Habilidades socioemocionais devem ser desenvolvidas ainda na infância.| Foto: Pixabay
Ouça este conteúdo

Quando o profissional se prepara para ingressar no mercado de trabalho, uma expressão que vai fazer parte do seu cotidiano é “soft skills”. Ou seja, as habilidades que dizem respeito ao seu comportamento social. A forma como ele vai lidar com as emoções, se comunicar com os colegas e a pressão diária do trabalho, entre outras questões da rotina corporativa. Assim como os conhecimentos técnicos – as “hard skills” –, essas habilidades podem ser desenvolvidas e, quanto mais cedo isso começar, melhores serão os resultados. O ideal é que esses conceitos comecem a ser trabalhados ainda na educação infantil, fase em que a criança começa o seu processo de socialização e a perceber as necessidades e diferenças do outro.

Para a educadora Laura Monte Serrat Barbosa, a valorização de outros saberes, além das disciplinas guardadas em propostas curriculares arquivadas, é fundamental no mundo de hoje. “Para melhorar o mundo, não basta a instrução. É necessário ir além da reprodução, tão forte ainda hoje”, argumenta Laura, que é pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A especialista destaca que a vida é muito mais do que escrever, ler e calcular de forma mecânica e previsível. Também é muito mais do que resolver problemas que já foram resolvidos, do que mostrar o que se aprendeu por meio de provas, ou ainda, de ser concebido como “bom ou mau aluno” por números. “O conhecimento necessário para resolver os problemas atuais é muito maior e não se restringe ao número de disciplinas com as quais a escola acredita preparar as pessoas para o mundo. Sem menosprezar as disciplinas já ministradas, não podemos deixar de admitir que aprender supõe criatividade, convivência, cooperação, cuidado consigo, com o outro e com o ambiente”, pontua.

LEGISLAÇÃO

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta que a educação básica no país precisa promover a formação e o desenvolvimento humano dos alunos. Assim eles serão capazes de trabalhar na construção de uma sociedade mais justa, ética, democrática, responsável, inclusiva, sustentável e solidária.

Laura destaca que o ser humano nasce com capacidade de criar, de resolver problemas, de lidar com conflitos, de se adaptar de forma ativa aos apelos do mundo e da vida atual. Porém, ela lembra que essas habilidades só serão desenvolvidas quando desafiadas. “Só se aprende a criar, a resolver problemas, quando somos colocados em situações nas quais precisamos lidar com o inusitado, com a novidade. Só aprendemos a resolver conflitos se pudermos conviver de forma mais autêntica, se trabalharmos em grupos, em equipes, contribuindo, concordando, discordando e, principalmente, respeitando”, argumenta.

A publicitária Debora Venturi Nabhan, 41 anos, conta que para matricular os dois filhos na escola – Guilherme, 9 anos, e Beatriz, 5 –, procurou uma instituição que oferecesse um complemento da educação que eles recebem em casa. O espaço, de acordo com a mãe, oferece diversas oportunidades para que eles manifestem suas opiniões e, dessa forma, desenvolvam o pensamento crítico.

São atividades que vão desde pequenas assembleias, em que os alunos debatem sobre temas polêmicos e definem um caminho a seguir, até projetos que buscam ressignificar a funcionalidade de alguns objetos. “As crianças são desafiadas a pensar qual seria uma outra utilidade para uma cadeira, por exemplo. Desta forma, elas são instigadas a usar a criatividade e a pensar fora da caixa, fugindo das padronizações comuns que a sociedade impõe”, explica Debora.

Na opinião da publicitária, estimular a criatividade, a comunicação e a resolução de problemas são questões fundamentais para preparar as crianças para o mundo que as espera no futuro. “Nós, pais, sabemos o quão competitivo é o mercado de trabalho atualmente. Acredito que quanto mais habilidades puderem ser desenvolvidas na infância, mais segura a criança ficará na vida adulta. Mas vale lembrar que tudo isso deve ser feito sem exageros e sem sobrecarregar os pequenos, pois a parte lúdica ainda é fundamental para o desenvolvimento”, enfatiza.