Katya e Luiz precisaram fazer o acompanhamento das atividades remotas para auxiliar os dois filhos.| Foto: Arquivo Pessoal
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Aulas remotas, ensino híbrido, revezamento de alunos, dúvidas sem fim. O cenário da educação em 2020, em função da pandemia de Covid-19, corre o risco de se repetir parcialmente no próximo ano ou ainda ganhar novos contornos. Diante dessas e de tantas outras incertezas no panorama educacional no Brasil, a Gazeta do Povo divulga, a partir desta quarta-feira (14), a versão 2020-2021 do Guia de Matrículas.

Cenário da educação em 2021 ainda é uma incógnita para escolas, professores e estudantes.| Foto: Pixabay

O material traz conteúdos exclusivos com especialistas da área de educação para retratar os possíveis contextos com que famílias, estudantes, escolas e professores podem ter que lidar no próximo ano. O Guia de Matrículas também reúne informações dos colégios da rede privada de ensino em Curitiba e Região Metropolitana.

São mais de 200 instituições de ensino, com as linhas pedagógicas adotadas, atividades oferecidas, além de outras informações úteis para quem está buscando uma escola para matricular seus filhos.

Impacto educacional

Para a psicopedagoga e escritora Isabel Parolin, o distanciamento social provocado pela pandemia, que resultou no fechamento das escolas por boa parte deste ano, teve um impacto muito grande no sistema educacional em todo o mundo. Isso, segundo ela, não apenas do ponto de vista metodológico e de aprendizagem, mas inclusive social. “As crianças sentem falta dos rituais da escola, das aulas de futebol, da cantina, das aulas de artes, de música e das aulas tradicionais”, observa.

De acordo com Isabel, no campo da aprendizagem há o problema da falta de acesso ou de afinidade às novas ferramentas tecnológicas, além da dificuldade de boa parte dos estudantes em administrar o tempo. No aspecto metodológico, a psicopedagoga destaca o distanciamento imposto ao processo de ensino. “A tela acaba sendo um intermediário entre as crianças e os professores. Além disso, muitos estudantes só têm aulas gravadas. Ainda não é possível saber o impacto que isso tudo trará”, pontua.

Diretrizes

Nos últimos dias, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou a validade do ensino remoto até dezembro de 2021 e a junção dos anos letivos de 2020 e 2021. Essas diretrizes valem para todas as redes do país, desde a educação básica até o ensino superior, mas não são obrigatórias. O texto ainda deverá ser homologado pelo Ministério da Educação (MEC) e, depois, as redes de ensino poderão aderir ou não à proposta.

Caso o ensino híbrido venha realmente a ser adotado, Isabel salienta que a metodologia das escolas e as condutas de professores e de estudantes também precisarão se adequar a esse novo cenário. “No ensino híbrido entra em pauta a questão da autorregulação, do estilo de aprendizagem de cada um. É possível ter o mesmo objetivo, o mesmo tema de aula. Porém, a avaliação, a cobrança sobre o aluno pode depender do nível de maturidade que ele venha a apresentar”, explica.

Para ela, esse modelo é interessante por se tratar de uma opção possível no mundo pós-pandemia ao misturar aulas online, gravadas e presenciais. “A pandemia nos ensinou que a informação pode ser entregue numa plataforma, numa aula bem gravada. Porém, dar significado a isso depende do entendimento do professor”, argumenta a psicopedagoga.

Tecnologia

Taciane Lemes Ribas, que é especialista em designer instrucional EaD e que trabalha com o desenvolvimento de metodologias e-learning, destaca que a pandemia trouxe a necessidade da adaptação da escola, da família, dos alunos e dos professores. Ela lembra que mesmo instituições de ensino que estavam mais preparadas para o ensino remoto tiveram dificuldades em implementar os novos fluxos de ensino. “Ficou claro que é fundamental melhorar muito esse processo para ter um engajamento adequado dos estudantes”, ressalta.

Engajamento, comunicação, tempo, organização e questões referentes à tecnologia são alguns dos desafios a serem superados nessa nova configuração de ensino, pontua a especialista.

Taciane lembra ainda que, ao desenvolver alternativas para o ensino básico, as escolas precisam levar em consideração que se trata de um processo que vai além da criança e que deve envolver todo o contexto ao redor dela. Para isso, itens como tutoriais ensinando a mexer na plataforma, a participação dos professores e demais integrantes da equipe pedagógica e a diversão nas atividades desenvolvidas remotamente são fundamentais para se obter o engajamento dos alunos. “Para 2021, as escolas precisam pensar seriamente em simplificar a aprendizagem. Não se deve ter medo da tecnologia, ela deve ser usada para promover a gamificação da aprendizagem”, salienta, ressaltando a importância de o estudante vivenciar as experiências propostas em aula.

A especialista destaca que as plataformas digitais vieram para ficar no mundo pós-pandemia e isso precisa ser considerado em todos os níveis de ensino. “A educação não vai continuar a mesma de antes da pandemia. É necessário inovar, buscar novas ferramentas. A tecnologia deve ser encarada como um recurso que complementa, que agrega ao ensino”, enfatiza.

Realidade quase virtual

Katya e Luiz precisaram fazer o acompanhamento das atividades remotas para auxiliar os dois filhos. | Foto: Arquivo Pessoal

Com dois filhos no ensino fundamental - Maria Eduarda, 12 anos, no 7.º ano do fundamental, e Rafael Augusto, 8 anos, 3º ano do fundamental –, o casal de professores universitários Katya Naliwaiko e Luiz Claudio Fernandes vem encarando as aulas a distância como uma estratégia encontrada para manter o vínculo com a escola. “Deixar as crianças fora da escola seria muito prejudicial. Mas, no aspecto da aprendizagem, o saldo final não deve ser o mesmo no comparativo com estudantes que tiveram o conteúdo no ensino presencial”, comenta Katya.

Apesar de reconhecer o esforço da escola para manter o ritmo de aprendizagem, Katya relata que em sua casa foi necessário fazer um acompanhamento rotineiro para que os filhos não se perdessem em meio às aulas e tarefas. “No começo, para a Maria Eduarda foi algo interessante. Já o Rafael nunca se adaptou totalmente, pois ele sente muita falta da escola, do espaço escolar, dos amigos. Ele tem dificuldade de organizar o tempo, de fazer as tarefas. Tudo isso criou uma grande confusão na cabeça dele”, conta.

Para Katya, a normalização do ensino só deve ocorrer com a imunização da população, seja a partir do desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19 ou mesmo por contágio. “A humanidade já vivenciou algumas condições patológicas que provocaram mudanças no modo de viver. Claro que elas não foram tão drásticas. Eu acho que é possível retomar a vida normal, mas só depois de uma intensa imunização. As medidas de enfrentamento adotadas até agora são bastante eficazes. Mas não consigo imaginar as crianças em idade escolar seguindo todas essas regras”, argumenta.