O mito de Minotauro abriu a Masterclass sobre Ética na Era Digital da Pós PUC Digital ministrada pelo professor Clóvis de Barros no final de novembro. Ações e consequências, a partir de uma inovação técnica bem-sucedida, é o ponto de partida da aula do jornalista, pesquisador e consultor em Ética da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para abordar a questão da técnica e das inovações para os alunos dos cursos digitais da pós-graduação da universidade.
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Professor dos cursos de Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness e Saúde Mental e Desenvolvimento Humano da PUCPR, Barros é professor livre-docente na área de Ética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e mestre em Science Politique pela Universite de Paris III (Sorbonne-Nouvelle) e Doutor em Ciências da Comunicação pela USP.
Barros lançou questionamentos sobre o valor da técnica nos dias atuais. “Ela está naquilo que se faz, que se pretende ou naquilo que se alcança? São possiblidades diferentes. Uma inovação técnica é boa em si? Ou valor imanente. Ela é boa para a pretensão de quem a usa, ou boa pela contabilidade da somatória de consequências que acarreta?”, pontuou o professor.
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Diante dessas reflexões, o professor observou que a técnica também parte de uma questão moral. Ou seja, princípios que se respeitam, conferindo dignidade à vida, ou à consciência moral.
Ele falou também do que a moral não é: o medo de ser expulso, de ter sua notoriedade enxovalhada nas redes sociais, levando os participantes a refletir sobre o que não leva em conta o olhar externo. “Portanto, a moral é aquilo que se faz ou se deixa de fazer por conta de um raciocínio de comportamento”.
De acordo com o professor, aquele que define norma para própria vida, impondo restrições, o faz em função de algo que entende como mais valioso do que ações de simples prazer pessoal. É essa autonomia, liberdade, que define a consciência. Porém, não é uma questão de preferência. A moral não é uma questão particular e sim situação de vida, necessidade de escolha, definição de comportamento, em princípios que são aplicados para vários casos.
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Citando Kant, e o livro Sobre a Moral, Barros destacou que o filósofo propõe dois conceitos: imperativo hipotético e imperativo categórico. No imperativo hipotético, sai-se da ideia de que na hipótese de alcançar um resultado, decide-se a melhor estratégia, com o fim dado e não discutido. “Na hipótese de querer emagrecer, coma mesmo. Não há o que discutir”, exemplificou.
Já no imperativo categórico, não há hipótese e sim deve-se respeitar absolutamente. Exige uma reflexão sobre os fins que se esperam da sociedade, da humanidade. Pressupõe que é um imperativo para todos por conta das consequências lógicas a alcançar. “Um indivíduo que é profissional da política deveria considerar sua trajetória, conduta, estratégia, projetos em função do bem comum. Não mentir é um imperativo categórico. Como um médico e um paciente em estágio terminal, considerando-se todas as situações complicadas pelas quais estão passando.”
Barros citou ainda Adorno e Horkheimer, dois teóricos da Escola de Frankfurt que falam em Dialética do Iluminismo que há dois tipos de racionalidade: instrumental e objetiva, sendo a razão instrumental a inteligência a serviço do aperfeiçoamento dos meios, ou a razão técnica. Já a razão objetiva é a que permite ao ser humano discernir onde quer chegar, o que quer fazer. “Esses dois autores denunciam a supremacia da racionalidade instrumental sobre a objetiva. Ou seja, a competência instrumental é mais aplaudida, melhor remunerada, do que a compreensão dos grandes fins da humanidade”, explicou.
O professor destacou que essa é a diferença entre metas e valores, pontos que valem, inclusive, para o mundo corporativo. A discussão é um dos destaques da teoria de Max Weber em diversas obras que Barros citou para falar de como se escolhe resultados e consciência.
Ele finalizou a masterclass apresentando a teoria de Heidegger, que define o mundo contemporâneo como o mundo da técnica. “De tamanha a fascinação pelo procedimento, pelo meio, por aquilo que é instrumental que nós não temos condição de definir a técnica em função de um projeto, pois a técnica segue como se tivesse uma vida própria. Educar para a razão objetiva, para uma vida não instrumental, dirá Heidegger: tarde demais. Não temos noção para onde estamos indo e, sobretudo, não temos mais condição de triar e avaliar criticamente a técnica em função de projeto de país e humanidade que deveriam norteá-la”, comentou o professor.
De acordo com Barros, essa teoria de Heidegger é atual pensando no desenvolvimento da inteligência artificial. “Até onde o homem conservará o controle sobre as iniciativas de Inteligência Artificial?”, provocou o filósofo.
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