Se as chamadas “Fake News”, ou notícias falsas, já demonstraram poder suficiente para influenciar a eleição presidencial de uma das democracias mais sólidas do planeta, que efeitos elas podem ter quando falamos de um país em que os desafios educacionais são ainda maiores?
O problema, como exposto no exemplo da eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, é mundial, mas a melhor arma de combate às Fake News pode estar bem ao nosso alcance.
Educomunicação. Uma expressão não tão nova, mas que nunca esteve tão atual. Nas palavras da doutora em Comunicação Rosa Maria Dalla Costa “numa sociedade digitalizada, conectada, online, é cada vez mais importante que as pessoas aprendam o que é isso, que linguagem que está por trás disso”.
“A Educomunicação é uma leitura da realidade. É preparar os indivíduos para entender esses meios todos que estão aí para poder se expressar através deles, para ter um espírito crítico, para desconfiar. A gente dizia, nos anos 80, que o telejornal não é a realidade, é uma maneira de ver a realidade. Isso era a chave da Educomunicação. Hoje é entender que nem tudo que está aí é a realidade”.
Ensinar crianças e adolescentes em sala de aula a diferenciar notícias e informações verdadeiras das falsas também passou a ser uma missão do professor. Na medida em ele tem cada vez mais forte o papel em sala de aula de ensinar o aluno a aprender e a buscar suas fontes de informações, ajudar a desenvolver esse senso crítico é fundamental.
“A responsabilidade com as novas gerações é de toda a sociedade, mas algumas pessoas têm um papel social mais relevante, como o jornalista e o professor que está em sala de aula. Mas ele precisa estar preparado para isso. Ele tem que estar antenado, atualizado. Ele também tem que ser alguém que verifica, que não é iludido por qualquer notícia”, afirma Rosa. Importante destacar que não se espera que o professor tenha todas as respostas, mas que ele tenha a autoridade e as condições de guiar seus alunos neste aprendizado.
De acordo com Mariane Maio, gestora estadual do Projeto Ler e Pensar, o mundo mudou muito e o século XXI está começando dentro de uma cultura baseada na tecnologia digital. “A proliferação de informações e notícias não está só nas mãos de algumas pessoas, mas todos podem gerar conteúdo para alimentar a internet. Por isso, o uso da rede requer responsabilidades e nós do Ler e Pensar queremos ajudar a capacitar os professores para que aprendam a identificar e ensinem seus alunos a entenderem o que é uma notícia falsa”.
Jornalismo em sala de aula
Neste contexto, aumenta a responsabilidade do jornalismo profissional, que não pode mais ser apenas aquele que dá a notícia. Hoje, com as redes sociais, a divulgação de um fato é imediata. Qualquer pessoa pode compartilhar um acontecimento em tempo real com vídeo (live), formato em que o público “vê com os próprios olhos” a situação. O jornalismo precisa ir além disso.
Na opinião da professora Rosa, o jornalismo está mudando o seu papel de “informante” na sociedade e passa a ter muito mais o papel de analisar, de criticar, de mostrar o que é relevante.
“A digitalização da sociedade está aí, vai acontecer e a gente precisa preparar as crianças e os jovens para essa digitalização. Se a gente pegar dados de acesso à internet, o Brasil está lá na frente. Mas se a gente aprofunda esses dados do ponto de vista da qualidade, vai ver que está muito atrás. A pessoa tem acesso, mas ela não usa esse acesso para se expressar, para adquirir conhecimento, para produzir conhecimento. É o acesso que favorece Fake News, muito superficial”.
O conceito de educação para entender melhor a mídia, suas linguagens e seu processo de produção e distribuição não é recente, ele existe desde os anos 80. “Com essa explosão de tecnologia, hoje parece que a grande educação para os meios é mostrar justamente que nem tudo que está aí é verdade, que a pessoa tem que duvidar da fonte, ela tem que verificar e questionar tudo isso. E onde ela tem espaço para isso? Na escola. Mas a família também é importante, tem que discutir”, alerta Rosa.
Voltando ao conceito de Educomunicação, hoje seu principal papel é mostrar que nem tudo que é publicado é verdadeiro, uma vez que todo mundo pode publicar. “Com isso esclarecido, o professor tem que ensinar critérios, ensinar formas de verificar, de checar, de sempre ouvir mais de uma opinião. E a escola tem que abrir espaço para isso. Não pode dizer ‘isso não é assunto sério, vamos voltar para a aula’. Tem que discutir isso”.