Assistir a uma aula de Física com o professor Raphael Corrêa pode parecer uma grande brincadeira para os alunos do 9.º ano do Colégio Dom Bosco. Ou, ainda, a extensão de uma realidade com a qual eles já estão acostumados: o mundo dos jogos. Para explicar à turma os parâmetros de medidas adotados no mundo (metros, quilômetros, jardas), Corrêa usa conceitos da “gameficação” – uma das tendências no sistema moderno de educação que usa elementos de jogos para engajar os estudantes em busca de um objetivo.
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Em um exemplo recente, a turma foi dividida em pequenos “reinos” para estudar o sistema internacional de medidas. Cada grupo de estudantes optou por um objeto para usar como referência de medida, que poderia ser desde o estojo escolar até a cadeira. Cada “reino” desenvolveu seu próprio enredo, bandeira e idioma e partiu para os cálculos e descobertas sob a coordenação do professor. Ao final, os resultados foram compartilhados coletivamente e comparados com as referências adotadas pelos outros reinos. O objetivo, explica Côrrea, é estimular os estudantes a compreender o lado prático da matéria e desenvolver habilidades não-cognitivas, como trabalho em grupo, liderança e empreendedorismo.
A iniciativa faz parte do conceito Grow UP, uma nova metodologia desenvolvida pelo Dom Bosco na qual o estudante deixa de ser apenas um receptor de informações e passa a construir o próprio conhecimento. Segundo o coordenador pedagógico de Ensino Fundamental do colégio, Ricardo Vieira da Silva, a estratégia faz parte das metodologias ativas debatidas hoje na educação, que vão ao encontro do estudante da atual geração, que já nasceu com muito acesso à informação, mas que precisa de orientação para saber qualificá-la. “O professor deixa de ser apenas um transmissor do conhecimento e assume a função de orientar esse processo junto aos alunos”, analisa Silva.
O consultor e coordenador de projetos de tecnologia educacional Carlos Seabra, da Oficina Digital, destaca a importância da tecnologia dentro das escolas atualmente que, quando empregadas corretamente, estimulam o que ele chama de “empreendedorismo cognitivo”, uma associação entre professores focados para impulsionar a pesquisa e estudantes com espírito crítico para isso. “O aluno passa a ser o empreendedor do próprio aprender. A escola deve estar preparada para isso e a tecnologia é uma grande aliada”, avalia.
“Um professor chato com tecnologia só deixa a aula ainda mais chata, porque a tecnologia só vai amplificar os defeitos daquele professor. É o que acontece quando uma pessoa desafinada começa a cantar. Ao ligar o microfone na caixa de som, ela vai continuar desafinada, mas um número muito maior de pessoas vai perceber isso”.
Carlos Seabra, consultor e coordenador de projetos de tecnologia educacional.
A empresária Vanessa Goulart Heineberg, 44 anos, tem quatro filhos que estudam no Dom Bosco, na unidade Mercês: Antônio, 6; Clara, 9; Nicolas, 12; e Gabriel, 15. Ela, que também foi aluna do colégio, fala que os filhos estão bem adaptados à nova metodologia e sempre chegam em casa contando novidades. “Eu estranhei um pouco, mas, para eles, que são de outra geração, é tudo muito natural. São todos bons alunos e se sentem muito à vontade com as novas propostas apresentadas pela escola”, comenta.