O impacto da pandemia de Covid-19 entre os estudantes vai muito além da falta de socialização e das aulas presenciais durante vários meses seguidos. O relatório The State of the Global Education Crisis: A Path to Recovery, lançado em dezembro de 2021 pelo Banco Mundial, em parceria com UNESCO e UNICEF, buscou quantificar isso em cifras. Pelas projeções do estudo, crianças e jovens de todo o mundo correm o risco de perder cerca de U$ 17 trilhões em rendimentos ao longo da vida – cerca de 14% do PIB mundial atual – devido ao fechamento de escolas. Em 2022, uma parcela significativa dos estudantes matriculados no ensino fundamental e médio ainda precisa se adaptar aos novos modelos e formatos de aprendizagem para conseguir retomar a vida acadêmica.
Porém, as dúvidas em torno de uma nova onda da doença voltaram a preocupar escolas, pais, educadores e estudantes diante da possibilidade de ocorrer novamente a interrupção das aulas presenciais ou a retomada do formato virtual ou híbrido – no qual os alunos estudam parte do tempo em formato remoto e outra parte presencial, na escola.
Além dos prejuízos para a formação dos alunos, a possibilidade de novas paralisações pode acentuar ainda mais outros problemas que surgiram ou foram evidenciados com o isolamento social.
PRODUTIVIDADE FUTURA
Na época do lançamento do relatório, Jaime Saavedra, diretor global de Educação do Banco Mundial, destacou a perda de aprendizagem vivenciada por muitas crianças, que ainda não puderam retomar a rotina escolar, principalmente nos países de baixa e média renda. “O aumento potencial da pobreza de aprendizagem pode ter um impacto devastador na produtividade futura, nos ganhos e no bem-estar para esta geração de crianças e jovens, para suas famílias e para as economias mundiais”, observou.
A educadora Sandra Mara Bozza Martins, que atua como assessora de escolas públicas e privadas no Paraná, salienta que, assim como os estudantes – e suas famílias – encararam entraves nos mais variados níveis, a escola também precisou se reinventar e se adaptar a esse novo cenário. “Para a escola, ainda que tivesse os meios de comunicação adequados, causou um estranhamento enorme. Não mais foi possível passar a tarefa, explicar e corrigir. E os docentes tiveram de se reinventar. Uns com muito sucesso e outros com frustração e muito trabalho. De qualquer forma, creio que todos aprenderam e cresceram. Mas nós sabemos a que preço”, analisa.
DISTÚRBIOS
Para Patricia Nascimento, 42 anos, mãe de Augusto Vieira (foto), 10, que está no 9.º ano, foi uma fase bastante difícil, não apenas do ponto de vista pedagógico, mas também social e de saúde. Segundo ela, o menino não conseguiu absorver o conteúdo da mesma forma que o faria no formato presencial. Além disso, a mudança drástica de rotina desorganizou a rotina da família. “Ele fazia atividades esportivas seis vezes na semana, ia ao clube brincar, tinha uma vida agitada de criança. Com a pandemia, não fez mais nada disso acabou engordando pela falta dos esportes e também pela ansiedade em ficar em casa. Até sonambulismo ele desenvolveu”, relata.
Apesar dos inúmeros desafios que marcaram o período, Sandra Bozza diz acreditar na capacidade da criança de aprender em qualquer ambiente, seja ele virtual ou presencial. E que é possível ir muito além do que se faz em sala de aula. “Quer se refira ao livro didático, quer se refira às explanações que tanto fazemos em classe e/ou à explicação das tarefas”.
A educadora destaca que a aprendizagem é um processo de troca, diálogo e eterno reinventar com o que se sabe e será aprendido. E o papel do professor, afirma, é o de ser um mediador que empreenda boas práticas de reflexão sobre o assunto a ser tratado e tenha clareza dos diferentes processos de aprendizagem.