Restrições alimentares têm sido algo frequente entre adultos e crianças. Mas a forma com que cada um encara essa situação é diferente. Paras as crianças, geralmente é mais difícil porque muitas vezes elas não entendem os motivos de não poderem consumir determinados tipos de alimentos. E se em casa já é um desafio controlar a alimentação infantil, no ambiente escolar esse trabalho depende ainda da parceria de toda equipe pedagógica.
Quando se trata das alergias alimentares, a nutricionista clínica e funcional, coach e chef de cozinha Marinês Cristine Silveira explica que os pais precisam ficar atentos aos primeiros anos de vida da criança, porque doenças alérgicas são bastante comuns na infância. “Os primeiros anos de vida da criança representam uma fase de maior suscetibilidade às alergias alimentares devido à imaturidade gastrointestinal e do sistema imune da criança”, afirma.
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E foi isso o que aconteceu com a pequena Alice, 7 anos, filha do casal Fernanda e Francisco Withers. Eles descobriram cedo que a menina era alérgica a amendoim e cereais. Aos 5 anos, ela foi diagnosticada com doença celíaca, uma condição crônica, autoimune, em que a pessoa não pode ter contato com o glúten, uma proteína presente em diversos tipos de cereais.
Além da restrição ao consumo de produtos com glúten, pessoas celíacas precisam cuidar inclusive por causa da contaminação cruzada na preparação dos alimentos. Ou seja, mesmo alimentos que não têm a proteína podem estar “contaminados” se tiverem sido produzidos em um ambiente onde o glúten está presente. O uso de talheres e acessórios de cozinha já utilizados em outros alimentos é suficiente para essa contaminação cruzada.
Fernanda e Francisco explicam que quando Alice tinha 3 anos, eles começaram a perceber que o crescimento da garota não acompanhava o dos coleguinhas da mesma faixa etária. Depois de diversos exames, veio o diagnóstico positivo para a doença.
Como não se trata de uma alergia e sim uma doença autoimune, a menina não apresentava sintomas comuns de alergia, como dor e diarreia, apenas baixa estatura.
A primeira atitude da família foi mudar radicalmente a alimentação de todos. Qualquer alimento que apresentasse glúten na sua formulação seria eliminado. “Nós todos seguimos a dieta, não é permitido a entrada de glúten em casa”, afirma a mãe.
O segundo passo foi explicar a condição para Alice, que desde do começo aprendeu a lidar bem com a situação. “A maior dificuldade é ela passar vontade de comer algo que não pode. Sempre explicamos que, se ela quiser alguma coisa, tem que nos avisar para que a gente veja se dá para adaptar alguma receita. Ela entende que, naquele momento, não vai poder comer, só depois”, conta Fernanda.
A psicóloga Priscilla de Castro Campos Leitner, especializada em Comportamento Alimentar, salienta que em situações como essa, a conversa franca e aberta é fundamental para que a criança não se sinta punida. “Os pais precisam lidar com a situação de forma natural, acolher o desconforto natural da criança e explicar os motivos pelos quais ela não pode ingerir o alimento”, recomenda.
Estratégias na lancheira e na agenda
Veja algumas dicas da nutricionista Marinês Cristine Silveira para que a criança possa ir para a escola e conviver com os colegas sem sustos.
- A escola precisa ser parceira da família no atendimento à criança. A família deve informar a instituição sobre o quadro da criança e todos os cuidados necessários. Todos devem estar cientes dos sintomas da alergia alimentar e sempre observar a criança para qualquer manifestação diferente;
- A família deve solicitar à escola cuidado redobrado com relação ao uso de utensílios como pratos, talheres e copos, uma vez que algumas alergias podem ser desencadeadas a partir do compartilhamento desses acessórios;
- Quando é a família que envia o lanche da criança, deve verificar se há uma padronização do cardápio ou eventos comemorativos para enviar alternativas alimentares para a criança, evitando que ela fique com vontade de provar outros alimentos. O ideal é enviar tudo identificado;
- Pais e professores devem manter uma comunicação constante pela agenda – ou por outros canais de comunicação estabelecidos pela escola – a respeito da alimentação da criança.