Saber exatamente onde o ônibus está, com precisão e economia de tempo. Escolher qual é a melhor linha para ir de um ponto a outro da cidade no menor percurso possível. Acompanhar em tempo real toda a frota, de mais de 900 ônibus da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), otimizando trajetos e solucionando problemas de gargalo de forma rápida. Essas são apenas algumas das atividades possíveis graças ao Centro de Controle Operacional (CCO) da Metrocard, associação que representa as empresas operadoras do transporte público da RMC. Valendo-se do conceito de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), o centro mantém conectada a uma rede de informações e dados não só toda a frota, como também terminais e estações-tubo.
Guilherme Zippin, responsável pela coordenação do CCO, explica que o conceito tecnológico também poderá ser utilizado em breve para integrar outros modais ao sistema público de transporte coletivo regional, bem como sincronizar informações sobre horários, itinerários e compra de passagens em uma única plataforma de acesso digital disponível aos clientes.
A informação foi dada em uma entrevista exclusiva cedida ao GazzConecta para a série Papo Mobilidade, programa publicado em vídeo e podcast sobre como será o transporte público do futuro. Os episódios podem ser assistidos clicando aqui.
Na entrevista, o profissional explica como a experiência do usuário pode ser repensada em praticamente sua plenitude utilizando informações coletadas pelo Centro de Controle Operacional e como isto está próximo da nossa realidade. “O objetivo da Metrocard neste sentido, pensando no cliente, é oferecer informações precisas para o passageiro que quer sair do ponto A e ir para o B no menor tempo possível”, explica.
Confira a entrevista completa:
Dentro do sistema de transporte onde é usada IoT atualmente?
A Associação Metrocard mantém toda a frota dos ônibus metropolitanos monitorada em tempo real e o CCO faz a gestão desta operação, fornecendo através do website www.onibusmais.com.br e do aplicativo Cittamobi, informações das linhas metropolitanas e horários para seus clientes.
Todas as linhas, horários, tempos de viagem e pontos de parada são parametrizados conforme as determinações do poder público do Estado do Paraná (Comec) em um sistema de ITS (Intelligent Transportation System).
A IoT hoje está presente nos equipamentos embarcados em cada ônibus e validador das estações-tubo e terminais. É graças a essa tecnologia que o CCO pode acompanhar em tempo real a operação e coletar uma grande quantidade de dados que nos permitem fazer uma gestão mais eficiente do transporte metropolitano.
E onde poderemos ver avanços em IoT em curto e médio prazo?
A Metrocard está trabalhando atualmente em aplicativos que forneçam dados do sistema para o usuário: tanto os que apresentam informações para programação de viagens quanto para administrar a compra de passagens, podendo incluir, em breve, outras opções de pagamento e acesso ao sistema através de QR Codes.
Quais são os maiores obstáculos para tornar a IoT mais presente no transporte coletivo hoje?
Primeiramente, os custos para implementação. É necessário investir em conectividade, equipamentos e sistemas que deverão dar conta de um volume muito grande de informações. Existem ainda questões de infraestrutura. Para manter os ônibus conectados à internet é preciso ter um modem 4G em cada um deles, com um plano de dados pago para as operadoras de telefonia. Estes serviços precisam garantir melhor qualidade e robustez. A nova tecnologia 5G promete ganhos nesse sentido, mas todo o hardware em uso atualmente necessitará de atualização.
Outra importante meta que se busca com auxílio de IoT é integrar o sistema público a novos modais, oferecendo aos clientes opções mais inteligentes de mobilidade. Este é o tipo de situação que requer maior flexibilidade e liberdade para a inovação. A legislação para o transporte público é incrivelmente restritiva e burocrática. Então, para desenvolver um sistema mais inteligente e integrado que atenda as demandas da região metropolitana, é fundamental contar com uma nova regulação, mais atual e flexível, de forma a possibilitar uma maior atratividade e competitividade para o transporte público.
Abrir caminho para a IoT através de investimentos nesse setor e desburocratização trariam quais benefícios?
O primeiro a ganhar em um sistema de transportes baseado em IoT é o passageiro. O objetivo da Metrocard, neste sentido, é oferecer informações precisas e alternativas de trajetos para o passageiro, que deseja ir do ponto A ao B no menor tempo e com o menor custo possível.
Já existe consenso na comunidade do transporte público que o modelo atual, com itinerários fixos e tabelas rígidas de preços e horários, está esgotado e precisa de mudanças com urgência.
Integrar o sistema atual aos novos modais é essencial para garantir a sobrevivência do sistema de transporte público e a mobilidade nas cidades. A IoT é a espinha dorsal desta integração. Se o transporte público não for capaz de se adaptar e operar em um conceito maior de mobilidade urbana, o trânsito nas grandes cidades entrará em colapso. Restará somente um grande congestionamento de carros de aplicativos, com motor elétrico ou a combustão.
E para as operadoras, o que muda?
A IoT dá poder para que gestores tenham conhecimento do que está acontecendo com sua frota, de forma precisa e ágil. Acidentes, linhas operando com atrasos, lotação, formação de comboios... Você pode tomar ações em tempo real ou no menor tempo possível para mitigar danos. Também é possível utilizar esse universo de informações coletadas pela rede para melhorar processos e reduzir custos.
Outro importante ganho é na própria manutenção dos veículos. Ônibus mais modernos, equipados com sistemas inteligentes e conectados, que já sabem quais peças precisam ser trocadas, podem se comunicar com equipes de manutenção automaticamente, reduzindo o tempo indisponível na oficina.
Os sistemas mais avançados hoje já utilizam inteligência para definir até a localização ideal de cada ônibus nos pátios das garagens de forma a reduzir o tempo de soltura no dia seguinte, ganhando agilidade nesta manobra. São itens que fazem muita diferença no dia a dia de quem opera sistemas complexos como o transporte público.