A tecnologia já está tão incorporada em nossas vidas, que, por vezes, ela se torna imperceptível, mesmo trazendo diversas facilidades para nossa rotina. Esse é justamente o caso da bilhetagem eletrônica dentro do transporte coletivo. A estimativa da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) é de que mais de 80% dos 2,7 mil municípios atendidos por transporte coletivo contem com algum tipo de bilhetagem eletrônica.
Os benefícios trazidos por esse investimento custam de 3% a 5% do valor da tarifa, segundo o técnico em planejamento em transportes e diretor de Produto da Transdata, empresa de tecnologia especializada em gestão para transporte público, Rafael Teles. Essa variação depende do aporte de subsídios implantados nos sistemas de transporte coletivo. A média no Brasil é de 21,7%, mas há outros contratos com maior porcentual, de acordo com a NTU.
Teles aposta em duas novidades para o futuro do setor: cobranças como uma espécie de serviço de assinatura, a exemplo do que ocorre em serviços de streaming, e a liberdade para o passageiro escolher como vai pagar. “Os sistemas de assinatura dependem de uma clareza de quanto recurso público será investido para a operação. E a outra parte garante conveniência para que se pague como quiser”, diz.
Bilhetagem eletrônica: uma necessidade em transportes de massa
A necessidade de cobrar rapidamente e de forma eficiente os usuários de transporte coletivo data da criação dos primeiros sistemas voltados ao deslocamento de passageiros em larga escala. No Brasil, as primeiras experiências surgiram na década de 1970, ganhando corpo nas décadas de 1980 e, principalmente em 1990, quando se tornou realidade para todos.
“Era comum ter bilhetes físicos, mas não um sistema de controle ou iniciativas pontuais”, explica Teles. “Quando um sistema de transporte massivo existe, como ônibus, trens e metrôs, é preciso encontrar soluções que não eram necessárias em modais de baixa capacidade. Não adianta transportar em massa se não puder cobrar em massa”, ressalta.
Redução de custos, transparência e segurança
A automação e a velocidade oferecidas pela bilhetagem eletrônica são mais baratas do que as apurações manuais. “A bilhetagem eletrônica varia entre 30% e 40% dos custos que se tinha com a cobrança manual. Não se trata apenas do posto de trabalho do cobrador, mas de uma série de processos relacionados à atividade: arrecadação do dinheiro e transporte de valores, por exemplo”, diz Teles.
Seu funcionamento não é diferente da operação de um banco. O sistema faz registros automáticos de máquina para máquina, com protocolos seguros entre equipamentos para que a transação ocorra de forma imediata. Isso garante que haja transparência no volume de passageiros transportados e dos valores registrados em cada local.
“Cada transação se relaciona com registros, que não podem simplesmente sumir. Qualquer edição no banco de dados é rastreável. Na prática, é construído para que não haja inserção manual de dados: com as informações sendo apuradas de uma máquina para outra”, explica o técnico em planejamento de transportes.
Na maior parte das licitações realizadas no país, trata-se de um custo que é embutido na tarifa paga pelo usuário, assim como outros investimentos, caso da renovação da frota. “O transporte coletivo não é um serviço diferente. O poder público contrata uma empresa privada para prestar um serviço, o que não é diferente da iluminação pública ou da coleta de lixo, que é paga por esses cidadãos”, ressalta Teles.
Outro ponto importante é o aumento da segurança do transporte coletivo ao retirar o dinheiro da circulação, o que se tornou mais comum com o uso de cartões de crédito, débito, PIX e as próprias plataformas/cartões/aplicativos dos sistemas de transporte. Dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) indicam que o setor movimenta R$ 46,6 bilhões por ano.
Melhora do planejamento e das integrações
Além da agilidade, transparência e segurança, há outras duas vantagens decorrentes da bilhetagem eletrônica: a capacidade de planejamento e as suas integrações. Como há um grande volume de dados específicos sobre o transporte, é possível melhorar a previsão de linhas e otimizar a circulação de veículos de acordo com a demanda real.
“As informações trazem dados para o planejamento do transporte. Dessa forma, torna-se mais simples prever qual oferta será dada e quando vai ocorrer. Muitas vezes, o passageiro não percebe o benefício de ter dados estatísticos confiáveis”, diz Pires.
A bilhetagem também facilita a integração e a cobrança de tarifas ajustáveis ao perfil da pessoa, como idosos, estudantes ou até mesmo cobrança de valores diferenciados em horários de menor demanda.