Sim, o trânsito está cada vez mais caótico no Brasil. De acordo com o IBGE, a frota de carros cresceu mais que o número de habitantes do país. Enquanto a população cresceu 12,3% entre 2000 e 2010, o número de veículos aumentou em 22% no mesmo período.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que em São Paulo, por exemplo, os prejuízos causados pelo tempo produtivo perdido em congestionamentos fique em torno de R$ 40 bilhões por ano.
Essa não é uma realidade somente brasileira. De acordo com as Nações Unidas, em 2009, pela primeira vez na história da humanidade, o número de pessoas vivendo em cidades ultrapassou a população rural na escala global. Por este motivo, cidades em todo o mundo trabalham para melhorar a mobilidade urbana e investem em projetos e estudos que permitam espaços acessíveis e cada vez mais funcionais.
Conheça 10 iniciativas positivas adotadas em diversas partes do mundo. Elas estão ajudando a melhorar a mobilidade urbana e servem de exemplo para outras localidades.
Confira:
A cidade de Medellín, na Colômbia, foi pioneira ao usar teleféricos como meio de transporte público, beneficiando a população das periferias que vive nos morros. O projeto de 2004, batizado de Metrocable, rendeu o Prêmio de Transporte Sustentável em 2012 à cidade, e permitiu acesso dos bairros mais pobres – chamados comunas – ao espaço público central. A iniciativa chegou a outros centros urbanos da América do Sul, e hoje Lima, no Peru, e Rio de Janeiro também contam com estruturas do tipo.
Criado em 1975, o pedágio urbano de Cingapura – que hoje evoluiu para um sistema totalmente digital – foi copiado em diversas cidades, como Londres e Estocolmo. Também chamado de taxa de congestionamento, o sistema consiste em estabelecer uma taxa para motoristas acessarem determinadas áreas da cidade em dias e horários definidos pelo governo. Em Estocolmo, por exemplo, o valor varia de acordo com a zona da cidade e o horário em que o motorista dirige por ela. Em Londres, a área delimitada é única, no centro, e o valor cobrado também, funcionando de segunda a sexta-feira, das 7h às 18 horas. A proposta é que a população seja desestimulada a andar de carro e procure formas alternativas de se locomover, como transporte público ou bicicletas. No ano em que o pedágio urbano foi criado em Cingapura, houve uma redução imediata de 45% no trânsito. Hoje, 65% da população local utiliza o transporte público.
Inaugurado em 2006 o Transantiago, sistema de corredores de ônibus que integrou o ônibus ao metrô, ajudou a melhorar o transporte público da capital do Chile. A frota de ônibus da cidade estava sucateada e quase não havia interligações entre os meios de transporte. A cidade investiu em melhorias na infraestrutura para pedestres e ciclistas e se tornou referência em boas práticas para outras cidades da América Latina. O reconhecimento veio em forma de premiação. No ano de 2016, Santiago levou o Prêmio Internacional de Transporte Sustentável, promovido pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento.
Inaugurada em 2016, a primeira “superciclovia” do mundo tem 60 quilômetros de extensão e está em uma das regiões de tráfego mais intenso da Alemanha, que liga Dortmund a Duisburg, dois importantes centros industriais do país europeu. A proposta da Radler B-1 – também chamada de RS1 – é que seja contínua, sem obstáculos ou paradas, como semáforos ou cruzamentos, e supra os deslocamentos de pessoas que viajam entre cidades nos seus cotidianos, aliviando o trânsito local. Além disso, a sua largura permite comportar bicicletas elétricas, que atingem velocidades mais altas, sem prejudicar quem for pedalar mais devagar.
Criado na década de 70, o sistema BRT – Bus Rapid Transit, ou Transporte Rápido por Ônibus – transformou a capital paranaense em um modelo urbano, renomada em todo o mundo. O sistema consiste em oferecer transporte coletivo de passageiros com mobilidade urbana rápida, confortável, segura e eficiente por meio de infraestrutura separada dos demais sistemas viários, chamados corredores (ou canaletas). Os ônibus ganham prioridade de ultrapassagem e devem ter operação rápida e frequente. Hoje, há mais de 101 projetos como esse em andamento no Brasil.
A proposta do VAMO (Veículos Alternativos para Mobilidade) é promover a mobilidade urbana sustentável por meio de uma rede de compartilhamento de carros elétricos, disponibilizados em Fortaleza (CE). São 20 carros 100% elétricos, distribuídos em cinco estações. Pioneiro no Brasil, o projeto é sustentado por patrocinadores e pelos valores pagos pelos usuários, sem custos para o município. A cidade tem ainda uma série de outros projetos, com estímulo ao uso de bicicletas e um programa de apoio à circulação de pedestres. Tudo isso para tornar Fortaleza a cidade mais ciclável do Brasil.
Desde 2008, 100% das rampas das esquinas de Nova York, nos EUA, são rebaixadas. Todos os ônibus urbanos possuem plataformas elevatórias. Em 2012 foi desenvolvido um programa de treinamento específico para todos os motoristas de táxis acessíveis, para dar assistência ao cadeirante. Os motoristas são treinados para descer do veículo e auxiliar o passageiro em seu embarque e desembarque e uma central de atendimento orienta o motorista a encontrar a melhor situação de embarque e desembarque nos locais de origem e destino. Em 2014, foi lançado o serviço de táxi acessível e disponível 24 horas por dia. Oferecido inicialmente por 233 veículos, em 2016 havia 906 veículos à disposição da população da cidade sem nenhum custo extra para os usuários. No primeiro ano de funcionamento, mais de 50 mil chamadas foram atendidas.
O primeiro semáforo do mundo foi instalado em Londres. E é na capital inglesa que estão as principais iniciativas em mobilidade urbana no que diz respeito ao bom uso de semáforos. Eles são inteligentes e se adaptam a veículos de transporte coletivo, como ônibus. Um dispositivo afere se o veículo está próximo. Se estiver, ele pode alongar o sinal verde para que o ônibus passe. Com o semáforo no vermelho, ele pode agilizar a passagem para o verde de acordo com a proximidade do veículo. Segundo uma instituição de pesquisa de transporte de Londres, a RAC, em 2008, eram mais de 6 mil semáforos na capital britânica, com 3,2 mil programados para dar prioridade ao transporte coletivo. Em 2015, a prefeitura iniciou testes para dar mais tempo aos ciclistas em cruzamentos nos horários de pico.
O conceito de “Park and Ride”, oferecido na cidade australiana de Brisbane, consiste basicamente em construir estacionamentos perto ou ao redor de estações de trem, metrô e ônibus. Desse modo, o usuário do sistema de transporte público pode dirigir seu carro de casa até alguma das estações, deixar o veículo gratuitamente no local, e utilizar o transporte público - menos poluente e mais rápido - até o trabalho. Assim, o motorista não precisa andar de casa até o ponto de transporte público – que geralmente fica longe – e evita os congestionamentos e estacionamentos caros da região central da cidade. O conceito de “Park and Ride” pode ser visto em várias cidades do mundo, em diferentes níveis de implementação.
Na Região Metropolitana de Curitiba, a bilhetagem eletrônica da Metrocard, com tecnologia desenvolvida pela Transdata Smart, foi pioneira na implementação de um sistema sem contato e mais seguro, que alia biometria a reconhecimento facial. O sistema permite, ainda, que usuários do transporte público de Curitiba e região paguem suas passagens com cartão de crédito, débito e pré-pago usando a tecnologia de aproximação, sem necessidade de digitar senha, em uma parceria com a Mastercard. O modelo é um aperfeiçoamento do Oyster Card, sistema de bilhetagem eletrônica de acesso ao transporte público implantado em Londres em 2003, que se tornou referência mundial.