Uma equipe de médicos chega ao local de um acidente automobilístico grave – um casal, ainda preso dentro do carro, precisa de atendimento de emergência. Logo fica claro para os médicos que a mulher foi a óbito, mas ainda é possível salvar o homem. O problema? No pânico do acidente, ele se recusa a ser tratado até saber o estado de saúde da esposa. Agora não é apenas o paciente que está em pânico, mas também os jovens médicos, já que eles nunca se depararam com uma situação como essa.
A ocorrência descrita acima infelizmente é bem comum na vida real. Mas, para o bem dos pacientes e dos médicos que os atendem, é também bastante encenada no Centro de Simulação Clínica da PUCPR, um local em que os estudantes de Medicina aprendem a lidar com situações quase reais. “A gente aprende ‘apanhando’”, explica Michel Herner, aluno do 12.º período de Medicina. “Muitas vezes a sala de aula só estimula o lado técnico, a gente acha que sabe até ser posto à prova.”
O Centro de Simulação Clínica existe desde 2013 e é talvez o melhor exemplo do novo foco que a PUCPR tem dado à aprendizagem ativa. Com 1,2 mil metros quadrados, salas cirúrgicas completas, cenários e manequins de última geração que simulam desde um simples choro a um parto normal, o Centro é único no Brasil com tal escala e abrangência.
E já que a ideia é acumular experiência, a PUCPR levou a proposta além e estabeleceu uma parceria do Centro com a graduação em Teatro da universidade, que disponibiliza alunos para atuar em simulações ainda mais reais. Os futuros atores têm assim a chance de ampliar seu repertório e “viver” situações extremas para seus personagens. “Faz muita diferença ter os atores, até para coisas que a gente não imagina, como o peso da maca que temos que carregar”, explica a estudante de medicina Raíssa Campos. Embora já tenha sido residente no Hospital Cajuru, ela ainda aponta o Centro de Simulação como vivência fundamental para a sua formação.
Não são apenas os futuros médicos que aprendem na prática. Alunos de Direito, por exemplo, têm um júri simulado como parte de sua avaliação no 7º período, e os demais podem participar como jurados. Em outros cursos, como o de Design Digital, os estudantes trabalham em projetos longos, que podem durar semestres inteiros, indo da criação ao gerenciamento de uma marca. “Senti um pouco de insegurança, já que é muito diferente do Ensino Médio, mas o professor apoia em todas as etapas. Para mim, que sou meio hiperativa, aprender na prática é muito bom” conta Rafaela Aparecida Silva, aluna do curso. Apesar de ainda estar no 3º período, ela já começou a encher o portfolio com material produzido em sala.
O mesmo acontece com os alunos de Comunicação, que contam com um laboratório que dispõe desde câmeras de cinema até salas lúdicas. Para Ana Rusycki, aluna do 7º período de Jornalismo, um sistema que coloca ênfase na proatividade do aluno só traz benefícios: “Chegamos na universidade meio perdidos, confiando demais no olhar do professor. Agora já desenvolvemos o nosso próprio olhar e o professor é um colega de trabalho”. Ela ressalta especialmente as aulas de tevê, em que parte da avaliação é desenvolver um programa próprio, com a professora auxiliando apenas na parte técnica e deixando a criatividade dos alunos fluir.
Foco no mercado de trabalho
Há dois anos, a PUCPR aposta em uma parceria com a Apple para atrair alunos que querem entrar no mercado de desenvolvimento de aplicativos. O BEPiD (Brazilian Educational Program for iOS Development) tem como base o challenge based learning, ou seja, a aprendizagem baseada em desafios. É difícil encontrar método mais prático que este, e é justamente o modelo que os alunos do programa querem: aquele que prepara para o mercado de trabalho.
Durante o curso, os professores propõem desafios que os alunos precisam resolver por conta própria – embora sempre com supervisão e o apoio necessário. Para desenvolver esses trabalhos, os alunos têm à disposição laboratórios e salas especiais para reuniões, conversas informais e até descanso.
O objetivo dos desafios é sempre algo que beneficie a comunidade. O aluno Gustavo Matias, por exemplo, desenvolveu (e publicou na AppStore) um aplicativo de acessibilidade para os deficientes físicos em Curitiba, e já está envolvido em outros projetos. Este multitasking é comum entre os participantes do programa. Felipe de Lara, outro aluno do BEPiD, também tem diversos projetos de aplicativos sendo desenvolvidos, incluindo parcerias com desenvolvedores fora do Brasil. “O aluno tem que se mexer. Os professores fazem as propostas, mas nós é que descobrimos como fazer. O que vale não é a nota, mas a aprendizagem”.