No próximo dia 17 de maio é o Dia Mundial da Reciclagem, mas o Brasil ainda está longe de ter o que comemorar nessa data. Com uma produção anual estimada em 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos, apenas 4% desse volume é reaproveitado, segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA). Para mudar esse cenário, a Composta +, startup que atua com serviços de coleta e compostagem de resíduos orgânicos, em parceria com a Gazeta do Povo, reuniu profissionais e gestores ambientais de diversas indústrias localizadas na Região Metropolitana de Curitiba para conversar sobre as estratégias de Como Incorporar a Compostagem na Agenda ESG e Ampliar as Práticas Sustentáveis no Ambiente Empresarial.
O evento, realizado na sede da Gazeta do Povo, em Curitiba, na manhã da última quarta-feira (08), contou com a presença da professora Mariana Schuchovski, do biólogo Roger Willian Rosa da Silva, que trabalha com Gestão Ambiental na Enaex Brasil; do diretor de Novos Negócios da Composta +, Igor Oliveira; e do diretor comercial da startup, Ricardo Bruner.
Mariana – que é doutora em Ciências Florestais com ampla experiência nacional e internacional em Sustentabilidade, Pesquisa e Desenvolvimento e Manejo
Florestal e fundadora da Verde Floresta – fez uma apresentação sobre as iniciativas corporativas para minimizar o impacto ambiental, entre elas a compostagem, e como isso pode ser vinculado à agenda ESG.
Riscos Globais
A especialista apresentou os diferentes cenários climáticos desde 2009 e os relatórios de riscos globais para os próximos anos, segundo pesquisas recentes do Fórum Econômico Mundial. Mariana alertou para a necessidade de a sociedade adotar medidas urgentes para evitar que catástrofes climáticas – como a que foi registrada nos últimos dias no Rio Grande do Sul – se repitam em diversos pontos do planeta. “Em 2024, entre os dez maiores riscos globais identificados para a próxima década, cinco estão relacionados ao meio ambiente”, destacou.
Dentro da agenda ESG, Mariana listou diversas iniciativas que permitem às empresas colocar em prática para mudar esse cenário com poucos investimentos. Situações que vão desde a redução das emissões de gases de efeito estufa, gestão de resíduos, promoção da economia circular e implementação da compostagem dos resíduos orgânicos.
Segundo ela, a compostagem tem papel estratégico no contexto das mudanças climáticas. A especialista citou como exemplo as atividades agrícolas, agroindustriais e urbanas que geram grandes quantidades de resíduos orgânicos e que se tornam uma importante fonte de gases de efeito estufa para a atmosfera.
Mariana disse que algumas tecnologias são consideradas “mitigadoras” por reduzirem as emissões de gases de efeito estufa, como é o caso da compostagem. “A forma de disposição final ou tratamento desses resíduos é decisiva nesse processo”, explicou.
A Enaex Brasil – antiga Britanite, que atua na produção de explosivos e na prestação de serviços de fragmentação de rochas com sede em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba – é uma das empresas que adotou a compostagem de resíduos no refeitório da empresa.
Suporte Técnico
Roger Willian Rosa da Silva, que trabalha há 14 anos no setor de Gestão Ambiental da empresa, contou que o processo para implementação da compostagem foi simples e contou com o suporte da equipe técnica da Composta +, que hoje faz coletas diárias devido ao grande volume de resíduos produzidos.
Desde que o processo de compostagem foi adotado na unidade da Enaex em Quatro Barras, em março de 2023, 168 toneladas de resíduos orgânicos foram transformadas em adubo orgânico e deixaram de ser enviadas aos aterros sanitários. Outro saldo positivo dessa ação é redução na emissão de gases tóxicos. Com a compostagem, 266,45 toneladas de gás carbônico (CO2) deixaram de ser
lançadas na atmosfera, além de 18 mil sacos de lixo que deixaram de ser utilizados – no lugar dos sacos plásticos, é instalada uma nova lixeira onde é destinado o lixo orgânico, um recipiente de 50 litros, ou “bombona”, como é chamada.
O engenheiro químico, Igor Oliveira, sócio e diretor de novos negócios da Composta+, explicou que a modalidade adotada pela startup é a compostagem termofílica, que permite que diversos tipos de materiais orgânicos sejam descartados juntos – inclusive guardanapos, cítricos e outros. “A empresa não precisa se preocupar com isso, apenas fazer o descarte do que é orgânico do restante dos materiais. Na compostagem termofílica, os resíduos são intercalados com outros materiais secos, associado às altas temperaturas para produção do adubo”.
Oliveira destacou a importância do processo de compostagem para ampliar a vida útil dos aterros sanitários existentes no Brasil e reduzindo o impacto ambiental. “Hoje os aterros recebem de tudo. Grande parte do que está lá poderia ter sido reciclado ou transformado em outros itens”, comentou.
Resultados
Fundada em 2018, a Composta + atua visando à redução dos impactos ambientais e sociais junto a empresas de diversos segmentos, instituições e residências. Os resultados obtidos somente entre as empresas atendidas pela startup nesses últimos anos são bem representativos.
Do trabalho realizado com mais de 800 empresas e 550 residências, 9.615 toneladas de resíduos orgânicos deixaram de ser enviadas aos aterros sanitários e passaram pelo processo de compostagem; 5.576 toneladas de adubo orgânico foram produzidas; 15.249 toneladas de CO2 (gás carbônico) deixaram de ser emitidas e mais de 1 milhão de sacos plásticos deixaram de ser consumidos.