"Mexer com a terra tira o stress do dia a dia". A afirmação é de Josué do Nascimento, 57 anos. Casado, com os filhos já adultos, ele é coordenador da horta comunitária Augusta B, na vila de mesmo nome, no CIC. A horta, uma das cinco em atividade em Curitiba, é parte do programa Cultiva Energia, iniciativa da Copel em parceria com governos municipais. O projeto teve início em 2013 em Maringá e, desde então, soma 14 hortas em seis municípios - todas em parceria com as prefeituras. São mais de 400 horticultores envolvidos
As hortas comunitárias do Cultiva Energia ocupam áreas que ficam sob as linhas de transmissão e distribuição da Copel, locais em que são proibidas construções ou o uso para outra finalidade que não seja autorizada pela companhia por questões de segurança. Em Curitiba, por meio das cinco hortas em funcionamento na cidade, 150 famílias são beneficiadas pelo programa. Como a de Josué, que se divide entre a coordenação da horta e seu trabalho como motorista de ônibus no período da noite. "É gratificante ver as plantas crescendo, você ter qualidade de vida melhor, saber que está se alimentando bem, porque você coloca na mesa produtos sem agrotóxico", comemora.
Levantamento da própria Copel aponta que cada horta produz, em média, de 3 a 3,5 toneladas de alimentos por mês. Assim, o programa considera que, com a quantidade de alimentos produzidos por cada horticultor, suficiente para o consumo de sua família e a distribuição a parentes e amigos, mais a venda do excedente, o benefício se estende hoje a milhares de pessoas.
Das cinco hortas em Curitiba, duas estão na CIC – Augusta B e Paraíso Dembinski –, uma no bairro Órleans – Uma Nova Curitiba – e duas no Uberaba – Marumbi 1 e 2. Uma sexta já está programada para ser inaugurada, ainda sem data definida, também no CIC.
Alimentação saudável e fim de problema ambiental
O processo de seleção das famílias participantes é feito pelas prefeituras, em parceria com o CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), da FAS (Fundação de Ação Social).A solicitação de instalação das hortas, explica Carmen de Fátima Seguro, coordenadora do programa na Copel Distribuição, também é feita pelas prefeituras, que responde ainda por selecionar as áreas. "Não adianta [escolher] uma área que atenda os critérios do programa se a comunidade do entorno não estiver mobilizada", informa.
O projeto oferece às famílias envolvidas a possibilidade de uma alimentação saudável, já que tudo é cultivado sem qualquer tipo de defensivo agrícola, ao mesmo tempo que atua como uma possibilidade real de renda complementar, já que os horticultores podem vender o excedente da colheita para moradores da região em demais interessados em verduras e legumes livres de agrotóxicos.
Em paralelo, resolve dois problemas importantes: evita que áreas ociosas sejam transformadas em lixões, e com isso, equaciona um problema ambiental; previne ocupações irregulares e arriscadas, sem qualquer tipo de orientação sobre segurança (e o desgaste financeiro e social de processos de reintegração de posse). Mais: gera nas comunidades envolvidas a cultura do associativismo, do trabalho em conjunto e do consumo de alimentação saudável.
Como ação institucional, o projeto permite à Copel o estimulo à segurança alimentar de comunidades socialmente fragilizadas, participar da construção de soluções sustentáveis para as cidades via parcerias, fomentar a responsabilidade social empresarial, alinhar ações da companhia a políticas públicas de inclusão social e se aproximar de seus públicos de interesse e contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).
Compra solidária
Por meio de uma ação chamada Compra Solidária, funcionários da Copel adquirem os produtos das hortas. Os coordenadores recebem os pedidos, fazem o levantamento da colheita e os produtos são entregues em sacolas sustentáveis às sextas-feiras. Cada sacola sai por R$ 15. As sacolas então voltam às hortas para trazer na semana seguinte os itens da produção seguinte.
Segundo Josué, o dinheiro recebido pelas vendas permite à horta pagar pela utilização da água, comprar o adubo, as mudas e ainda sobra uma renda extra para as famílias que trabalham no espaço.
A horta Augusta B deve passar em breve por uma revitalização para que ganhe condições de gerar ainda mais produção. Com isso, terá condições de ofertar os itens colhidos aos funcionários da companhia duas vezes por semana.
Segurança e capacitação
Regras importantes foram estabelecidas pela Copel para o funcionamento das hortas embaixo de linhas de energia. Um vídeo preparado pela companhia passa as orientações de segurança aos horticultores. As plantações devem ter no máximo dois metros de altura, e ficar a pelo menos quatro metros de distância dos cabos. O uso de agrotóxico é proibido, assim como também não é permitido construir ou estacionar carros embaixo das linhas de transmissão e distribuição. As torres jamais podem ser utilizadas como suporte tanto para o plantio quanto para irrigação ou qualquer outra atividade.
Toda a rega da plantação precisa ser feita manualmente, já que a água é condutora de eletricidade. E como há cabos sob a terra ligando as torres, em uma profundidade de um metro, não são permitidas escavações que possam atingir o equipamento. O trabalho em dias de chuva, de ventos fortes e de raios também é proibido. E todo o trabalho nos canteiros deve ser feito com equipamentos de proteção, como botas, luvas, óculos, chapéu e filtro solar para a proteção aos raios do sol.
Para a parceria, a Copel defende que é importante que as prefeituras já tenham programas de agricultura urbana ou familiar implantada, porque isso significa que já contam com recursos específicos para a atividade e também com técnicos e engenheiros agrícolas. Por sua vez, a Copel orienta constantemente os beneficiados com relação à segurança do trabalho nas áreas, e cuida da limpeza da área e instalação de cercas. "Em virtude da presença das linhas de transmissão e distribuição, por ser uma área energizada, nossos técnicos orientam sobre o que pode e o que não pode ser realizado no local", detalha Carmen.
A área precisa ser do município ou da Copel, embora mais recentemente o projeto tenha decidido por aceitar terrenos de terceiros (pessoa física ou jurídica) desde que o proprietário tenha passado à prefeitura um termo de comodato. É o caso da horta "Uma Nova Curitiba", no bairro Orleans.
A ideia do projeto é também reforçar a integração na comunidade, e para isso a Copel e prefeitura orientam o desenvolvimento da cultura do associativismo. A sugestão é que se encontrem um líder para cada horta, que supervisione o trabalho e esteja no local quando moradores da região aparecerem para fazer compras.
É o caso de Josué. "Os vizinhos sempre compram da gente, temos muitos clientes", conta. Nascido em Boa Esperança e criado na região de Campo Mourão, sempre esteve envolvido com o trabalho na lavoura. Até se fixar em Curitiba em 1992, onde se tornou motorista de ônibus. "A gente planta de tudo, hortaliças, legumes", detalha. No local, a Copel cedeu a ele um canto que estava ocioso e que havia se tornado local de despejo de lixo. Josué limpou a área e ali planta alguns outros itens que não estão na horta, como feijão, batata e milho. "A parceria é muito boa, porque oferecem suporte para nós, somos beneficiados. Os horticultores só têm a agradecer. Antes a gente produzia, mas estragava, porque não conseguia vender tudo. O programa da Copel veio a calhar. Vira uma fonte de renda para quem está envolvido no trabalho da horta", afirma.