Congestionamento e fluxo intenso de veículos são realidades cada vez mais desafiadoras para grandes centros urbanos. Investir no transporte coletivo torna-se uma das principais estratégias para (re)conquistar usuários e diminuir o número de automóveis nas ruas. Medida que não traz benefício apenas à fluidez das vias, mas também pode contribuir com o meio ambiente e a saúde da população.
"O transporte público de alta capacidade otimiza o uso do solo urbano, o que diminui o fluxo de veículos", explica o arquiteto Augusto Pereira, pesquisador de cidades inteligentes e gestão urbana. Isso significa que automóveis ocupam um espaço maior que um ônibus para transportar o mesmo número de passageiros.
Pelo menos 58,3% do espaço viário é ocupado por automóveis para transportar apenas 20,6% das pessoas. Enquanto isso, o transporte coletivo corresponde a 32,1% da ocupação para fazer o deslocamento de 76,7% dos passageiros. Os dados que constam na pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017, elaborada pela Confederação Nacional do Transporte e pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, são de 2002. No entanto, esses são os dados mais recentes sobre o tema, o que indica que em uma década essa diferença já deve ter aumentado.
Opção
Especialistas ressaltam que os gestores do transporte público devem ter como diretriz tornar os ônibus mais confiáveis, seguros, confortáveis e eficientes, aumentando a competitividade em relação aos automóveis. “Se não tiver isso, as pessoas não vão deixar o carro em casa. Todo mundo quer conforto e um dos maiores problemas é a falta de confiabilidade”, avalia a doutora em gestão urbana Tami Szuchman, explicando que dificilmente alguém optará por um meio de transporte que não respeite horários pré-estabelecidos e não o faça poupar tempo. Aplicativos de localização dos veículos que ajudam a otimizar o tempo do usuário – como o Metrocard App – são aliados na hora de conquistar passageiros.
A priorização do transporte individual e a precarização do sistema coletivo de transporte é um grande problema das cidades, opina Pereira. Na avaliação dele, hoje, a maioria dos usuários de ônibus usa o modal porque precisa e não por opção.
Contudo, é justamente o trânsito intenso que faz com que o produtor musical Marcos Sergio Belczak Junior, 23 anos, opte por deixar o carro na garagem para ir para a universidade de interbairros ou biarticulado. “O trânsito me deixa um pouco apreensivo. O ônibus me deixa menos estressado no fim do dia”, conta.
Já o microempreendedor Julio Bernardes, 36 anos, lembra que a economia de tempo e dinheiro são os principais motivos que o levaram a optar pelo transporte coletivo para se deslocar até o Centro de Curitiba. “Além de não ter o estresse de ficar parado no trânsito, já que a linha que uso vai pela canaleta, não tenho despesa com estacionamento e combustível e não corro o risco de me envolver em acidente de trânsito”, diz.
Integração
Para tornar os ônibus competitivos frente aos automóveis, Tami defende que o transporte público não seja analisado de forma isolada e que o planejamento dê prioridade ao coletivo. Um processo de longa duração e que deve ser contínuo. “Não tem como avançar em ações exclusivas para o transporte público. O ideal seria ter uma integração de diferentes modais, na qual um complementasse o outro. Para que seja efetivo, as outras estruturas de mobilidade também devem ser boas”, diz a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo.
Nesse sentido, fazem parte das sugestões dos especialistas disponibilizar locais nos terminais para acomodar as bicicletas, ter um sistema de estacionamento conveniado com vagas disponíveis em regiões periféricas e contar com estrutura de vestiário.
Tecnologia
Usar a tecnologia e a inteligência a favor do transporte coletivo é mais uma estratégia. Centrais de inteligência que permitam o monitoramento da frota em tempo real e possibilitam sincronizar semáforos de acordo com o fluxo de veículos têm sido implementadas em grandes centros para tornar o sistema mais efetivo.
A modernização da frota, sem trazer mais custos ao usuário, e a oferta de serviços que proporcionem comodidade e facilidade ao longo do trajeto também são atrativos que podem conquistar usuários. Entram nessa lista mecanismos que muitos usuários de linhas metropolitanas já encontram por meio dos serviços oferecidos pela Metrocard: sinal de wi-fi para acessar a internet; cartão de transporte com crédito pré-pago e outras funcionalidades, como cartão de crédito e canal de diálogo direto com o passageiro.
Espaços
Faixas exclusivas para ônibus também estão entre as ações consideradas pelos especialistas devido ao potencial que têm para agilizar o deslocamento. Algumas cidades apostam na priorização do transporte coletivo sobre o individual de forma ainda mais direta: por meio da criação de zonas exclusivas para ônibus. A acessibilidade é outro ponto importante. Calçadas malconservadas e pouco acessíveis tornam-se um obstáculo para o usuário chegar até o ponto de ônibus.
Outros benefícios
Além de desafogar o trânsito, atrair mais usuários para o transporte coletivo traz outros benefícios à população. Com menos veículos nas ruas, a poluição sonora, do ar e da água é reduzida. As chances de acidentes de trânsito também diminuem, contribuindo com o sistema de saúde do município e fazendo com que as pessoas não necessitem ficar afastadas de seus trabalhos. “E, além disso, a cidade também tem ganhos de espaço público e sociabilização, com maior possibilidade de interação. Com menos carros nas ruas, espaços poderiam ser reaproveitados”, afirma Tami.