Canaletas exclusivas e obras de priorização do transporte coletivo ajudam a aumentar a velocidade de circulação dos ônibus, facilitando a troca do carro pelo transporte público
Existem 660 projetos de priorização do transporte coletivo no Brasil, que somam mais de 4,7 mil kms de vias, considerando BRTs, corredores e faixas exclusivas. Deste total, porém, menos de 50% (323) estão em operação, enquanto há outras 120 iniciativas em obras e 217 em fase de projeto, segundo a Associação Nacional dos Transportes Urbanos (NTU).
Este tipo de iniciativa é fundamental em um país que observou um crescimento de 4 vezes em sua população entre 1950 e 2018, conforme o IBGE. Ao mesmo tempo, a frota de veículos teve uma ampliação de 292 vezes, o que fez com que os veículos individuais passassem a ocupar mais de 80% das ruas e avenidas brasileiras.
Estas obras que beneficiam a maior parte da população e dão velocidade ao transporte coletivo deveriam ser política pública, mas nem sempre são prioridades dos gestores municipais e metropolitanos.
O motivo? A falta de cultura a respeito da relevância do transporte coletivo para as cidades. No Brasil, autoridades e gestores públicos não costumam utilizar os ônibus, diferentemente do que acontece nos países europeus, por exemplo.
“Curitiba e RMC estão trabalhando na mobilidade urbana com a criação de faixas exclusivas para aumentar a velocidade do transporte coletivo”, afirma o presidente da Tectrans, empresa que opera em projetos de mobilidade urbana em todo o mundo, Eraldo Constanski.
“Há, porém, muito individualismo da sociedade em razão das reclamações quando adotam essa medida. O que acontece? Os gestores acabam afrouxando algumas teorias e liberando o carro na faixa exclusiva, caso dos táxis, com ou sem passageiro, por exemplo”, ressalta. Essas decisões contrariam a busca pela priorização do transporte coletivo, um direito social estabelecido pela Constituição Federal.
O impacto para o transporte coletivo
Estima-se que faixas exclusivas aumentaram a velocidade dos veículos na região de Curitiba em até 40%.
Qual o resultado disso? “Ônibus novos e outras melhorias podem até atrair as pessoas para o transporte público, mas o que realmente impacta é a velocidade. É isso que consegue convencer o passageiro a trocar o veículo individual pelo transporte coletivo”, diz Constanski.
A prioridade ao transporte público beneficia o sistema como um todo. “Quando estão parados no congestionamento, é como se houvesse um ônibus a menos na frota, reduzindo a oferta de transporte e aumentando o gasto de combustível, de pessoal, operacional, entre outros”, afirma o especialista em transporte.
Com isso, há um impacto no planejamento e na operação das linhas – reféns do trânsito nas grandes cidades. Outra medida que costuma beneficiar o transporte coletivo é a implantação de linhas diretas, que aumentam a velocidade dos deslocamentos.
Na maioria dos casos, os passageiros optam por esse tipo de itinerário, que é mais eficiente do que as linhas tradicionais por reduzirem o número de paradas, aumentando a velocidade e reduzindo o tempo de viagem dos passageiros.
Custo-benefício e retorno da priorização do transporte coletivo
Dados da ANTP estimam as vantagens de se investir na prioridade ao transporte coletivo, sendo que o retorno projetado de investimento é de 60% após o primeiro ano de implantação.
- Faixa exclusiva à direita: R$ 453 mil por km;
- Corredores centrais: R$ 10,3 milhões por km;
- BRT: R$ 56,3 milhões por km.
Como se dá esse retorno? Há uma conta do segmento de que, para cada 20% de perda de velocidade, há um aumento de 10% dos custos envolvidos.
Ou seja, a redução do tempo de viagens reflete no ganho de produtividade, na diminuição do consumo de combustíveis e da poluição, além de tornar o transporte público mais atrativo na comparação com o individual a partir do ganho de velocidade.
“Há necessidade de uma atuação conjunta de diversos órgãos, envolvendo prefeituras e governo do estado, para fazer com que esses projetos saiam do papel”, diz Constanski.