetória marcante para o Estado do Paraná

Espetáculo "Pastorale", 1985. Foto: Gus Hart/Arquivo BTG
Espetáculo "Pastorale", 1985. Foto: Gus Hart/Arquivo BTG

O Balé Teatro Guaíra tem contribuído expressivamente para o desenvolvimento da dança no Paraná e no país. Em constante transformação, constrói sua história a partir de produções que retratam diferentes modos de pensar a arte e a própria vida. Um breve olhar para a produção da companhia ao longo de todos esses anos nos permite dizer que a companhia tem realizado seu objetivo principal: produzir e levar a arte da dança para o estado do Paraná e para o Brasil.

“O Balé Teatro Guaíra é, em si, um patrimônio do Estado do Paraná. É um grupo de artistas muito inquieto, sempre olhando para o futuro, pensando na próxima grande obra, próxima grande coreografia”, afirma Cleverson.

Entre os momentos lendários estão desde “O Grande Circo Místico” (1983), com música de Chico Buarque e Edu Lobo, até clássicos recentes repaginados, como “Romeu e Julieta” e “O Lago dos Cisnes”, passando pela “Sagração da Primavera”, num resgate que visitou as origens ritualísticas da obra icônica. No casamento entre arte e técnica, destaques como "O Segundo Sopro" (1999), ou “balé das águas”, colocam o BTG na vanguarda nacional: aquela foi a primeira vez que se fez chover num palco no Brasil, graças à criatividade da equipe técnica do Guaíra na formação de um espelho d'água que permitiu o  deslizamento dos bailarinos.

A história do ballet contada no livro 

Espetáculo "As estações", 1976. Foto: Ruy Tavares/Arquivo BTG
Espetáculo "As estações", 1976. Foto: Ruy Tavares/Arquivo BTG

O ballet surgiu na Itália, por volta do século XVI, no período renascentista, como diversão para a nobreza em seus tradicionais bailes de corte. Era uma forma dos anfitriões receberem seus convidados, com essa arte que une dança, música e interpretação. Apesar de ter origem na Itália, o ballet é muito ligado à França, pois foi lá que a arte ganhou força e passou a se desenvolver, por isso, há a influência do francês na nomenclatura da metodologia do ballet.

Tudo começou quando a princesa Catarina de Médici, casou-se com o rei da França, Henrique II, em 1533, e inseriu essa tradição de danças na corte. Catarina foi uma grande entusiasta da arte, chegando a buscar dançarinos na Itália, trazendo assim uma grande visibilidade ao ballet.

O primeiro grande ballet teatral de que se tem registro na França foi o “Balé Comique de la Reine”, de Balthazar de Beaujoyeulx, trazido da Itália também por Catarina, que em 1581 marcou a história do ballet numa apresentação de seis horas para um público de aproximadamente dez mil pessoas.

Já no Brasil, é no século XIX, com a chegada da família real portuguesa em 1808, que a dança teatral começa a tomar forma e a ser apresentada nos teatros entre os atos de uma ópera, peça teatral ou como complemento de outro programa. Vários mestres e coreógrafos estrangeiros vêm para o Brasil e enxergam no Rio de Janeiro um potencial para desenvolver suas atividades artísticas.

No início do século XX, o ballet ganha força com a vinda de vários artistas internacionais, principalmente de origem russa, que abriram as primeiras escolas, grupos e companhias de dança e a profissionalizaram. Em 11 de abril de 1927, é criada a primeira escola de dança no Brasil, oficializada em 1931, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, pela bailarina, mestra e coreógrafa Maria Olenewa (1896-1965). E no dia 28 de outubro de 1927, é criada a primeira escola de ballet de Curitiba e começa, oficialmente, a trajetória dessa arte tão importante, imponente e poética na nossa cidade.