Estar conectado através de celulares, computadores e tablets à internet é parte do nosso dia a dia. Mas o futuro promete nos colocar online através de qualquer objeto ou dispositivo. Ao falar de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), é comum citar exemplos como uma geladeira capaz de entender o que está faltando em estoque e enviar uma lista de compras ao supermercado, garantido a entrega automaticamente na porta de casa. Mas transformar ônibus, terminais, metrôs e outros pontos sensíveis ao transporte coletivo em grandes dispositivos de captação de informação e dados pode revolucionar a forma não só como utilizamos o sistema público como clientes, mas também o formato de negócios das operadoras destes modais.

Esse é o assunto do quinto e último episódio da série Papo Mobilidade, um programa criado pelo GazzConecta em parceria com a Metrocard, associação que representa as empresas operadoras do transporte público da Região Metropolitana de Curitiba, para discutir como será o transporte público do futuro.

Os convidados para este debate, disponível em vídeo e também em podcast nas plataformas Spreaker e Spotify são: Anderson Godz, criador da comunidade Gonew.co e especialista em governança e nova economia, o coordenador do Centro de Controle Operacional (CCO) da Metrocard, Guilherme Zippin, e Stenio Franco, membro do comitê de inovação e tecnologia da Associação Internacional dos Transportes Urbanos (UITP).

Com a missão de mostrar que a IoT já é parte do nosso dia a dia, Zippin explica que atualmente é impossível realizar gestão de frotas sem ter todos os veículos conectados, em tempo real, dentro de uma rede de acompanhamento. Esses dados, que ajudam a solucionar problemas de forma rápida — como o desgaste de peças e até o controle de horários das linhas municipais e intermunicipais — já é realidade. “O próximo passo é entender transporte como um serviço dentro de cidades inteligentes e criar uma integração com diversos modais. Temos as bicicletas, os carros por aplicativo, diversas formas de locomoção que agora precisam conversar entre si. O cliente irá dizer onde quer ir e o sistema vai oferecer a melhor opção para locomoção, com o menor impacto para o trânsito e no melhor tempo”, explica.

Franco acrescenta que, mesmo que o conceito de IoT seja frequentemente associado a veículos automatizados e guiados sem motorista, inclusive na rede de transporte coletivo, é preciso entender como a tecnologia pode ser usada a favor do fim dos congestionamentos e priorização do serviço público.

“Nossa infraestrutura, mesmo dentro de cidades conectadas, não comporta mais o transporte individual. Precisamos ter uma mobilidade igualitária, justa e eficiente. A tecnologia para isto é fundamental. É um admirável mundo novo, onde é preciso ter informações em tempo real para planejar uma rede integrada entre modais”, afirma.

E, com uma maior autonomia dos veículos e dispositivos conectados à rede, é impossível fugir do debate sobre a transformação dos postos de trabalho neste setor. Para Franco, a tecnologia não deve limitar contratações e sim oferecer novas oportunidades de atuação. “Não é preciso temer a mudança. Existe a perspectiva de automatizar tarefas que são recorrentes e liberar estes trabalhadores para utilizarem sua inteligência e sagacidade para o planejamento desta rede. Isto inclui os mais jovens e os mais experientes no sistema de transporte, porque são eles que conhecem a rotina. No entanto, é fundamental capacitar estas pessoas para trabalharem neste cenário de múltiplas oportunidades”, ressalta.

Durante o episódio, o especialista em nova economia Anderson Godz também frisa que as mudanças não devem se limitar apenas às oportunidades de trabalho, mas também aos próprios modelos de negócio das operadoras de transporte. A partir do momento em que os modais estão conectados à IoT, que também coleta informações sobre hábitos e deslocamentos de cada passageiro através de seus celulares, cria-se um poderoso banco de dados.

“O que a IoT nos traz é essa ideia de que tudo vira um device: placas, bancos, tudo pode me impactar de alguma forma, e eu como passageiro também me torno um ativo alavancado dentro deste sistema. Como o Waze, por exemplo, que usa os nossos próprios celulares para gerar informação e entregar para a rede”, explica Godz. “Assim, ter ônibus e passageiros atuando da mesma forma abre uma possibilidade infinita de novos negócios”, pontua.

Para o especialista, no entanto, essa coleta de dados também deve gerar o ônus da administração da privacidade do cliente e da gestão da informação. “Se os dados são considerados o novo petróleo, ter uma privacidade e gestão adequadas deste ativo pode ser considerado o novo ‘verde’. As empresas têm que perceber que é necessário compliance diante das medidas regulatórias de gestão de dados, que cada vez vão apertar mais. E há um esforço financeiro e de controle para garantir esta privacidade”, aponta.