Evasão escolar: Censo Escolar revela que em 2021 foram registradas 627 mil matrículas a menos do que no ano anterior.
Evasão escolar: Censo Escolar revela que em 2021 foram registradas 627 mil matrículas a menos do que no ano anterior.| Foto: Pixabay

Depois de dois anos vivenciando a experiência das aulas remotas e a tecnologia cada vez mais presente no dia a dia da educação, estudantes, famílias e toda a comunidade escolar vêm se deparando com o questionamento sobre quais são os rumos da educação nos próximos anos. Se por um lado não há como negar que a pandemia de Covid-19 acelerou o processo de imersão digital dos estudantes e professores, por outro aprofundou o debate sobre a qualidade e a viabilidade dessa modernização em um país com realidades sociais tão distintas como o Brasil. Um fato é consenso: a tecnologia precisa deixar de ser encarada como adversária para se tornar uma aliada da educação.

Enquanto alguns especialistas falam de um futuro com aulas mediadas por tecnologia, utilização de ferramentas como realidade virtual, conexão com alunos e professores em diversas partes do mundo, a primeira etapa do Censo Escolar 2021 divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) no dia 31 de janeiro mostra uma grande evasão escolar no Brasil, principalmente nas fases iniciais de ensino.

CENSO ESCOLAR

O número de matrículas na educação infantil registrou queda de 7,3% entre os anos de 2019 e 2021. Ao todo, 653.499 crianças de até 5 anos saíram da escola nesse período. Em todas as etapas da educação, foram registradas, em 2021, 46,7 milhões de matrículas – cerca de 627 mil a menos em comparação a 2020, o que corresponde a uma redução de 1,3%.

Já nos anos finais do ensino fundamental houve relativo aumento do número de matrículas. Em 2020, o país contabilizou 11.928.415 estudantes do 6.º ao 9.º ano. Já em 2021, houve 11.981.950 matrículas nesses mesmos anos – um acréscimo de mais de 53 mil alunos. De acordo com o Censo, também houve aumento no número de matrículas no ensino médio. Foram registrados 7,8 milhões alunos em 2021 – um acréscimo de 2,9% em relação a 2020. Segundo o Inep, há uma tendência de evolução nas matrículas nos últimos dois anos do segmento educacional, com crescimento de 4,1% entre 2019 e 2021.

Na análise do professor e pesquisador Eduardo Fofonca, Ph,D. em Educação e pós-doutorado em Tecnologias e Didática, a educação básica sofreu profundas mudanças nas formas de ensinar e aprender com a adoção de tecnologias digitais. Esse cenário, segundo ele, ocorreu a partir da adoção efetiva desses novos recursos. “Por outro lado, evidencia o imenso abismo entre as classes sociais no Brasil”, observa.

Fofonca salienta a necessidade da formação contínua de professores, como também a relevância da implantação de programas e políticas públicas para a aquisição de dispositivos tecnológicos para professores e alunos. “É fundamental uma sensível política de inclusão digital e, sobretudo, profissionais da educação que planejem suas práticas para que o retorno paulatino das aulas possa dar conta de toda mediação pedagógica que foi perdida com a pandemia”, comenta.

O pesquisador avalia que ocorreram avanços entre os estudantes que não adotavam tecnologias mais evoluídas. No entanto, destaca a importância de uma pedagogia que compreenda que muitos alunos evadiram com a pandemia e o sistema de ensino deve reencontrá-los.

A farmacêutica Luciana Wollmann, 44 anos, mãe da adolescente Manuella Wollmann, 13, que está no 9.º do ensino fundamental, avalia que a educação básica evoluiu significativamente desde os seus tempos de colégio, na década de 1980, porque além do avanço das ferramentas de ensino, melhorou também o conteúdo apresentado aos estudantes.

No entanto, ela é bastante crítica com o formato de ensino adotado nos dois últimos anos. Para ela, os estudantes tiveram grande prejuízo educacional durante a pandemia e classifica o ensino remoto, no formato como foi adotado, como “um mal necessário”. “A escola não serve somente para aplicação de conteúdos, mas também para o convívio em grupo, para interações sociais dos mais diversos tipos, para a disciplina tão necessária na vida adulta, para aprender a lidar com vitórias e frustrações longe das asas protetoras dos pais. O ambiente escolar, em todas as suas facetas, é de extrema importância na formação do indivíduo. O ensino remoto tolheu tudo isso”, pontua.

Luciana também destaca a questão das diferenças sociais que devem acabar refletindo em toda sociedade nos próximos anos. “Existiam diferenças gritantes entre alunos de escolas particulares e das escolas públicas em geral. As ferramentas tecnológicas necessárias não estão disponíveis igualitariamente a todos. E mesmo aos que têm acesso a elas, o tédio de passar horas sozinho na frente de uma tela, não ajuda em nada a atenção necessária”, enfatiza.

Eduardo Fofonca analisa que o mercado educacional está em plena evolução. Mas reforça que essa expansão é para a fatia do mercado que se abre para criar dispositivos para uma educação híbrida crítica, criativa e emancipatória. “Não é simplesmente mesclar as modalidades presencial e a distância, mas oportunidades de estratégias para que os estudantes aprendam a estudar com autonomia e princípios na pesquisa nos diversos métodos existentes atualmente”, sinaliza.