Todo curitibano, nato ou de coração, conhece o trabalho de Maria Inès Di Bella, 73 anos. Afinal, quem nunca viu o monumento de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, situada estrategicamente bem no encontro das ruas São Francisco e Barão do Cerro Azul? Falando assim, pode até ser que os mais desatentos se confundam. Mas quem sabe se a referência for à “santinha” do Largo da Ordem?
A estátua de bronze de 2,5 metros e 650 quilos, a poucos metros da Catedral Basílica de Curitiba, é apenas uma entre tantas obras que ilustram o dia a dia dos curitibanos, criada pela escultora argentina radicada em Curitiba, Maria Inès Di Bella.
Maria é uma mulher pequena, bonita e simpática. Ao vê-la, a primeira coisa que se pensa é: como é possível uma pessoa tão delicada criar objetos tão grandes?
Maria Inès é escultora, desenhista e gravadora há 50 anos. Nascida em Buenos Aires, chegou ao Brasil em 1974. Curitiba não foi seu destino original. Como tantos criativos da época, foi atraída para a cidade do Rio de Janeiro, onde montou seu primeiro estúdio, no bairro de Santa Teresa, com vista para o Cristo Redentor.
No mesmo ano, porém, durante o Festival de Inverno de Ouro Preto, em Minas Gerais, Maria encontrou Alfi Vivern, outro artista argentino. O que Buenos Aires separou, o Brasil uniu. Maria e Alfi se apaixonaram e passaram a compartilhar vida e obra.
Com dois filhos, mudaram-se para Curitiba, em 1978, onde Maria montou seu primeiro ateliê na Rua Saldanha Marinho. Mais tarde, o espaço foi transferido para a Rua Carlos de Carvalho, próximo à Praça da Espanha.
No mesmo período, Maria começa a estudar gravura e litografia de metal na Casa da Gravura - com as artistas Uiara Bartira e Rosane Schoedel e também com o professor e escritor Orlando da Silva.
Maria tem uma obra extensa e sua produção é contínua. Parece que o trabalho de Sísifo, ao menos para essa delicada argentina, rende. Além de ser a artista criadora da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, é dela também o Leão da Manoel Ribas.
O nome correto da obra, de 1996, é Leão da Justiça Alado. “O monumento de bronze, em um pedestal alto - 9 ou quem sabe 12 metros –, é uma escultura que tenho muito carinho, resultado de um trabalho de pesquisa que eu fiz inspirado no Leão da Praça de São Marco, na Itália. Consegui fazer o meu próprio Leão da Justiça, uma homenagem aos italianos de Santa Felicidade, o que resumo como uma honra para mim”, afirma.
O rosto de Lala Schneider, em frente ao Teatro Guaíra, também é obra de Maria em parceria com o marido Alfi Vivern. A boa moça argentina não para de trabalhar - mesmo sendo mãe, avó e esposa. E a Vênus Curitibana, da praça Didi Caillet de Leão, no Alto da Glória, aliás, também é dela.
Sobre o trabalho mais emocionante em relação à cidade de Curitiba, Maria resgata algumas lembranças: “A montagem da escultura de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais é inesquecível. Nós chegamos lá de Kombi, nossa poderosa Kombi (brinca). Paramos ao lado da coluna de 12 metros, porque o guindaste iria pegá-la e erguê-la até o topo do pedestal. Nesse momento, juntaram-se pessoas em torno da estátua, pessoas em devoção que pegavam nas mãos da escultura. Foi um momento de muita emoção para mim. Quando o guindaste ergueu a obra, teve que empreender mais força para desprender as mãos das pessoas, que começaram a aplaudir a santa”, relembra.
Maria afirma que Curitiba deu a ela muitas oportunidades para trabalhar com a arte. “Amo Curitiba e sou grata a esta cidade”, garante.