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A inovação e a tecnologia no transporte público trouxeram mudanças para todos. O Banco Mundial chegou a uma conclusão a respeito das perspectivas e potenciais avanços: o transporte coletivo do futuro será conectado, orientado por dados, compartilhado, sob demanda, elétrico e altamente automatizado. De certa forma, é como se estivéssemos falando de um Transporte 4.0, assim como a Indústria 4.0, com o uso de tecnologias como Big Data, Internet das Coisas e integração entre sistemas.

Ao contrário do que se imagina, esse mundo super conectado não está apenas nos Estados Unidos, Europa e Japão. No Brasil, já existem sistemas de transporte capazes de fazer o monitoramento dos ônibus em tempo real, identificar todas as ocorrências em tempo, permitir o contato com motoristas, fazer toda a bilhetagem eletrônica e identificar as gratuidades. Em outras palavras, essa realidade já existe no Brasil, mas não aparece para o público.

No caso do transporte da Região Metropolitana de Curitiba, a Metrocard tem um Centro de Controle Operacional (CCO) com um Sistema Inteligente de Transporte (ITS, na sigla em inglês), que é integrado à bilhetagem eletrônica. Nele, configuram-se todos os parâmetros, permitindo o georreferenciamento do sistema, o acompanhamento dos ônibus em tempo real, além de uma ferramenta de Business Intelligence (BI), que gera dados sobre cada linha e sobre o transporte como um todo.

De acordo com Guilherme Artur Zippin, coordenador de CCO da Metrocard, a partir das informações obtidas pelo CCO, foi possível, por exemplo, orientar a Polícia Militar a respeito de ocorrências nos ônibus e seus locais mais frequentes. Além disso, a possibilidade de monitorar a entrada de passageiros nos carros orientou a Comec quanto aos pontos de parada mais estratégicos para incluir coberturas. Por fim, a bilhetagem é integrada a um sistema de câmeras, capaz de perceber quando um usuário utiliza uma gratuidade sem ter o acesso a ela.

Limitadores do avanço

“A tecnologia não para de evoluir. A cada dia, temos uma coisa mais mágica do que a outra. Essa tecnologia permite uma flexibilização do serviço até mesmo para concorrer com os outros modais”, afirma Zippin. Contudo, ele vê dois limitadores. “Um deles é o custo. E o outro é a resistência do estado. Hoje, nós seríamos capazes de oferecer tarifas diferenciadas em função da demanda, o que poderia aumentar a atratividade do sistema, mas não temos a autorização para isso”, ressalta.

Centros de Controle Operacional usam a tecnologia para monitoramento do transporte público como acompanhamento das linhas em tempo real, bilhetagem e ocorrências. Foto: Shutterstock.
Centros de Controle Operacional usam a tecnologia para monitoramento do transporte público como acompanhamento das linhas em tempo real, bilhetagem e ocorrências. Foto: Shutterstock.

Ex-presidente da Urbs, o professor do Departamento de Transportes da UFPR, Roberto Gregório Silva Junior, explica que o sistema precisa ser construído para dar conta dos horários de pico, mas é preciso focar em dar facilidades aos usuários. “Poder pagar com o uso de cartões, com a proximidade de celular e reduzir custos desnecessários, como o com cobradores”, relata.

Concorrência

Para o presidente-executivo da Associação Nacional dos Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, o transporte público exige que o estado o proteja.

“Quando se fala em serviço público, ele difere das regras de mercado, por beneficiar grande parte da população pelo princípio da universalidade. A concorrência predatória precisa ser evitada no transporte coletivo”, explica.

No entanto, enquanto o usuário tem cada vez mais liberdade para escolher como pretende se locomover, o transporte coletivo está preso a uma falta de agilidade para atender a essas mudanças. O motivo? As concorrências. De acordo com Cunha, as novas licitações precisam estar abertas aos avanços tecnológicos e as ideias disruptivas que possam ser implantadas para melhorar a rede pública de transporte. Em outras palavras, o contrato não pode impor barreiras, que é o que acontece hoje na prática.

“Precisamos flexibilizar essa legislação para criar serviços alternativos e que complementem a rede básica de transporte: barata, acessível e de boa qualidade. E serviços acessórios complementares, nos quais o operador tenha certa liberdade de oferta e de preços para disponibilizar determinado tipo de serviço ao consumidor, especialmente que caiba em seu bolso”, esclarece. Como exemplo comparativo, Cunha cita a telefonia no Brasil: na década de 1990, devido à proteção do estado, o telefone fixo era um ativo declarado no Imposto de Renda. “Hoje, é um item quase sem valor”, diz.

Seis fatores por trás

De acordo com o Banco Mundial, existem diversos aspectos que contribuem para que a evolução nos sistemas de transporte ocorra, relacionadas tanto à mobilidade em si quanto a outros aspectos.

  • Os avanços do 3G e do 4G – e potencialmente do 5G --, as iniciativas de internet livre e a expansão das conexões facilitam esse avanço.
  • O crescimento de uma economia mais compartilhada, na qual há uma diminuição da compra de itens pessoais.
  • Uma análise de dados mais sofisticada, contando com o apoio do machine learning e da inteligência artificial.
  • A intensa pressão para reduzir a poluição do ar. Segundo a Universidade da Califórnia, a expansão do transporte público pode reduzir em 40% as emissões de dióxido de carbono globais até 2050.
  • Os aspectos socioeconômicos e demográficos, como a crescente urbanização, que leva a congestionamentos.
  • Um maior acesso ao capital de empresas dispostas a investir em novas tecnologias, visando a melhoria do transporte.