Os cuidados para evitar contaminações dentro de ônibus do transporte público de Curitiba e Região Metropolitana têm se mostrado eficazes. O número de casos positivos para Covid-19 entre passageiros, motoristas e cobradores revela um ritmo de proliferação do vírus mais lento do que o registrado pela sociedade em geral. A informação foi dada pelo presidente da Metrocard, Lessandro Zem em entrevista exclusiva ao GazzConecta.
“É claro que, em locais de aglomeração, a chance de proliferação do vírus é maior, mas o que eu posso afirmar é que, hoje, o índice de contaminação de nossos colaboradores está muito abaixo do comparado proporcionalmente em outros locais, isto pelo excesso de zelo e cuidado que os funcionários estão tendo no desempenho de suas profissões. Eles estão muito conscientes de que estão atuando na linha de frente”, explica o presidente da associação das empresas operadoras do transporte público da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
A declaração faz parte de uma série de conteúdos produzidos com o patrocínio da associação para discutir como será o transporte público do futuro. Além das entrevistas com executivos da associação, o GazzConecta também publica o Papo Mobilidade, episódios em podcast e videocast sobre os principais eixos de discussão sobre inovação dentro deste setor com especialistas de todo o Brasil.
Neste contexto, Zem foi perguntado sobre como a pandemia está ressignificando o trabalho das empresas de transporte regionais e como isto está impactando na operação das linhas municipais e intermunicipais. Para o executivo, as mudanças são perceptivas não só na adoção de medidas de segurança, como também no próprio comportamento dos usuários do transporte.
Confira a entrevista completa:
De março para cá, o que você diria que mais mudou dentro do sistema de transporte coletivo?
A primeira coisa é a ocupação. Hoje estamos rodando com 65% da capacidade dos ônibus e acredito que não voltaremos mais aos índices antigos de lotação destes veículos. Outro importante ponto é o comportamento da própria população. As janelas, não importa se faz frio ou não, ficam sempre abertas. Os próprios passageiros estão se cobrando esta conscientização. Mas acredito que o mais importante é a mudança de conceito do próprio transporte público e do regime de trabalho flexível.
As pessoas estão começando a utilizar os ônibus em horários diferentes dos de pico, com um espaçamento maior dentro deles, e passam a exigir essa sensação de conforto e um adicional de higienização. Entendendo e absorvendo esse maior espaçamento, também vem junto a discussão sobre como manter este padrão de conforto.
O sistema público carece de um subsídio governamental maior para atender essa readequação social. O próprio formato do negócio precisará mudar porque a conta não fecha. Para ter este espaçamento, teríamos que triplicar uma frota mesmo registrando um fluxo menor de passageiros. Sendo bem otimista, acredito que teremos uma redução de 20% do nosso antigo fluxo. Nesta situação, a tarifa ficaria impraticável. A maior mudança da pandemia no transporte público está aí, nessa reorganização coletiva que precisará ser feita em conjunto com os gestores públicos e através de uma legislação mais atualizada.
E falando da própria infraestrutura e design de ônibus e terminais? O que pode mudar por aqui devido ao novo coronavírus?
A evolução do design, para efeitos de limpeza e contenção de proliferação não só deste, mas de outros possíveis vírus, virá em longo prazo, sem dúvida. Alguns fabricantes de ônibus como a Marcopolo já tinham e agora estão aprimorando sistemas de circulação de ar mais ágeis e que deverão estar em novos veículos. O próprio posicionamento dos bancos talvez venha a mudar, acomodados como no metrô, de costas para as janelas. Isto possivelmente envolverá também uma mudança de legislação.
Outra importante alteração estrutural próxima da realidade da nossa região deverá ser a priorização do transporte público, criando vias exclusivas para a circulação de ônibus, trazendo maior agilidade para este sistema. Isto faz parte dessa mudança de comportamento social.
Hoje, quais são as principais medidas de segurança adotadas pelas empresas operadoras da RMC para barrar a transmissão e viabilizar o transporte público em uma pandemia?
Desde o início, as 18 empresas que fazem parte da associação Metrocard adotaram todas as orientações dadas pelos órgãos competentes, como a higienização periódica dos veículos, distribuição de álcool em gel dentro de todos os ônibus e equipamentos de proteção para os colaboradores, como luvas e máscaras.
Ao longo dos meses, cada empresa foi trazendo inovações individualmente, como os escudos de face e a instalação de vidro acrílico que isola motoristas e cobradores. Aquelas que operam mais próximas de suas garagens também passaram a fazer higienização a cada viagem. Algumas também instituíram campanhas para que os passageiros aguardassem os próximos veículos, evitando aglomerações, com atuação de fiscais verificando o nível de ocupação de cada veículo, garantindo que ficassem abaixo dos 65%. Outras empresas também realizaram testagem em massa de seus funcionários, atingindo 100% de seus colaboradores nesta ação.
E estas medidas têm se mostrado eficazes para conter contaminações?
Os níveis de funcionários do transporte público que foram apontados com Covid-19 são extremamente baixos. Enquanto na sociedade chegamos a ver casos triplicando a cada dia, dentro do sistema público isto não se repetiu, muito pela forma com que as empresas estão lidando com a pandemia, tomando todos os cuidados porque sabem que os motoristas e cobradores são parte de uma atividade essencial.
Claro que ainda não existem estudos que nos possibilitem afirmar que o transporte público é completamente seguro ou não, mas podemos dizer que os índices apresentados pela sociedade não se replicam aos nossos colaboradores.
É claro que em locais de aglomeração a chance de proliferação do vírus é maior, mas o que eu posso afirmar é que hoje o índice de contaminação de nossos colaboradores está muito abaixo do comparado proporcionalmente em outros locais, isto pelo excesso de zelo e cuidado que até mesmo os próprios funcionários estão tendo no desempenho de suas profissões. Eles estão muito conscientes de que estão atuando na linha de frente.