No Largo da Ordem, Rua Jaime Reis, 86, um imponente casarão branco chama atenção: é o escritório Andersen Ballão Advocacia. Wilson Andersen Ballão, um dos sócios, é um homem de 66 anos de personalidade afável, extremamente carismático e com uma energia ímpar. Com sua característica barba branca, parece ter saído de Os Trabalhadores do Mar, romance de 1866 do escritor francês Victor Hugo.
O endereço do escritório de Ballão está a poucas quadras da casa de seu bisavô, o pai da pintura paranaense Alfredo Andersen, localizado à Rua Mateus Leme, 336, onde hoje é o Museu Casa Alfredo Andersen.
No escritório, nada menos que 150 profissionais da área jurídica e dezenas de auxiliares atuam com devido orgulho: o escritório é um dos mais admirados do Brasil de acordo com a publicação Revista Análise Advocacia 500.
Wilson Andersen Ballão, grande especialista em Direito Marítimo e Portuário – que assim como os personagens do romance de Victor Hugo eram profundos conhecedores do mar – Ballão é irreverente e afetuoso.
Em uma confraternização de final de ano, convocou todo o escritório para a calçada da Jaime Reis. Lá estavam desde auxiliares de contabilidade até os personagens típicos do Tribunal e que retratam tão bem o universo jurídico. De repente, o ônibus da Linha Turismo de Curitiba estaciona na calçada junto a todos. Era ali que seria a “festa da firma”.
Ballão, um apaixonado por Curitiba, locou o ônibus, abasteceu-o com bebida e comida e saiu com toda a equipe para o passeio de quatro horas pelos principais pontos turísticos da capital. Quem participou garante que o evento foi inesquecível.
NORUEGUÊS DE SANGUE CARIJÓ
A história do advogado é resultado das andanças de seu bisavô pelo mundo. Andersen, o pintor, um autêntico norueguês, passou de navio por Paranaguá, se apaixonou por uma índia carijó de Paranaguá, casou, mudou-se para Curitiba, teve quatro filhos e foi mestre de vários artistas paranaenses. Um legado que Ballão, bisneto, preserva, impulsiona e cuida com todo amor e respeito.
A afetuosidade de Ballão é comum a qualquer pessoa: dos amigos próximos e ilustres - como o Prefeito Rafael Greca, o cônsul geral da Noruega no Brasil, Jens Olesen e o músico Danilo Caymmi - até pessoas como o motorista de ônibus que, ao passar em frente ao seu escritório, acena sorrindo.
BALLÃO, POR ELE MESMO
“Sou curitibano, filho de pais curitibanos. Nasci em 22 de novembro de 1955, e passei os primeiros meses de minha vida em um casarão na Rua Mateus Leme,336, onde hoje é o Museu Casa Alfredo Andersen, meu bisavô.
Meu pai era juiz de Direito. Era uma época difícil. Mobilidade era uma palavra totalmente desconhecida. Fui criado no interior do estado. Moramos em muitas cidades do Paraná. Minhas recordações são das três últimas: Laranjeiras do Sul, Toledo e Paranaguá. Em Laranjeiras do Sul e Toledo, quando chovia, ficávamos “ilhados”, pois as estradas eram de barro puro.
MODELO VIVO
Quando vínhamos para Curitiba, nos períodos de férias, era uma festa. Até mesmo de modelo vivo pousávamos. Meu avô, Thorsten Andersen, dirigia o ateliê da então Casa de Alfredo Andersen. Eram horas a fio, totalmente imóveis, em troca de um sonhado Diamante Negro ou Sonho de Valsa.
CURITIBA ANTIGA
Desde os meus primeiros passos, fui levado por meus pais para todos os cantos daquela Curitiba antiga, especialmente pela minha saudosa mãe. Não havia loja que eu, com três anos, não conhecesse - pelo menos as vitrines.
Ao final do passeio diário, recebia a esperada recompensa: uma bomba na Confeitaria das Famílias ou um cachorro-quente acompanhado de suco de laranja de máquina, servido no copo cônico de papel.
As Lojas Americanas, em questão, ficavam na Rua Monsenhor Celso, esquina com Rua XV de Novembro, e não tinham escadas rolantes. Outras vezes, penso que por razões logísticas, a recompensa era uma Coca-Cola, tomada na volta para casa, no Largo da Ordem, em um armazém onde hoje temos a Casa Romário Martins. Esta era super especial, pois trazia em suas tampinhas brindes dos bonecos de Disney.
Para melhor ilustrar esses momentos, no Largo da Ordem, vou me valer de um texto literário, escrito por Karin Birckolz, acerca de minha infância:
“Anos cinquenta. O menino passeia com a mãe no Largo da Ordem. A igreja, no ponto central da cidade, é rodeada por construções históricas. No meio da praça, coberta de paralelepípedos, está o bebedouro, símbolo de épocas antigas. Tempo em que os cavalos saciavam a sede, vindos dos sítios nas cercanias do pequeno vilarejo. Lá os carroceiros vendiam os produtos de seu labor. Tudo era orgânico, como se diz hoje. Nem se sonhava com adubação química e muito menos com defensivos agrícolas.
A criança vai agarrada à mão da mãe, atenta a tudo a sua volta. Olhos azuis herdados de seu ancestral norueguês, bisavô materno. A pele não tão clara quanto a da genitora deixa facilmente transparecer o caldeamento de raças, marca registrada do brasileiro. Em suas veias também corre sangue de portugueses, italianos e índios.
Apesar da tenra idade, o pequeno já sabe ler. Isso é obra da avó, que com toda a paciência, sempre satisfaz a curiosidade do petiz de apenas quatro anos. Este quer entender as conjunções de letras das histórias em quadrinhos. Seu olhar pousa em uma tabuleta sobre a porta antiga de um dos prédios do logradouro, do lado oposto à Igreja da Ordem. Soletra, junta as sílabas e sussurra: “Aulas de Alemão”. Um homem alto e louro coloca os pés na soleira, ganhando a rua: o professor! Um dia, pensa o menino, hei de aprender esta língua!” (BIRCKHOLZ, Karin – Entropia Vivencial -, crônicas e Memórias, Curitiba 2010, pág.81).
QUANDO APRENDI ALEMÃO E CASEI COM A PROFESSORA DO GOETHE
Este dia demorou uns 20 anos para acontecer. Mas, em 1979, no mesmo Largo da Ordem, entrei no Instituto Goethe, e tive a minha primeira lição de alemão com a minha primeira professora de alemão. Casei com ela!
Aos 13 anos de idade, fiquei órfão de pai.
Aos 14 anos, perdi o meu melhor amigo, vítima de atropelamento.
Não foi fácil encontrar o rumo certo, mas os ensinamentos de meu pai me conduziram.
Em 1973, voltei para Curitiba e em 1979, me tornei advogado.
Em 1982 fui estudar na Alemanha. Minha vontade era a de lá permanecer, mas a professora não quis. Bendita decisão!
Assim como o meu pai, sou COXA-BRANCA ferrenho. Alegrias e tristezas fazem parte da vida. Tenho quatro filhos adoráveis, que trato com muito amor e carinho, apesar de três deles serem atleticanos.
LEIS
No que diz respeito à advocacia, me sinto quase que realizado. Estou à frente de um escritório reconhecido nacional e internacionalmente pela sua qualidade, seriedade e competência. Conto com a ajuda de profissionais, não somente os advogados, mas em todos os demais setores, competentes e leais. Meus sócios espelham o meu modo de ser, pensar e fazer.
Além da plena confiança, tenho muito ORGULHO deles!
Três, dos meus quatro filhos, me acompanham no escritório, o que me deixa muito feliz.
Depois de muitos anos e de muito trabalho, consegui me estabilizar na profissão que abracei. Sinto que recebo muita inspiração e proteção dos “céus”. Agradeço sempre por elas.
TRABALHO SOCIAL
Pelo meu trabalho perante à Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), onde fui seu dirigente por mais de 16 anos e sou vice-diretor, fui agraciado, em 2015, pelo Presidente da Alemanha, Jocham Gauges, com a Cruz de Mérito, a mais alta honraria daquele país. Sendo o único curitibano, até hoje, a ter recebido tal condecoração.
Hoje, além da ANDERSEN BALLÃO ADVOCACIA, compartilho meu tempo com três instituições de caráter filantrópico:
- Sociedade Amigos de Alfredo Andersen – criada em 1940 por intelectuais como Romário Martins, Dario Veloso, Theodoro De Bona, Lange de Morretes, João Turin e tantos mais. A Sociedade foi reativada no fim dos anos 80 a pedido do então Secretário da Cultura, Professor René Ariel Dotti, para dar apoio ao museu. Desde então, fizemos dezenas de exposições e eventos, tanto no Brasil quanto na Noruega. Sou seu presidente desde a sua reativação.
- Instituto Princesa Benedikte - Associação civil sem fins lucrativos, constituída em dezembro de 2010, que tem por objetivo o auxílio e colaboração a entidades que atuam no cuidado, proteção e abrigo de crianças em situação de risco e abandono. Sou seu presidente desde 2015, quando iniciamos a construção de seu prédio (cedido em comodato ao Lar Dona Vera, com quem temos uma parceria). Em 2018, sua Alteza Real Princesa Benedikte da Dinamarca, patrona da instituição, veio inaugurar o instituto.
- Instituto de Apoio à Orquestra Sinfônica do Paraná - Concebido pelo maestro alemão Stefan Geiger e fundado por amigos idealistas, tem como finalidade a realização e apoio de concertos e apresentações da nossa orquestra sinfônica. Sou seu presidente desde o início. Já patrocinamos dezenas de eventos. Dia 06 de março será o próximo, no Teatro Guaíra.
UM CURITIBANO INCANSÁVEL
Muitos pensam que já me aposentei, pois meus cabelos brancos levam a este pensamento.
Ledo engano!
Trabalho todos os cinco dias da semana. São intermináveis reuniões, presenciais e digitais, dezenas de pessoas querendo minha opinião ou atenção.
Atendo a todos, sem distinção.
Assim como projetos novos (que arrepiam a minha mulher) que me fascinam e me entusiasmam.
Agora mesmo, temos uns quatro ou cinco em andamento. Eles me dão força, mas também desgastam.
Aos finais de semana, quando poucos estão olhando, me dá prazer executar tarefas simples, como cozinhar molhos, sucos com os frutos colhidos na chácara em Piraquara, vizinha de Curitiba. Também preparar almoços para os filhos, noras e netos, coisas simples que me deixam muito feliz.
Gosto muito de ler. Não consigo dormir antes do livro cair das minhas mãos.
Acabo de ler um livro fantástico de um autor norueguês, Lars Christensen – Meu meio irmão.
Gosto muito do escritor espanhol Ildefonso Falcones. Espanhol é a minha língua predileta para a leitura, seguido pelo alemão. Português e inglês estão no mesmo patamar.
Em razão de um livro de ficção, escrito por um amigo brasileiro, conhecido por um acaso na Suíça, sobre o Caminho de Compostela, em 2015, minha mulher Karin e eu, incluímos em nossa rotina exercícios físicos orientados por uma excelente personal trainer. O objetivo era o de nos fortalecer para realizarmos a caminhada do Caminho de Compostela.
Em 2018 tivemos a felicidade de fazê-la, por um dos seus vários caminhos. Experiência maravilhosa, queremos repeti-la. Desde então não paramos mais.
Sou uma pessoa FELIZ com a vida, ainda que tenha muitas preocupações. Sou FELIZ em meu casamento e FELIZ em minha profissão. Também com a minha condição de CIDADÃO, sou FELIZ. Queria fazer mais, mas tenho minhas limitações. Sou um CURITIBANO FELIZ!
Wilson Andersen Ballão