Estafa, esgotamento, fadiga. Esses eram os termos antigos usados para se referir a uma pessoa psicologicamente cansada, com reflexos desse desgaste no funcionamento de seu organismo. Hoje esse quadro geralmente é diagnosticado como Síndrome de Burnout, que no início deste ano foi reconhecida como doença ocupacional e incluída na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Existem ainda inúmeros casos de depressão, ansiedade e outros distúrbios emocionais desencadeados pelo ritmo acelerado da famosa “Era da Informação” – ou “Era do Cansaço”.
Se antes a sociedade já se sentia sobrecarregada pelo acúmulo de tarefas, a múltipla jornada entre casa, trabalho, estudos e pouco tempo para lazer, hoje, com a hiperconectividade, o ambiente profissional, social e familiar ficou pouco delimitado.
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O Ministério da Saúde define a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional como “um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade”.
A área da Saúde pode ter conseguido conceituar o problema. O desafio agora está com a sociedade: empresas que precisam de profissionais resolutivos e, ao mesmo tempo, estão sujeitos a desenvolver esse ou outros problemas similares. Para a Justiça do Trabalho, o assunto também é novidade, obrigando advogados e o próprio judiciário a rever conceitos referentes à saúde mental dos trabalhadores.
HIPERCONECTIVIDADE
Em 2015, a população mundial gastava, em média, 6 horas e 20 minutos conectada. Em 2021 o tempo passou para 7 horas diárias. Seja para trabalho ou entretenimento, o brasileiro está no topo do ranking entre as populações mais conectadas do mundo, numa média diária de mais de 10 horas. Somente nas Filipinas a população fica mais tempo on-line. A conta é do relatório Digital Global Overview Report, realizado em parceria entre a Hootsuite e a We Are Social.
O uso excessivo do smartphone – e automaticamente a disponibilidade em tempo integral – são prejudiciais para a saúde mental. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), algo que pode criar problemas físicos, emocionais e sociais.
ANSIEDADE E DEPRESSÃO
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um alerta sobre o aumento dos casos de transtornos de ansiedade e depressão, destacando que isso impactaria o mundo corporativo em função dos afastamentos. A entidade ressaltou ainda a importância de as empresas adotarem iniciativas que promovam o bem-estar físico e psicológico de seus colaboradores.
O estudo da OMS estimou que os transtornos depressivos e de ansiedade geram perdas de produtividade estimadas em US$ 1 trilhão e que impactam diretamente a economia global.
Com a pandemia da Covid-19, os impactos na saúde mental dos trabalhadores de todo o mundo foram ainda mais prejudiciais. Só no Brasil, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, registrou 576 mil concessões de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais em 2020. Um aumento de 26% em relação ao ano anterior.
MINDFULNESS E NEUROCIÊNCIA
Se no meio corporativo e na vida em sociedade já não dá mais para abrir mão das vantagens proporcionadas pela tecnologia, é possível promover práticas que contribuam para lidar com o estresse e aumentar a produtividade. Empreendedores do Vale do Silício – entre eles Marc Benioff, CEO da Salesforce, Jack Dorsey, cofundador do Twitter, e Sergey Brin, cofundador do Google – incluíram o mindfulness em suas rotinas, prática milenar inspirada no budismo e no taoísmo.
O mindfulness é um estado mental caracterizado pela atenção plena nas atividades que estão sendo realizadas. Algo que exige treinamento para dar resultados. A exemplo das empresas norte-americanas, a técnica vem se difundindo entre adeptos e corporações em todo o mundo, inclusive no Brasil, buscando qualidade de vida sem abrir mão dos atrativos da vida moderna.
E os resultados do mindfulness despertaram o interesse de cientistas. Segundo a Associação Americana de Pesquisa em Mindfulness (AMRA, na sigla em inglês), em 2015 já existiam 624 pesquisas científicas sobre o tema. Para entender os impactos da prática, pesquisadores usam exames de neuroimagem, escalas psicológicas e avaliações neurobiológicas. Em resumo, a neurociência confirma os benefícios da técnica a partir da análise de quais regiões do cérebro humano são ativadas com a prática.
O mindfulness reduz os níveis de cortisol, hormônio de controle do estresse do corpo humano. A diminuição melhora a qualidade do sono e desacelera o processo de envelhecimento celular, além de impactar a resposta imunológica, os processos inflamatórios e a estrutura do tecido cerebral.
Pesquisadores da Universidade de Harvard identificaram que outro sinal dos efeitos do mindfulness no cérebro humano é o aumento no número de neurônios de determinadas regiões do órgão.
Além do embasamento científico, o resultado prático vem atraindo um número cada vez maior de adeptos desse tipo de iniciativa para melhorar a produtividade, a concentração e a qualidade de vida.