Paulo Juk é um dos nomes que levou o rock paranaense ao cenário nacional com a Banda Blindagem.| Foto:
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Baixista e fundador da Banda Blindagem, Paulo Juk, 65 anos, define-se como um transformador cultural. A história de sua vida se mistura à história da banda fundada em Curitiba no final da década de 1970 e que levou o rock paranaense ao cenário nacional. É impossível ignorá-lo na história da música feita na capital paranaense nos últimos 40 anos.

Muita coisa já foi escrita sobre Paulo Juk e a Blindagem. Afinal, a banda tem 41 anos e é um orgulho local. Recentemente, Juk lançou um desafio em suas redes sociais: quer ouvir “você” cantando Blindagem. Entre os que têm encarado o desafio, muitas crianças - prova de que a quilometragem do grupo não afasta novos fãs.

A Blindagem é atemporal e grande parte de suas músicas fala sobre a natureza - muito antes disso ser tema dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ao falar de Curitiba e seus 329 anos, Juk brinca que a cidade é verde e que a Blindagem tem um dedo nisso: era comum a banda distribuir sementes e mudas de plantas em seus shows ao ar livre. Acontece que muitas pessoas não tinham como levar para casa e acabavam plantando no local. No Parque Barigüi, por exemplo, onde foram realizados diversos shows, ele garante que há a contribuição do grupo, ao se referir às árvores da mesma espécie.

VERBO ACREDITAR

“Tenho como meta sempre ‘acreditar’. Sou alguém que, desde pequeno, acredita em conseguir fazer suas coisas. Sempre conquistei tudo o que eu queria, pensei, imaginei. Isso faz parte da minha essência - acreditar, e acredito muito mesmo”, afirma.

O baixista nasceu em Nova Fátima, pequeno município a 328 quilômetros de Curitiba. De lá seguiu com a família para Telêmaco Borba, antiga Monte Alegre, onde passou toda a infância e aprendeu a gostar de música ouvindo sua mãe cantar as modinhas caipiras que tocavam no rádio. Tudo mudou em um Natal: uma prima da capital chegou com uma vitrolinha portátil e um disco dos Beatles.

Ele, na época com 8 anos, tornou-se fã dos garotos de Liverpool e já não queria mais cortar o cabelo: o mínimo que poderia fazer era adotar o corte tigelinha dos ingleses. “Daí até o segundo grau eu passei brigando com o diretor do colégio pra deixar meu cabelo comprido. Foi quando o sonho musical entrou na minha cabeça”, recorda.

PIÁ CURITIBANO

Com todo o respeito as suas origens e sua terra natal, Juk afirma ter se tornado “um piá curitibano”. “Foi Curitiba que possibilitou a conquista de todas as coisas que eu tenho. Curitiba sempre foi muito viva culturalmente. Naquela época (1981), por exemplo, tinha o Centro de Criatividade, o Teatro de Bolso da Praça Osório, as Ruínas de São Francisco, eram vários espaços que pulsavam e a banda sempre quis fazer músicas autorais. Então, todas as minhas memórias em relação a Curitiba são ligadas a essa parte cultural”, destaca.

Ele conta que, ao lado dos parceiros da Blindagem – que tinha nomes como o vocalista Ivo Rodrigues, que morreu em 2010, além de Alberto Rodriguez, Pato Romero e Paulo Teixeira, que estão na banda até hoje - chegou a morar no Teatro de Bolso, onde fizeram inúmeros shows lá. “No Teatro Paiol, em um ano chegamos a tocar umas 16 vezes. Aprendi a viver, a conviver e inclusive a entender o público curitibano: por um lado, todo mundo diz que é frio e eu digo que é um público exigente. E nós fomos a primeira banda a tocar em um barzinho em Curitiba”, analisa.

Além de músico, Juk já foi redator de agência de publicidade, comentarista em rádio e jornal, plantador de pêssego e até dono de uma confecção na Tunísia – época em que, relembra, chegou a comprar um carro do então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e codetentor do Nobel da Paz, Yasser Arafat.

As diversas tribos que presenteiam Curitiba em seus 329 anos.

Para divulgar os shows da Blindagem, Juk já fez anúncio em carro fúnebre pelas ruas de Curitiba. O fato ocorreu nos anos 1980 e a banda havia conseguido uma data para se apresentar no Pequeno Auditório do Teatro Guaíra. Só que o dia da semana não era grato: uma segunda-feira. Os demais integrantes do grupo começaram a dizer que segunda era um dia morto e que ninguém iria. Por conta disso, Paulo teve a ideia de alugar o carro funerário para fazer propaganda do show. Deu certo. O Guairinha lotou - de vivos.

Atualmente, o músico continua realizando um trabalho efetivo pela cidade, mais uma vez relacionado à cultura, porém na parte executiva. O baixista é diretor da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus) - todo compositor, para receber por seu trabalho e ter garantido seus direitos autorais, tem que estar ligado a algumas sociedades de música e a Abramus é uma delas. Juk é o responsável pelo escritório no Paraná.