Na educação, o metaverso deve estar associado a outras ferramentas de aprendizagem.
Na educação, o metaverso deve estar associado a outras ferramentas de aprendizagem.| Foto: Pixabay

A aceleração digital é uma realidade que ganhou um novo contorno no ambiente educativo após a pandemia de Covid-19. Depois mais de anos do início das aulas remotas, a tecnologia passou a ter um papel ainda mais importante no processo de ensino. E, em 2021, um novo protagonista entrou em cena – ainda que de forma tímida: o metaverso. Muito se ouviu falar dessa nova ferramenta e de seus impactos nas mais diversas áreas, entre elas na educação. Porém, até o momento, pouco se sabe como isso se dará na prática e até que ponto isso é positivo para as diversas fases de aprendizagem.

O empresário e especialista em soluções tecnológicas Frederico Stockchneider, diretor de tecnologia na InfoWorker Tecnologia e Treinamento, explica que o metaverso se propõe a ser um misto entre o mundo real e o virtual, uma conexão entre os dois ambientes, onde será possível estudar, trabalhar e se relacionar. Ele ressalta, no entanto, que essa ferramenta ainda não está madura o suficiente para ser utilizada em todas as suas possibilidades. E, no segmento educacional, deve se somar a alguma outra solução já existente, buscando transformar o processo de aprendizado em um jogo através da gameficação.

“A princípio, o metaverso deve precisar apenas de internet e computador, o que é mais simples do que é a gameficação. Será possível implementar recursos como óculos virtual, hologramas e outros recursos sensoriais para proporcionar uma experiência mais profunda”, explica.

REFLEXOS NA EDUCAÇÃO

A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Itaú Social, realizou uma pesquisa sobre o planejamento escolar do ensino fundamental. Os resultados apontaram que as escolas têm usado estratégias pedagógicas combinadas aos recursos digitais em suas metodologias para inserir os estudantes nesse novo momento.

Tornar a educação mais imersiva ou fazer valer os recursos digitais é um desafio que já vem sido encarado pelas instituições de ensino em algum nível. No ensino fundamental no Brasil, cerca 52,7% das escolas adotam estratégias combinadas (presencial e remota), 34,6% apenas presenciais e 12,7% apenas remota nos anos iniciais, de acordo com a pesquisa. Já nos anos finais do ensino fundamental, os dados apontam que 53% das instituições usam estratégias combinadas, 33% optam pelo presencial e 14% totalmente remoto.

PRAZOS

Para Danilo Yoneshige, especialista em Tecnologia Educacional (TE) e CEO da Layers Education, esse cenário deve mudar ainda mais até que o metaverso seja implementado nas instituições de ensino. “De modo geral, não acredito que nos próximos cinco anos o metaverso esteja inserido no ambiente educacional em função das limitações técnicas”, analisa.

De acordo com ele, o metaverso pode sim melhorar a qualidade da aprendizagem dos alunos. “Eles poderão visitar lugares que antes só eram conhecidos por livros, como a Grécia antiga ou o Museu de História Natural de Nova Iorque. Jogos educativos irão despertar ainda mais o interesse dos estudantes ao proporcionarem uma vivência imersiva no metaverso”, afirma.

Do ponto de vista pedagógico, Juliana Ferrari, que é mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e fundadora do projeto de pesquisa global em educação Teachers of the World, afirma que será necessário definir regras claras de convivência nesse novo ambiente. “É preciso estabelecer um pacto ético para garantir que ele seja proveitoso e bom para todos”, destaca a Juliana, que também é gerente de Desenvolvimento Educacional na Camino Education.

Juliana salienta que serão necessárias ações e simulações para preparar as crianças e adolescentes, além de acompanhar o comportamento digital dos filhos e estudantes nas plataformas que eles já usam. Ela destaca ainda que cuidar da saúde e da segurança virtual das crianças e adolescentes é uma tarefa para ser feita desde já. “Conversar sobre cyber bullying, limites, vícios, comportamento auto lesivo e todas as outras questões que as interações podem promover é uma tarefa do dia a dia. O metaverso será apenas um desdobramento da vida que já vivemos”, explica.

Para a especialista em proteção da dados, Janete Bach Estevão, diretora comercial na Datalege Consultoria Empresarial, a ruptura das fronteiras entre o mundo físico e o virtual pode acarretar problemas no desenvolvimento de crianças e adolescentes, podendo confundir os limites entre a vida real e o ambiente digital, com implicações sociais e relacionais. “Uma criança pode observar um monstro em realidade virtual e acreditar que ele é real. Principalmente no caso das crianças menores, cujo comportamento está relacionado à ideia do que é concreto,
reforçado pela experiência sensorial de realidade aumentada do metaverso”, aponta Janete, que é DPO (Data Protection Officer) e doutora em Tecnologia.

Ainda que cuidados com outros efeitos colaterais tenham que ser tomados, a especialista destaca que as faixas etárias mais próximas da pré-adolescência e os adolescentes têm uma necessidade da autoafirmação e reforço da autoestima, fatos peculiares à faixa etária idade. Isso pode levá-los a ter uma percepção de uma vida bem sucedida mais dependente do que ocorre no mundo virtual em detrimento do mundo real.

SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO

Além dos desdobramentos pedagógicos e sociais, a privacidade dos estudantes é um ponto que merece atenção, é o que afirma o advogado especialista em Direito Digital e Segurança da Informação, Guilherme Guimarães. De acordo com ele, as BigTechs – as grandes empresas de tecnologia que dominam o mercado, como a Google, Meta (antigo Facebook e outros pertencentes a Mark Zuckerberg), Apple, Microsoft, etc.) poderão alimentar suas bases de dados com as informações geradas pelos usuários no metaverso. “Isso é um risco enorme para a privacidade. Além disso, o uso excessivo e abusivo do metaverso poderá se transformar no mais novo vício e gerar usuários dependentes dessa ferramenta”, pondera o advogado.

Sobre esse cenário, Guimarães acredita que a tendência é as pessoas perderem cada vez mais a privacidade ao navegar no mundo virtual. “Certamente as empresas utilizarão um volume gigantesco de dados que serão gerados pelos usuários nesse universo”, afirma.

Para que o ambiente seja seguro para os estudantes, principalmente durante a infância e adolescência, o advogado acredita que a supervisão dos responsáveis e educadores será essencial, além de um acompanhamento rigoroso das autoridades legais. Guimarães aponta ainda que a segurança dos dados pessoais dos menores será um dos principais desafios das instituições de ensino ao aplicar essa nova ferramenta.