A inserção dos filhos na gestão patrimonial é complexa, desde as questões mais básicas, de cuidados em relação ao patrimônio, até as mais avançadas, de compliance e eficácia das atividades
A inserção dos filhos na gestão patrimonial é complexa, desde as questões mais básicas, de cuidados em relação ao patrimônio, até as mais avançadas, de compliance e eficácia das atividades| Foto: Shutterstock

A máxima “grandes poderes demandam muitas responsabilidades” se aplica também à gestão de grandes patrimônios, não só para sua manutenção, como para seu crescimento, com o devido gerenciamento de riscos e oportunidades. Nesse contexto, muitas famílias têm procurado auxílio na condução dos seus ativos, recorrendo às family offices.

Trata-se, em resumo, de um serviço de consultoria para gestão de patrimônio voltado, em geral, para clientes de alta renda. Um family office reúne uma equipe integrada para coordenar todos os detalhes da estrutura financeira e da estratégia de patrimônio da família.

O serviço se diferencia da mera gestão de investimentos por pensar no todo da administração financeira de uma ou de várias famílias. “Não é somente uma escolha do melhor papel para se aplicar, já que muitos desses investimentos que a família faz implicam na avaliação de uma estrutura jurídica”, resume o advogado Nereu Domingues, sócio da DMGSA - Domingues Sociedade de Advogados. 

Segundo o advogado Jorge Nascimento, também atuante na área, essa ferramenta tem se tornado comum no campo empresarial diante de retornos financeiros que demandam estabilidade e expansão. “Eles têm visto que profissionalizar e trazer para o patrimônio a assessoria de pessoas faz eles crescerem ainda mais”, aponta.

No caso de gestão single family, a abordagem é mais exclusiva e focada no contexto daquele núcleo específico. Já na multi-family office, a gestão é compartilhada com mais de um núcleo.

“Em ambos, é preciso compreender os anseios e preocupações das famílias e auxiliar na administração do patrimônio, tanto no Brasil quanto no exterior, observando as questões legais, mas também burocráticas e emocionais, que muitas vezes afloram quando a gente fala de gestão de patrimônio”, detalha o advogado Bruno de Castro, também sócio da DMGSA - Domingues Sociedade de Advogados.

Apoio fiscal

O planejamento fiscal e tributário são aspectos relevantes nos serviços incluídos em family offices, já que os ativos daquele núcleo específico passam a ser tratados como negócios. É preciso, nesse sentido, escolher a melhor forma de maximizar, proteger e gerenciar os recursos. 

“Todos os impostos e questões legais e burocráticas inerentes à administração dos imóveis e do planejamento patrimonial acessório são os principais pontos de observação”, aponta Castro.

Essa assessoria é importante considerando também a estratégia a ser montada diante de impostos aplicados sobre operações envolvendo bens e ativos no Brasil e no exterior e o adequado planejamento sucessório da família ou mesmo no ingresso de novos membros, pensando nos moldes das famílias, por exemplo. 

“É importante compreender os bens da família e mantê-los bem mapeados, além de entender o momento que ela vive, seja de estabilizar, crescer ou de suceder. Ao mesmo tempo, acompanhar as movimentações legislativas, os potenciais aumentos de tributo, e outras questões”, explica o especialista.

A partir do mapeamento inicial do perfil familiar, a consultoria pode avaliar os ativos adequados para adquirir ou manter naquele núcleo, a depender de certas características, como perfil mais ou menos arrojado nos investimentos e da intenção futura. Se a escolha for por colocar capitais em imóveis, por exemplo, entra o serviço de assessoria jurídica, com o encaminhamento dos detalhes contratuais.

Outra vantagem de submeter a gestão patrimonial ao family office é transmitir gradualmente o conhecimento financeiro e de investimento às novas gerações, evitando perdas desde o início da transmissão dos negócios.

“A inserção dos filhos na gestão patrimonial, em geral, é complexa, desde as questões mais básicas, de cuidados em relação ao patrimônio, até as mais avançadas, de compliance e eficácia das atividades. Essa gestão permite esse ingresso, ainda que paulatinamente, de forma estruturada, em que os pais vão se sentindo mais seguros para entregar mais parcelas do patrimônio”, detalha o advogado Jorge Nascimento.

O especialista explica que esse tipo de estrutura também fica responsável por questões do dia a dia das famílias, como pagamento de contas e impostos, e pelos diversos serviços que os envolvem, como cuidados com aeronaves, barcos, e outros tipos de bens e rotinas, como viagens.

“Conforme a família cresce e a capacidade financeira da família permite, é natural que essas rotinas tomem conta e tornem-se bastante acentuadas. Tudo isso tem que estar no compliance, com tudo certinho, para trazer conforto para a família, de que está sendo bem cuidado”, diz.

Consultoria especializada

Nascimento explica que um family office bem estruturado abrange uma consultoria multidisciplinar cujos moldes variam conforme as necessidades de cada família. 

“Há que se ter obrigatoriamente assessores financeiros e jurídicos. Dependendo da característica, administradores são importantes, e há casos em que é possível ter um engenheiro ou outro profissional com uma qualificação técnica específica, própria do tipo de investimento da família”, aponta.

Justamente por envolver várias frentes de atuação, uma minuciosa análise inicial do perfil familiar, incluindo de documentos e de bens, é fundamental para montar uma boa estratégia de family office. “Dois dos grandes desafios nessa estruturação é organizar as informações e, depois, entender os interesses da família e fazer com que eles encontrem o que querem”, avalia.