São como cicatrizes: as marcas do vandalismo no transporte coletivo estão em praticamente toda a frota. Exceção é o ônibus que não carrega ao menos um vidro riscado ou com marcas de pedras em sua lataria. O vandalismo, nos casos menos graves, altera a estética dos veículos. Mas também tem consequências mais sérias, como colocar em risco a segurança de passageiros, além de interferir no custo do transporte.
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R$ 186,8 mil
Foram gastos diretamente com reparos de 830 ônibus em Curitiba por causa de ações de vandalismo em 2015, segundo dados do Setransp. Estima-se que cerca de 170 veículos da frota que circula na Região Metropolitana de Curitiba tenham sido vandalizados no ano passado, gerando cerca de R$ 37,4 mil em reparos.
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É o número de contato para denunciar atos de vandalismo. O número de telefone é uma ligação direta com a Guarda Municipal e tem atendimento 24 horas. O serviço foi lançado em Curitiba em 2011 e também faz atendimento de outras ações de vandalismo além das ligadas aos meios de transporte, como pichação de imóveis e lâmpadas quebradas.
“Só até este mês já temos 353 ônibus danificados em Curitiba em 2016. Isso força a manutenção antecipada do veículo. Arrumar uma porta pode levar horas ou dias. Um vidro, leva dias. Consequentemente, esse ônibus sai da linha e gera um desconforto cada vez maior para o passageiro, que fica esperando mais tempo até um carro reserva entrar em operação. E isso encarece o sistema, porque ao se substituir peças, esse custo acaba, cedo ou tarde, sendo repassado à composição da tarifa”, explica o diretor executivo do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Luiz Alberto Lenz César.
Menos dinheiro em circulação, menos risco
O incentivo ao uso do cartão eletrônico para pagar as tarifas tem colaborado para coibir os atos de vandalismo que visam crimes de furto e roubo
Leia a matéria completaOs motivos que levam indivíduos – uma minoria entre quem utiliza o transporte coletivo – a depredarem ônibus ainda não são consenso, mas o perfil dos vândalos da frota em Curitiba e na Região Metropolitana já são conhecidos, conta o presidente da Associação Metrocard, Lessandro Zem. “Além dos grupos de torcidas em dias de jogos de futebol, os atos de vandalismo, em alguns momentos, são brincadeiras de crianças. Em outros, a maioria, são atos para que o ônibus pare e seja assaltado.”
Além dos danos materiais, as ações dos vândalos resultam em prejuízo social. “Podem gerar trauma em pessoas que se deslocam em paz e recebem uma ameaça tão forte, como um grupo com pedras, empurrando bancos, aos gritos de ordem. Essas pessoas acabam sendo desestimuladas a usar o transporte público”, acrescenta Zem.
A professora de Urbanismo no curso de Arquitetura da PUCPR, Gilda Cassilha, destaca o contraditório do vandalismo: muitas vezes, o indivíduo que depreda o bem de uso coletivo é o mesmo que reclama melhores condições de transporte. “A solução tem de ser uma construção coletiva, de todos os agentes envolvidos no transporte. Muitas vezes o vândalo não sente que o transporte público também lhe pertence. É preciso criar esse pertencimento”, destaca.
Dias de jogo são preocupantes no transporte
No último Atletiba, em 30 de junho, um ônibus da linha Cabral-Tamandaré foi invadido por vândalos, que sequestraram e destruíram o carro após renderem o motorista e a cobradora e os retirarem à força, junto com os passageiros. Os vândalos tomaram a direção e, depois, pularam do veículo em movimento, que, desgovernado, atingiu um carro. Não foi a única confusão da noite do principal clássico do futebol estadual. Os reflexos da reação de parte da torcida no transporte coletivo da região são preocupação frequente.
Em Curitiba e Região Metropolitana, os dias de jogos de futebol são a grande apreensão de quem atua na área de transporte e de passageiros, enquanto em outras capitais a preocupação com o vandalismo no transporte coletivo ganha contornos de prevenção ao terrorismo. Em Natal e região, por exemplo, entre o final de julho e início de agosto, 104 ônibus foram incendiados, sem contar outros 1.302 veículos queimados desde 2013 pelo Brasil, segundo levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
“Temos visto torcidas fazerem grandes ameaças ao usuário, aquela correria para invadir estação-tubo e os ônibus. Trazem um prejuízo enorme para a população e para o mobiliário urbano e para os equipamentos das empresas. Temos contado com ações da Polícia Militar e Guarda Municipal na contenção, mas temos visto o aumento do número de vandalismos nos ônibus ocorrer cada vez mais ano a ano”, diz o diretor executivo do Setransp, Luiz Alberto Lenz César.