Devising 21st servirá também para inspirar professores: métodos de diversas instituições poderão ser adotados, adaptados e até aprimorados.| Foto: BigStock

“Que problemas do mundo te deixam acordado à noite? O aquecimento global? As altas taxas de criminalidade? Pois são estes problemas que os jovens de hoje vão ter que resolver”. A ideia pode não ser muito animadora, mas a professora Alenoush Saroyan, da Universidade McGill, do Canadá, acredita que uma revolução no ensino pode ajudar a encontrar soluções para esses problemas e preparar as novas gerações. São os tipos de questões que serão discutidas durante a Devising 21st Century Higher Education, conferência que acontece na PUCPR de 26 e 28 de julho.

O evento vai debater a aprendizagem ativa no ensino superior e traz a Curitiba educadores que estão fazendo a diferença e quebrando paradigmas no Brasil e no mundo. Se esta ideia parece muito alternativa ou exótica, basta saber que além da professora Saroyan, estarão presentes professores da Universidade de Harvard, ranqueada como a melhor do mundo atualmente e uma das líderes no movimento de aprendizagem ativa.

A necessidade da conferência para a comunidade da PUCPR foi notada por membros da equipe de Pró-Reitoria de Graduação, que perceberam que só com um evento “feito em casa” e com alta taxa de participação seria possível transformar a cultura da universidade e prepará-la para os desafios de um mundo em constante mudança. “Foi um desafio a que a Universidade se propôs”, explica a diretora de suporte à graduação da PUCPR, Cinthia Bittencourt Spricigo. “É um desafio também para os professores e para os alunos. Estamos mudando a cultura institucional.”

Entre os convidados, foram priorizados educadores que inspirem os professores e mostrem as grandes possibilidades da aprendizagem ativa. “Procuramos trazer os melhores profissionais, pessoas que já conhecíamos de outras formações ou que foram indicados por pessoas que nos inspiram. Queremos que os professores saiam do evento tendo sentindo na pele todas essas novas possibilidades”, resume Cinthia.

Talvez a voz mais extrema a participar do Devising seja também uma das mais interessantes. Trata-se de Alex Aberg Cobo, diretor das Escolas Minerva na América Latina, uma instituição com base nos Estados Unidos mas que não possui campus, salas de aulas ou provas finais. Os alunos da Minerva moram em sete cidades diferentes ao redor do mundo durante os quatro anos de graduação. Segundo Cobo, os alunos saem da universidade não apenas como profissionais de uma determinada área, mas cidadãos globais e futuros líderes.

A ideia de “inspirar” é tema constante também entre os participantes do Devising. Para Cobo, melhorar o ensino é melhorar a sociedade. “Queremos mostrar o que estamos fazendo. Os professores podem nos copiar, adaptar ou até aprimorar os nossos métodos”, afirma. O mesmo vale para Alenoush Saroyan, que já esteve na PUCPR em um evento anterior e agora volta para ressaltar a necessidade de educar “sobreviventes do século 21”, uma era em que o conteúdo se torna obsoleto tão rapidamente que não se consegue nem mesmo imaginar que problemas estes jovens enfrentarão no mercado de trabalho em 10 ou 20 anos.

Saiba mais sobre o Devising 21st em devising21.pucpr.br

Algumas técnicas para se tentar em sala

Para a Escolas Minerva, a principal função de um curso de graduação é a de formar cidadãos globais que sejam líderes e inovadores. Para isso, o importante é que os alunos e professores se perguntem as “big questions”, aquelas questões que, mesmo não tendo uma resposta clara, levam à reflexão e ação: é possível erradicar a fome no mundo? Ou criar máquinas capazes de pensar?

Para auxiliar os alunos a responder a essas perguntas a Minerva se utiliza de várias técnicas. Uma das principais é a flipped classroom ou sala de aula invertida: o aluno deve chegar para a aula preparado. Estima-se que, para cada hora de aula, o aluno invista duas horas de preparação. A aula em si serve para debates, quizzes, votações sobre diversos assuntos... o feedback do professor é constante e todas as aulas são gravadas para futura referência. Outro dos pilares da Minerva é o peer to peer instruction, ou seja, instrução de aluno para aluno. A premissa é a de que um aluno precisa dominar um assunto de maneira profunda para poder ensiná-lo a um de seus colegas.

Conselhos

Pedimos para Alex Aberg Cobo e Alenoush Saroyan darem algumas dicas para os educadores e estudantes que não puderem comparecer no Devising 21st Century Higher Education:

Alex Aberg Cobo

Professores:

Não desistam! Sei que é difícil e muitas vezes não há reconhecimento, mas um professor pode fazer a diferença. Mudar é difícil, mas é preciso mudar sempre. Foque em como os alunos aprendem mais do que em como você ensina.

Alunos:

Quando você tem 17 ou 18 anos, é difícil saber o que você quer, então esteja aberto. Siga suas paixões e interesses, mas vá atrás. Não adianta ficar sentado esperando. Tente estudar fora se for possível, existem várias bolsas de estudo pelo mundo. Quem sabe nas Escolas Minerva?

Alenoush Saroyan

Professores:

Experimente o “backwards design” uma técnica de planejamento que começa pelo fim. Pergunte: o que eu espero dos alunos no final desse processo? O que serviria como prova de que eles atingiram esse objetivo? Como eu faço isso acontecer? Esta técnica não muda, mas as respostas a essas perguntas mudam constantemente.

Alunos:

Você quer se tornar competitivo? Então vai precisar de mais do que conteúdo. O conteúdo logo se torna obsoleto, só mostra que você é bom em decorar coisas e não necessariamente em criar conhecimento e se engajar. Para competir você deve se tornar um criador.